30 - Eu... eu sou seu amigo.

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POV Brenda

Acordei com os braços pendurados para cima, minha visão ainda esta embaçada e minha cabeça pesada. Ainda parece que eu estou alucinando e sinceramente, se vocês entenderem qualquer coisa que estiver acontecendo me digam porque não tenho ideia.

Mas voltando, parece que me mudaram de lugar, e eu estou agora em um quarto com uma cômoda no canto com o que me parece drogas ou remédios, que seja, são comprimidos. Tem uma janela acima da minha cabeça, por onde entra raios de sol iluminando as paredes sujas e gastas, além da porta de ferro enferrujado.A única coisa que me prende são as abraçadeiras junto a correntes que esticam meus braços acima da minha cabeça, me inclino para frente puxando elas.

E de repente estoura uma música no meu ouvido direito, mas apenas no direito. Se eu inclinar a cabeça o suficiente para que o braço consiga tapar por completo o ouvido, o som se dissipa. Mas assim que eu tiro, o som volta. Não consigo identificar a música ao certo, mas de fundo tem o som do mar, das ondas batendo, de pessoas conversando e isso é uma sirene de policia? Tampo o ouvido no braço, mas infelizmente esse som era apenas no meu ouvido. O som parece aumentar a cada segundo, e mesmo que me esforce ele não para, bato a cabeça contra meu braço e ele não para, agora nem mesmo tampa-lo ajuda. Forço a braçadeira na tentativa de soltar minha mão para tampar meus ouvidos, mas apenas me machuco. O som está prestes a estourar meu tímpano, fecho os olhos tentando suportar o máximo de dor.

Mas o som é abafado com mãos fechando meu ouvido.

-Tá tudo bem? - Abro os olhos e eu estou em uma praia, várias pessoas em volta, música tocando e de longe um carro da policial de ronda diária. Atordoada olho pra frente e vejo as sardas na pele queimada e os olhos verdes, Caio, o mais realista possível. E percebo que o efeito seja lá do que me deram não passou e eu ainda alucino.

-Não. Eu não podia estar aqui, você não é real, você morreu, por minha causa você morreu. Eu tentei te salvar mas eu vi seu coração parar. Eu não posso enlouquecer, por que minhas mãos estão soltas? - Pressiono meus pulsos livres. - Eu preciso voltar. O que está acontecendo comigo? - Ergo o olhar e ele me encara.

-É meu pai? - Na minha lembrança isso não acontecia. Por que parece que ele tá aqui? - Calma, sua cabeça vai te levar pra outro lugar, mas você tem que se manter aqui. Jorge sob efeito de droga e igual criança, você consegue enganá-lo da maneira que for. Jogue o jogo dele.- Mesmo sabendo que é uma especie da alucinação, olho atenta pra ele.  -Ver você brilhar me encheu de satisfação. - A última coisa que vejo é seu sorriso, porque em seguida caio com minha visão fica preta.

Totalmente embaçado vejo eu de volta na sala e alguém me solta, mas antes que eu faça qualquer movimento.

Vejo minha mãe, a primeira, quando eu tinha por volta de 10 anos. E estou na minha casa de infância sentada no chão, ela me entrega uma sacola de Mc Donald 's, sinceramente, não tenho noção de quanto trabalhou para conseguir. Ouço estrondos, parecia sons de tiros, minha mãe se levanta enquanto eu abro para espiar o que tem dentro da sacola. Ela espia pela janela, e começa a vir até mim. Mas nessa fração de minutos, a porta é escancarada, ouço sequências altas dos tiros. Dessa vez eu não tenho controle das minhas ações como na lembrança anterior, agora eu apenas estou revivendo sem poder fazer nada. Ergo o olhar pra minha mãe iluminada pela lâmpada fraca, ela sorri com os olhos lacrimejados, e apenas quando eu ouço passos acelerados se afastando junto com o barulho dos fuzis dos homens fardados, ela cai. Engatinho rápido até ela, e tento entender o que aconteceu. Mas ela puxa meu rosto para passar os últimos segundos me olhando.

-Desculpa por te colocar em um mundo tão cruel e agora estar te abandonando. O mundo não merece você, então prove isso e não deixe que a mesa vire e mostre que você é a louca e corrompida por causa de um passado triste. Você é a melhor versão da pessoa que sobreviveu no caos que eu te coloquei.

Entre nós dois I ARON PIPERWhere stories live. Discover now