DOCE PLANO (REVISADO)

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Abri a porta do carro da Cuchillos e me joguei lá dentro de uma vez. Eu estava sangrando mais do que a outra vez, encarei ela que me olhou de cima em baixo e me deu um lenço pra me limpar. Passei a mão no meu rosto e eu queria muito acabar com ela, mas me controlei muito. Passei o pano em meu rosto e fazendo pressão sobre o corte da minha sobrancelha.

—Está bom pra você? Tô nos Profetas. Tive que tomar outra surra pra entrar nessa merda. Agora o que eu faço? -Ela me olhou.

—Primeiro sair do bairro dos Santos, vim para cá. As suas próximas ordens vai ser ficar de olho, eu creio que eles estão com algo que eu quero. -Cruzei meus braços.

—Espera! Você crê que eles tem algo? Você me enfiou nesse buraco, me fez perder o homem que eu amo por algo que você crê? Filha da pu... -Ela me cortou.

—Você se parece comigo, Ruby. E eu sei que é a mais qualificada pra fazer isso e eu tenho quase certeza que eles estão com o que eu quero. -Revirei meus olhos.

—O que eles tem? Pelo menos isso eu preciso saber.

—Não o que, quem... Meu marido, ele está desaparecido, até um tempo atrás morto. Mas o Spooky junto com o irmão acharam pistas de que os Profetas estão com ele. -Apertei a minha mão.

—Certo, eu te informo se eu descobrir algo. Por quanto tempo isso aqui vai ter que durar? -Ela deu risada.

—Depende de quanto tempo você vai conseguir achar as informações que eu preciso. Agora vai antes que desconfiem de algo. -Desci o carro.

Cuchillos usa as pessoas para fazer o trabalho sujo dela, mas isso é fato, ela é a chefe. Pela cara dela falando sobre o tal marido, ele não é tão importante pra ela. Talvez ela queira se livrar dele de verdade para terminar de assumir o poder, está na cara daquela mulher que ela ama o poder. Voltei para dentro da casa e me escorei na parede encarando o chefe dos profetas. Me sentei no sofá sentindo a dor forte na costela novamente, fechei meus olhos respirando fundo e tentando me controlar.

—Preciso de algum lugar pra ficar. -Abri os olhos encarando ele.

—Tem quartos livres aqui na casa, você pode ficar. E eu não te dei meus cumprimentos, bem vinda Profeta. -Ele sorriu.

—Ruby, meu nome é Ruby. -Eu balancei a cabeça e tentei me levantar.

—Eu sou o Black. Vem, eu te ajudo chegar no quarto.

Ele veio até mim e me pegou no colo, a dor era tão grande que eu estava jurando que quebrei as costelas dessa vez. Ele me levou para o quarto e me deitou na cama, saiu e minutos depois voltou com uma vasilha e um pano. Me sentou na cama e me deu alguns analgésico logo em seguida me ajudando a me apoiar na cama.

—Você precisa tomar um banho, tirar todo esse sangue. -Ele começou a puxar minha blusa.

—Para! Que droga! -Lágrimas de dor rolaram no meu rosto após ele tentar levantar meus braços.

—Não consegue levantar os braços? -Ele me encarou com uma certa preocupação.

—Não, a dor está muito forte. Me bateram nos mesmos lugares e eu ainda estava muito machucada. Acho que quebrei a costela, eu nunca senti toda essa dor. -Ele puxou uma faca do bolso e começou a rasgar minha blusa.

—Eu vou pegar roupas novas pra você, se quiser chamo uma das meninas pra te ajudar. -Ele foi se levantando.

Mas sinceramente, eu não queria nenhuma daquelas meninas perto de mim, não depois de ouvir elas falando que iam me matar. E até o momento, ele é a pessoa que eu preciso me aproximar para saber sobre o marido da Cuchillos.

—Não, tá tudo bem. Acho que nesse momento eu não quero elas perto de mim. -Ele terminou de rasgar e me levantou indo para o banheiro.

