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O trem das cinco e quarenta estava abarrotado. Parecia ridículo que um trem estivesse assim tão cheio àquela hora da manhã. Me sentei, já com calor apesar do ar fresco do início do dia, murmurando um pedido de desculpas para uma mulher que precisou retirar a jaqueta do assento. O homem de terno que tinha subido no vagão atrás de mim havia se enfiado em uma brecha entre os passageiros do outro lado e logo abriu o jornal, alheio à mulher cuja revista ele em parte cobriu.

Aquele definitivamente não era o trajeto que eu costumava fazer para chegar à Red House: eu passara a noite na casa dos meus pais após um encontro com uns clientes — um casal de meia-idade que possuía uma loja em Hancheu. Estava levando no bolso do blazer um número satisfatório de cartões de visitas de clientes ricos; estranhamente, haviam me parabenizado pela minha aparência e principalmente, pelo meu trabalho, então sugeriram reuniões futuras e possíveis serviços, o que deixou Nan Feng em êxtase. Mas o vinho branco barato que circulara em abundância — proveniente da comemoração da minha família pelo meu suposto sucesso —, naquele momento fazia meu estômago revirar, e desejei, por um instante, que eu houvesse arrumado tempo para tomar café da manhã.

Eu não costumava beber tanto e era difícil controlar o consumo em eventos em que minha taça era completada o tempo todo por Xue Yang enquanto estava distraído com a conversa.

Apertei com força o copo de isopor com café escaldante e afastando o cabelo do rosto, dei um olhada na agenda, prometendo a mim mesmo que em algum momento daquele dia iria encontrar um pouquinho mais do que meia hora para clarear as ideias. A agenda deveria ter duas horas reservadas para a academia. Eu deveria tirar uma hora de almoço. Afinal, era como mamãe sempre dizia, me repreendendo: eu tinha que cuidar de mim mesmo.

Todavia, no momento, estava escrito:

9:00 ir para a agência mais tarde hoje.

• Nutricionista. Quan Yi Zhen me passou a dieta errada?

• Sr. Huan! Ver com Nan Feng se temos que nos encontrar em Tianjin ou Handan.

• Song Lan — as fotos da coleção de verão da semana passada não deviam estar no meu portfólio? FALAR COM ELE HOJE.

Cada página, pelo menos durante as duas semanas seguintes, era uma série de listas feitas e refeitas de modo incansável e infinito. Quase todos os meus colegas da agência haviam migrado para os eletrônicos, que usavam para organizar a vida, mas descobri que preferia a simplicidade da caneta e do papel, embora Nan Feng reclamasse que minhas agendas eram ilegíveis.

Tomei um gole do café, me dei conta de que dia era e meu rosto se contorceu em uma careta. Adicionei:

• atraso/desculpas à Xie Lian — terapia em grupo.

O trem sacudia em direção a região turística, o terreno plano da região do Bund se transformando nos arredores cinza-azulados e industriais da cidade. Permaneci com os olhos fixos nos meus papéis, esforçando-me para me concentrar neles. Estava de frente para uma mulher que parecia achar normal comer um hambúrguer com queijo extra no café da manhã. Suspirei. O dia seria brutalmente quente: o calor penetrava o vagão de trem, transferido e intensificado pelos corpos ali presentes.

Me recostei no assento e fechei os olhos, desejando ser capaz de dormir em trens. Então abri-os ao ouvir o celular tocar. Remexi na bolsa e encontrei o aparelho entre a carteira e um livro. Uma mensagem de texto pipocou na tela:

Haverá uma reunião com os agentes hoje. Não precisa estar na agência às 9h :)
Nan Feng.

Pensei um pouco antes de responder:

The fashion of love _ 爱的时尚 _ YizhanOnde histórias criam vida. Descubra agora