10 - ... me desculpa.

605 29 1
                                    

Os policiais corriam atras de mim, ouvi quatro tiros em sequência, e no quinto... merda! Meu braço, tinha levado um tiro de raspão. Escalei e comecei a pular os tetos da casa, e quando consegui despistar eles, cheguei na casa de Kiko, bati na porta e abri. Kiko estava escondido atrás do sofá junto com Aron que parecia mais assustado que nunca.

-Brenda! - Ele disse meu nome com alívio e levantou para me abraçar. Quando viu meu braço. - O que aconteceu?

-Eu estou bem. Vamos embora daqui de uma vez. - Disse e Aron levantou.

Saímos andando de maneira furtiva até conseguir subir pelos telhados, quando nos aproximamos da quadra. Ouvimos passos de policiais correndo, congelamos, eu abaixei devagar e puxei eles para se abaixarem também. Os 4 policiais estavam perto da entrada da quadra, quando um deles virou o rosto e eu reconheci Tenente Garcia, esse filho da puta foi solto, eu me aproximei da beirada do telhado, pois não acreditava no que via. Kiko segurou meu punho.

-Vamos meter o pé! Ele não vale a pena, você não pode fazer nada. - Engoli meu orgulho até o momento que eu vi JP descer furtivamente uma escada ao lado dos policiais. Cutuquei o Kiko e mostrei a eles. Kiko balançou a cabeça.

-Vão para o meu carro. Tá na saída 4 e não saiam de lá por nada. - Kiko balançava a cabeça.

-Não, você não vai fazer isso.

-Vocês tem família de sangue, eu não.

-Idai, você tem milhares de pessoas que te amam.

-Vai ate a porra daquele carro, agora. - Disse séria, e Kiko obedeceu e foi junto com Aron. Respirei fundo e antes que JP pudesse dar o último passo que faria os policiais virem ele, eu assobiei o mais alto possível e pulei do telhado pro chão, os olhares deles desviaram para mim. Os olhos do Tenente Garcia se fixaram em mim.

-Garcia, o circo ta aberto. - Mostrei os dedos do meio para ele. - Espero que morra com o próprio veneno. - Gritei e eles começaram a vir até mim, já que a distância deles era longe demais para acertar. Eles passaram pelo JP e não o viram, mas nós nos olhamos. Porém ele não aceitou a minha ajuda, e passou pelo meio da quadra e correu comigo.

-Corre na frente! Eles não vão hesitar em atirar. - E ele tava certo, porque no momento que ficamos na mesma reta, eles começaram a atirar. Mas uma de raspão em mim, agora na perna, eu calambei, mas não cai.

Só percebi que a gente tava correndo sem rota quando paramos em um beco sem saída e não tinha jeito de voltar, eu e JP tentamos nos esconder no que tínhamos à disposição um daquelas latão de lixo trancado,algumas caixas e 1 pneu. JP se escondeu atrás das caixas e quando eu vou me esconder atrás do lixo, um arame enroscou no meu braço e vez um rasgo no mesmo, mas engulo o grito de dor, pois os policiais já estão no beco.

-Brenda, Brenda. Eu vou fazer questão de acabar com você. - Tenente Garcia dizia com aquela voz asquerosa dele. - Você não tem para onde fugir, já está morta, igual sua mãe. - Ele queria tocar na minha ferida.

Quando olhei para JP, ele tinha uma arma na mão. Eu balancei a cabeça, seria uma pistola contra 4 fuzis, nunca que ia dar certo. Ele me lançou um olhar acolhedor e levantou. Depois disso só se ouvia tiros, JP não deslizou em nenhum momento, o corpo se manteve firme até a última bala dos policiais ser liberada, policiais cujo recuaram morro abaixo depois de receber alguma chamada no Walkie Talkie.

No momento que eles saíram, JP caiu, corri até ele e o virei de barriga para cima, a barriga dele estava alvejada e seu braço horrível de se ver. Pensei rápido, coloquei ele nas minhas costas e corri morro abaixo.

-Me... me desculpa, BB. Eu fui muito babaca, desculpa. 

-Você não tem que pedir desculpa. Todo mundo erra, e você também já me ajudou bastante. Eu só tenho que agradecer. - Respondi ofegante correndo morro abaixo.

-Promete que vai cuidar da Vó Nena. - Ele disse com a voz fraca.