Ele prendeu meu cabelo e me ajudou a tirar o short que eu estava usando, fiquei só de roupas íntimas e eu percebia ele me encarando enquanto isso. Me apoiei na parede e fui me aproximando do chuveiro. A água gelada caiu sobre o meu corpo e eu quase não conseguia me manter em pé e quando eu pensei que ia cair, braços passaram em volta de mim. Fechei meus olhos respirando fundo e tentei me apoiar o máximo que eu conseguia nele, não conseguia levantar meus braços para quase nada, apenas me esfreguei e passei o sabonete nas partes do meu rosto e barriga para tirar o sangue. Minhas pernas ele ensaboou enquanto eu ficava escorada na parte e apoiando nas costas dele.

Quando ele se levantou ficando de frente para mim, era como se eu soubesse tudo que passava na mente dele, na real era quase evidente o quanto ele me queria. Aquela troca de olhares, a respiração desregulada... Eu já senti isso, mas não por ele. Por breves segundos pude perceber como ele era, realmente não tinha sequer notado no quanto ele é jovem, diria que era até mais novo que o Oscar. Ele tinha cabelos castanhos, os olhos azuis acizentados, o maxilar definido, uma boca meio carnuda. Ao voltar os meus pensamentos reparei nele dando um sorriso de lado e eu pisquei algumas vezes tentando trazer meu foco de volta a realidade.

—Vem, a água tá gelada e eu não quero que você fique doente. -Ele passou o braço em volta de mim e me ajudou a sair do banheiro me levando para o quarto.

Pegou uma toalha e enxugou minhas pernas e me entregou para enxugar o resto. Ouvimos batidas na porta e uma garota entrou, entregou algumas peças de roupas e saiu novamente. Antes de sair ela me encarou e reconheci ela, foi a única garota que não veio pra cima de mim lá.

—Ela é a Crystal, vai ajudar você nesses dias. Eu não posso ficar fazendo isso todos os dias. -Ele sorriu e me ajudou a colocar a blusa.

Depois de vestida ele me ajudou a deitar novamente e pegou o pano com a água quente que ela tinha trazido e colocou em cima da minha costela. Ele ajeitou meu travesseiro e se levantou me encarando e sorrindo.

—Descansa, eu volto mais tarde. -A dor já estava diminuindo por conta dos analgésicos.

—Os analgésicos já estão fazendo efeito, a dor já está diminuindo. -Ele sorriu.

—Não foi bem os analgésicos. Vai dormir! -Ele saiu.

Controlador... Ele parece ser o tipo de cara que quer tudo do jeito dele e pelo que eu ouvi dos Profetas, todos eles são assim. Peguei meu celular e ele estava lotado de mensagens, diversas mensagens da Katrina, do César, Monse, Brad e do Oscar... Diversas ligações perdidas e dois recados de voz. Apertei para ouvir o primeiro respirando fundo e me preparando para o que eu precisava ouvir.

"Ruby, eu não acredito que você fez isso. Como pode fazer isso? Eu tentei te dar o melhor de mim. Eu mudei por você, eu fiz tudo por você e você fez isso. O que você tem na cabeça? Acha que eles não vão te usar? Você ainda tem tempo de desistir e voltar pra casa. Me ouve e volta pra casa... Por favor!"

A voz de choro dele era nítida. Oscar, chorando por mim? Droga, Cuchillos. Droga, Oscar! Eu queria estar aí, mas eu não tenho opção, é pra proteger você. Com os olhos cheios de lágrimas apertei no segundo recado e senti meu coração se partir.

"Eu não posso insistir pra você voltar mais, os Santos já souberam. Cuchillos saiu daqui agora e deu a ordem da sua cabeça pra todos, eles estão loucos... Até mesmo comigo, eu te trouxe pra família e você nos traiu. E quer saber, talvez seja melhor assim. A gente se bate outra hora, Profeta."

Profeta... Eu queria muito te ligar e te contar todo o plano. Mas eu não posso, Oscar. E eu só espero que você possa me perdoar um dia por fazer isso, mas eu prometo que esse plano vai acabar logo logo e eu vou te contar tudo isso. Mas no momento eu preciso voltar a ficar forte pra colocar tudo em ação. Eu só sei de uma coisa, estou fazendo isso por você!

Os donos da rua | OSCAR DIAZ Onde as histórias ganham vida. Descobre agora