25 - Viu? Eu só faço bem pra você

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Nos apenas corremos, pulamos pro chão, o outro homem que estava na parte de baixo quase nos captura enquanto passavamos pelo portão que causou um corte superficial, mas ardido na minha mão direita.

Subimos na moto, esquecendo totalmente dos capacetes nos guidões que Caio segurava com força, enquanto tentava dar a partida freneticamente. Quando ele consegue, acelera sem precedentes, olho para trás vendo o homem parando de correr e nos olhando indo embora.

Depois da tensão ter ido embora. Rimos sentados no meio fio da rua perto da casa de Caio, comemos um daqueles cachorros quentes cheio de mistura, tenho certeza que eles pegam tudo que acham e colocam aqui dentro. Foi difícil começar a gostar, mas ele me fez pegar o gosto. Caio termina o dele antes de mim, joga o plástico em um lixo próximo e volta a sentar ao meu lado. Enquanto termino, vejo de canto de olho, ele sorrindo pra mim, e posso jurar por um momento que seus olhos estão lacrimejados, mas no momento que eu me viro, ele disfarça.

-O que foi? - Pergunto limpando minha boca com o dorso da mão.

-Nada... é só que, por favor, não muda. - Não entendo.

-Oi?

-Você ta comendo, ta sorrindo. Não muda.

-Claro, depois de quase ser presa, tem que comemorar por estar aqui livre.

-Viu? Eu só faço bem pra você. - Sorrimos, mas sabíamos do peso das palavras que ele acabou de falar. Quando termino, jogo o plástico no lixo, e volto para onde estávamos. Caio limpa uma parte do meu queixo que está sujo e coloca o capacete.

-Você vai nos levar. - Encaro ele, vendo se era sério.

-A gente já não fez muita loucura?

-Eu te ajudo. - Esse garoto me faz viver todo dia a frase "só se vive uma vez", e essa é a parte que eu mais gosto, ele me faz sentir viva, sem ser só amor, mas sentir o coração batendo de verdade, os pulmões respirando, ele me faz viver a vida, e não de maneira ruim, mas sim mostrando o melhor, sempre.

Subo na moto, segurando firme o guidão, ele sobe na garupa e solta o pedal, me fazendo levar um susto, mas o reflexo me faz por o pé no chão, antes da moto cair.

-Ta, você vai girar a chave. - Olho para baixo e vejo a chave já na ignição. - E depois é só sair.

Giro a chave, e ouço o barulho do motor. Giro o guidão para frente, e a moto começa a andar fazendo zigue-zague, até que consigo andar em linha reta, mas a velocidade é lenta.

-Pronto, já pode até tirar carteira. - Disse Caio em meu ouvido, esticando as mãos até o guidão e colocando sobre a minha. Em seguida, ele gira o guidão para frente, aumentando a velocidade da moto, e sinceramente por um segundo não caímos com tudo no chão.

Chegamos em alguns minutos até a casa de Caio, quando entramos a casa está vazia, isso pode parecer algo bom para dois jovens, mas não era.
Maicon, irmão mais velho de Caio estava fora do país, enquanto o irmão gêmeo de Maicon e também irmão de Caio, Charles, virava noites tendo o máximo de empregos que ele podia, para conseguir sair da casa. E claro, se seu pai não estava em casa, só existe mais uma única opção.

Caio tenta ignorar esse fato, deixa os capacetes sobre a mesa de jantar. A casa dele era simples, 3 quartos, sendo um deles o antigo local de trabalho de seu pai, uma sala, e a cozinha com a mesa, claro além dos banheiros. E um pequeno jardim, que ele plantava flores.

Nos mergulhamos na noite, que até perdemos tempo, não lembro momento ao certo, mas o sol já estava nascendo, quando fomos para sala, deitamos no sofá e dormimos. Acordei com a porta abrindo, era Charles. Levanto devagar para não acordar o Caio.

-Eai cunhada. - Faço um cumprimento com a mão, ainda sonolenta. - Já vai?

-Vou ver minha mãe. - Digo baixo. - Fala pro Caio não fazer drama, já que eu não abandonei ele. - Falo indo até a porta.

-Não quer uma carona? Parece que você não dormiu quase nada. - Ele diz e olho pro relógio marcada 6:00

-Provavelmente 30 minutos, no máximo. Mas não precisa obrigada. - Digo saindo pela porta e fechando a mesma com cuidado.

Tenho que andar um pouco até o primeiro ponto de ônibus. Por causa do horário, tenho que ir de pé, mas quase durmo. Sendo que ainda tenho que andar umas 2 quadras até chegar em casa. Destranquei a porta, e pelo silêncio, ela ainda dormia. Fui pegar algo pra comer, e em seguida ia cair na cama.

Enquanto preparava um pão com os olhos quase caindo e fazendo uma bagunça na bancada da cozinha, minha mãe apareceu arrastando os pés e bocejando.

-Você chegou. - Disse ela, sorrio levantando o olhar pra ela.

-E inteira. - Digo enquanto ela vem até meu lado e deu um beijo na minha bochecha.

-Obrigado.

-Pelo que?

-Tudo que você me proporcionou.

-Você que me salvou, quem adotaria uma adolecente de 14 anos rebelde, que tinha histórico de fugas!? - Digo

-Não desista, minha menina. A vida é difícil, ela machuca, mas ela também deixa brechas para escolhas. Esse garoto fez você voltar a viver e seus olhos brilharem... Te amo. - Disse ela voltando pro quarto em seguida. Sorrio e penso na saudade que ela vai fazer quando a hora dela chegar.

Como o pão, deixando para limpar o que eu sujei depois, e vou até meu quarto, me jogando na cama e apagando quase no mesmo segundo.

Quando acordo, a luz que entra pela janela me cega. Me sento e esfrego os olhos, minha bexiga está implorando, então eu me levanto e vou até o banheiro.

Antes que eu voltasse pro quarto, vou procurar meu celular pra saber que horas são. Porque estranho a falta de movimentação da minha mãe, que mesmo doente, não parava quieta. Encontro ele na bancada da cozinha, ainda suja, ligo o celular e vejo que são 2 da tarde, mas não tinha panela com comida ou algo diferente de quando eu cheguei. Os tenis que eu larguei logo que entrei, estavam posicionados da mesma maneira. O controle da TV em cima do painel, ainda continuava ali, a mesma coisa com a coberta que fica na poltrona dela.
Será que ela ficou me esperando de noite, e foi dormir tarde? Eu já falei pra ela não fazer isso. Vou até seu quarto, e vejo ela deitada na cama, dormindo. Me aproximo dela, e me abaixo ao seu lado, mas percebo que ela não tá dormindo, não mais. Lágrimas silenciosas caem dos meus olhos enquanto seguro sua mão gelada e busco diversas vezes seu pulso. "Tinha que acontecer, a sua morte já tinha acontecido antes mesmo do seu coração parar.", tento manter esse pensamento.
Pego o telefone e faço o que já estava programado caso isso acontecesse, quando termino as ligações, vou preparar sua roupa, mas vejo uma muda de roupa dobrada em cima da cabeceira. Ela sabia, e nesse momento eu perco o controle das lágrimas que caem dos meus olhos.

Eu to fazendo vocês sofrerem, deixo pular pra daqui alguns meses, quando a história muda radicalmente.

Entre nós dois I ARON PIPERWhere stories live. Discover now