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Quarta-feira.
14:37h.
Briana Narrando.

Nesse momento estou na sala do Sr.Douglas, meu médico, meus pais estão comigo. Depois que meus pais voltaram, eles basicamente só falam o necessário comigo, sem brincadeiras ou conversas aleatórias, eles ainda estão decepcionado e não tem nada que eu possa fazer para mudar isso.

Desde segunda-feira a Scarlet tem sido uma amiga bem legal, ela encheu meu celular de memes e alguns print de fofoca, ela é doidinha e parece ser verdadeira.

O Sr.Douglas entra na sala com alguns papéis na mão, ele se senta na cadeira dele e começa a ler os documentos. Ele faz umas expressões de preocupação misturada com pena e depois olha pra gente.

Mari: E então?

Sr.Douglas: Infelizmente não tenho boas notícias.

Eu: Solta o verbo meu bom homem. –falei e meu pai me olha de cara feia.

Sr.Douglas: Encontramos uma massa na região do seu cérebro. –diz e amostra o exame com a imagem.– Como vocês podem ver, já está em um tamanho que é difícil de operar, por tanto teremos que fazer diversas cirurgias que a cada uma o risco vai aumentando.

Arthur: Tumor cerebral?

Sr.Douglas: Em uma fase avançada. Pela idade da paciente é difícil determinar o que fez avançar tanto.

Mari: Tem certeza que os exames estão certos?

Eu tenho um câncer no cérebro, esse é meu castigo por tantos erros. Ninguém sai ileso mundo, todos pagamos por algo e chegou a minha vez. Vender drogas, brincar com sentimentos alheio, ser testemunha de um crime e não dedurar o assassino, realmente mereço pagar tão caro assim por inconsequência de adolescente?

Eu: Tenho quanto tempo? – O médico olhou pra mim percebendo que eu só quero encerrar essa conversa.

Sr.Douglas: Três meses, no máximo seis. Podemos fazer cirurgias para evitar isso, mas serão arriscadas.

Mari: Isso não é justo, doutor. –diz chorando.

Arthur: Você só atrai coisas ruins, filha. –diz e me abraça.– Tem que ir rezar,meditar... o que achar melhor.

Eu: Quero minha casa.

Ele apenas concordou, me despedir do médico e fiquei esperando meus pais fora do consultório. Quando saíram, minha mãe me abraçou forte e chorou mais ainda, paga de forte mais é uma manteiga derretida. Meu pai abraçou a gente e depois fomos pro carro.

O caminho todo foi em silêncio, o único som foi o da pista e o choro baixinho da minha mãe, vê-la chorar que me da vontade de desmoronar mas preciso demonstrar que mesmo com essa notícia, estou bem.

Chegamos em casa, meu pai estacionou e entramos no nosso lar, a primeira coisa que me chama atenção é a mesa de jantar com uma torta de limão nela, os pratos de sobremesa estão arrumados todos em seu devido lugar, Trevor sai do banheiro secando as mãos na própria bermuda e quando vê a gente ele sorrir.

Trevor: Fiz como agradecimento por toda força que vocês estão me dando, como só sei fazer essa torta, decidir presenteá-lo assim. –diz e rir tímido.– Aliás, dei umas pesquisadas e consegui fazer vegana.

Por algum motivo, corri e abracei ele. Sou correspondida no mesmo segundo, me sinto confortável e segura aqui com ele.

Trevor: Como foi lá?

Eu: Que tal mais tarde no nosso lugar? Aí te conto. –ele confirma sorrindo.– Certo, bora comer? –pergunto e meus pais confirmam.

Comemos a torta, que a propósito ficou maravilhosa, e passamos o resto da tarde assistindo filmes, em alguns momentos minha mãe não aguentava e chorava, o que fez Trevor ficar desconfiado apesar de dizer que foi por causa do filme. Mas como acreditar que uma pessoa chora apenas porque uma personagem comprou o primeiro apartamento com o próprio dinheiro? Impossível de acreditar.

Agora estamos no nosso lugar, onde cometemos nosso primeiro erro juntos, na praia. O tempo da nossa amizade basicamente foi construído na praia, todos os momentos bons e ruins ditos um para o outro, foi aqui.

Trevor: Estou preocupado, não parei de pensar o dia todo no que pode ser.

Eu: Vou ser direta e espero que não me enche de perguntas, ok? –ele assente me olhando atentamente.– Nos meus exames encontraram uma massa grande pela região do meu cérebro, o que significa que estou com um tumor cerebral. Só tenho no máximo seis meses de vida.

Falei sem enrolar, direto ao ponto sem me preocupar em como isso talvez afetará ele, não posso mais perde tempo com enrolação.

Trevor: Você fará dezoito anos mês que vem, é nova demais pra isso. –diz alto e com raiva.

Eu: A vida é cheias de pegadinhas, parceiro. –falei e me levantei da areia indo em direção do mar.

Caminhei até onde a água pode bater no meu pé, sinto a brisa do mar e não consigo mais segurar o choro, as lágrimas percorrem o meu rosto como em um campeonato de corrida. Todos temos a certeza que um dia vamos morrer, mas quando temos um "prazo" de vida, as coisas mudam. Quero dizer, o que farei em seis meses? Ou até mesmo antes disso? É tempo o suficiente para aproveitar meus pais e amigos? Acho que nunca será.

Sinto a presença de Trevor e me viro para trás, assim como eu, ele está chorando. Em que momento ele passou a gostar tanto de mim ao ponto de chorar pela minha futura partida? Em que momento ele passou a ser importante na minha vida? Não entendo, por que tudo aconteceu tão rápido?

Mas preciso fazer uma coisa, não posso passar o pouco tempo que me resta sofrendo.

Eu: Vou viajar. –anunciei e ele me olha confuso.

R

eta final.

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