-Você vai estar aqui para fazer isso. - Eu disse e ouvi sua risada fraca, senti algo molhado em meu ombro onde a cabeça dele estava apoiada, ele estava chorando.

Quando cheguei na saída 4, os policiais não estavam lá. Corri até o carro, Kiko estava do lado de fora. Olhou assustado para cena.

-Dirige até o hospital mais próximo. - Disse e ele parecia apavorado.

Coloquei JP no banco de trás onde estava Fefe que entrou em choque. As mãos de Kiko tremiam enquanto ligava o carro, já Aron parecia sedado, já que não se mexia e evitava ao máximo olhar para outro lugar a não ser para frente. A blusa de JP já estava encharcada de sangue, não conseguia estancar o sangue que era demais, precisava de algo para ajudar, tirei minha blusa e amarrei no braço dele para tentar estancar o sangramento, ate que ajudou, pelo menos um pouco.

-Fica aqui! Tem que se manter vivo. - Disse para JP que mal conseguia abrir os olhos.

-Eu... eu não consigo mais. - Ele disse fraco.

-Não, você ter que ficar aqui de novo... para a gente ir surfar junto de novo e levar uma bronca dos salva-vidas ou ser queimado por água-viva. - Dizia com uma mão em seu rosto e outra precionando o tecido da camisa contra o sangue. - Conseguie se lembra quando tínhamos uns 12 anos e sua avó ficou brava porque os salva-vidas expulsaram a gente da praia, porque estávamos tentando vender a areia da propria praia dizendo que aquela areia era importada e melhor para brincar. - Nos sorrimos, porem também choravamos. - Ou quando no carnaval, você apareceu com um carrinho de bebida e trocou bebida por beijo, e ate chegou aparecer na TV. Você precisa estar aqui para fazer isso comigo de novo, eu preciso de você aqui para bater nos babacas que me importunam, ou para descolar desconto nos bares e restaurantes. Você não pode ir embora.

-Eu sempre vou estar com vocês. - Disse fraco e sorrindo. - Minha alma de moleque imaturo nunca vai morrer, sempre vai estar no campinho jogando bola ou no mar surfando, mas meu corpo tem que ir, você mais que ninguém sabe que não escolhemos o destino.

-Não, você não pode. - Eu chorava. 

-Eu tenho que ir, estou feliz de ver você bem. - Ele puxou minha cabeça e deu um beijo na minha testa. - Fica bem, BB! Prometo pedir pra Deus não deixar ninguém quebrar seu coração. E se acontecer eu volto em forma de espirito para meter umas porradas! - Ele riu seguida de uma tossida com sangue. - Obrigado por tudo que você fez por mim, nunca vou esquecer, não importar o lugar que esteja. - Ele disse e fechou os olhos. 

-Acelera a porra desse carro! - Gritei pra Kiko. - Fica aqui, caralho! - Disse para JP que já estava palido e com os olhos fechado. Em cerca de 5 minutos chegamos no hospital, coloquei JP nas costas e corri para dentro da emergência, os paramedicos colocaram ele em cima de uma maca, andavam com a maca e eu acompanhava ao lado, um médico se aproximou com um estetoscópio, colocou em diferentes lugares do peito repetidamente e em seguida pediu para os outros médicos pararem a maca.

-Porque vocês pararam? É pra salvar ele! - Gritei

-Me desculpa, mas ele... mas ele já morreu. - Disse o médico, senti minhas pernas ficaram moles, mas Kiko me segurou e me abraçou, mas por algum motivo eu não afundei minha cabeça em seu peito e comecei a chorar, apenas segurei com força sua blusa e olhei o corpo de JP imóvel na maca.

-Você tentou. - Ele disse e senti Aron colocar o casaco dele nas minhas costas. Nem lembrava o fato de estar sem blusa, só de sutiã.

Aquilo doía, porque desde de pequena eu não acreditava na morte, para mim ninguém morria, apenas continuava com sua vida e eu não só não via elas. E acho que isso fazia doer mais, porque todo mês, eu era obrigada a lembrar. Sempre foi assim, e nas que mais doeram, minha cabeça não consegue apagar nem a cena da morte, e eu sei que essa vai ser uma delas. E igual as outras perdas que já aconteceu comigo, eu preferia ter morrido no lugar deles.

Entre nós dois I ARON PIPERWhere stories live. Discover now