Capítulo 59

946 66 78
                                    

Karina

Eu nunca mais havia sentido o terror que é passar por uma invasão, o medo de perder pessoas conhecidas, o medo de acontecer alguma tragédia, a carnificina, o choro das famílias, os gritos desesperados das mães, é puro terror.

Depois daquele dia, conversei com o Satã e convoquei o Júnior e o Lukas pra fazer parte da minha segurança. Eu os aguardava em meu apartamento, todos os quatro. Eu teria um dia movimentado hoje, por isso seria um belo treinamento para eles aprenderem a conviver juntos entre si.

Minha campainha tocou e abri a porta vendo os quatro, todos de calça jeans e blusa de manga, com relógio, anéis, corrente, tão lindinhos.

Karina: Bom dia.

Todos me cumprimentaram de volta e pedi pra eles entrarem e tomarem café da manhã comigo.

Júnior: Carai, isso é tudo pra gente? Se todo dia for assim, o bagui vai ser bom demais.

Karina: Eu gosto de comer com meus seguranças, particularmente prefiro almoçar com vocês, porque de manhã é meio corrido.

Sentamos à mesa e começamos a comer.

Karina: Como eu já disse antes e reforçando, venham sempre de calça jeans, a não ser que eu diga pra virem de outra forma. Sempre costumo dizer o horário que é pra vocês estarem aqui no dia anterior. Como ontem à noite liguei pra vocês e disse que era pra estarem aqui hoje às 7h30.

Lukas: Certo.

Karina: Isso eu acredito que já saibam, mas eu costumo frequentar muitos locais onde pessoas mais influentes vão, ou seja, onde tem riquinhos esnobes. Então, por mais que a gente seja favelado, não podemos passar a visão errada da favela pra eles.

Ricardo: Muitas vezes que a gente acompanhou a patroa, teve gente que olhou pra nós de cima a baixo, mas a gente não retrucou, continuamo na postura.

Karina: Na minha frente eu não deixo passar, ainda mais se esnobar meus meninos, os olhares eu relevo, mas piadinhas e até comentários que ofendam, eu revido. Com classe, mas revido.

Júnior: Então nós vai ter que falar direito?

Lukas: Nós vamos, animal.

Júnior: Não vem tirar comigo não que tu também fala errado, cuzão.

Lukas: Eu-

Karina: Meninos! ﹘ interrompo antes que comecem. ﹘ Eu prefiro que vocês façam pose de bandido mal, caladão, fechadão e se caso eu perguntar algo, vocês me respondem. Mas isso se aplica quando estivermos nesses ambientes, mas se caso for num dia a dia, em um local mais tranquilo, vocês podem ficar à vontade.

Lukas: Resumindo, na frente dos riquinho é só ficar de bico fechado, a não ser que você fale com a gente. E quando a gente tiver no meio do povão é mec.

Karina: Isso. E ah, outra coisa que eu esqueci de dizer, haverá momentos e até eventos que vocês precisarão usar roupa social. Tipo calça, sapato, terno e gravata.

Júnior: Caralho, quando for pra se vestir assim vou me sentir pique naqueles filmes de máfia. Devo ficar mó lindão de terno.

Karina: Homem de terno é outro patamar. Mas enfim, creio que seja só isso. O Ricardo e o Erick passarão mais detalhes para vocês ao decorrer da semana. Por último, sei que quando eu tinha apenas o Ricardo e o Erick, não precisava ter ninguém à frente deles, porque eram apenas dois, mas agora que são quatro, eu decidi que o Ricardo ficará responsável por isso.

Alma de Pipa (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora