Não Somos Um Clichê

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No dia seguinte voltamos para a casa sem trocar uma palavra, definitivamente não tinha o que dizer além do simples bom dia que desejamos um para o outro ao acordar.

Quando chegamos em casa, todos estavam na sala, exceto Scarlet, eles estão conversando e rindo das bobagens que fizeram ontem.

Nathan: Olha só quem apareceu, o casal que abandona os amigos pra transar.

Eu: Cala a boca, Nathan. Cadê Scarlet?

Trevor: No quarto com dor de cabeça.

Raven: Cuidou da gente a noite toda, coitada.

Eu: Vou lá.

Antes de sair dei um meio sorriso para Martin que simplesmente ignorou e foi se juntar ao pessoal. Sigo para o quarto onde Scarlet está, bato na porta e escuto um entra baixo, abro a porta e a vejo deitada na cama lendo Mulherzinhas de Louisa May Alcott.

Eu: Ótima escolha de leitura. –ela sorri.– posso entrar?

Scarlet: A casa é sua. –diz e se senta.

Me aproximo da cama e me sento na mesma cruzando as pernas.

Scarlet: Como foi a noite? Usaram proteção pelo menos?

Eu: A gente só... se beijou, nada além disso. Aliás, obrigada por ter ficado com o pessoal.

Scarlet: Seria a sua primeira vez? –neguei com a cabeça. – Então qual foi o problema?

Eu: Ele só não quis.

Scarlet: Faz parte, mas quando acontecer, espero que seja incrível.

Eu: Obrigada. Sabia que o Nathan ainda gosta de você?

Scarlet: Não sou do tipo que perdoa traição, Briana.

Eu: A verdade sempre vem a tona e muitas vezes as coisas não são o que parece. –ela me olha desconfiada e faço questão de levar as mãos em sinal de rendimento.– Sou indefesa.

Scarlet: Ninguém é cem por cento indefesa.

Eu: Tá certo. Agora começa arrumar suas coisas, vamos embora daqui a pouco.

Ela não diz nada, apenas volta a ler o livro e eu saio do quarto indo para o meu.

Sou tão idiota e isso me irrita tanto.

Me jogo na cama e meu celular apita, mensagem de Christopher, Sinto saudades. Ele está namorando minha ex melhor amiga e acha que pode me mandar isso? Foi muito difícil perceber o quanto nosso relacionamento era problemático, e lembrar de tudo que ele fez comigo e me obrigou a fazer... sinto até nojo de mim.

Corro para o banheiro, não tranco a porta, não tirei a roupa de ontem, apenas liguei o chuveiro e entrei no box, ali mesmo enquanto a água escorria pelo meu corpo, eu vomitei. Tento colocar todas as lembranças pra fora, cada segundo com ele quero que escorra pelo ralo. Que simplesmente suma.

Trevor narrando.

Esse final de semana foi incrível e leve, diferente dos que estou acostumado, mas gostei bastante.

A única parada ruim que aconteceu foi ter recebido uma mensagem da minha mãe, pra resumir a situação, alguns meses atrás eu e Scarlet recebemos a mesma mensagem de um número "desconhecido"

Olá, filhos. Desculpe passar tanto tempo longe de vocês, não pude acompanhar as aventuras e descobertas da adolescência e vocês não tem a obrigação de me perdoar por esse erro que escolhi. Ser mãe nunca esteve nos meus planos, mas seu pai quis muito e eu o amava demais! Portanto, não tive como negar. Depois que o desgraçado foi embora, não tive outra opção a não ser ir atrás dele. Enfim, vou voltar em breve. Beijos.

Essa mensagem foi como um tiro no peito, ela não me queria e não quer, então não vou perdoá-la nunca. Quem dera se a Scarlet pensasse assim, aquela lá já é amiga da mulher que nos abandonou e ainda quer que eu seja, pois que espere sentada.

Depois da primeira mensagem, recebi várias outras que só respondi com um emoji de joinha. A mensagem dessa vez foi avisando que ela chega essa semana, infelizmente. E como ela não tem lugar pra ficar, vai ser na minha casa e advinha? Preciso de algum lugar pra ficar porque não vou dormir no mesmo teto que ela.

Raven: Escutou, Trevor? –grita no meu ouvido me fazendo esquecer dos problemas.– Tá viajando.

Eu: Pode falar.

Nathan: Vai ter vaga no carro? Temos que decidir com quem a Briana volta.

Martin: Quero ir direto pra casa, preciso ver minha avó.

Eu: Vou lá falar com ela.

Não espero eles responderem e sigo para o quarto dela, bato na porta duas vezes mas não tenho resposta, decido entrar e não encontro ela. Vejo a uma porta aberta e caminho até ela enquanto chamo pelo seu nome. Quando entro no cômodo, me assusto ao ver Briana sentada no box envolta de vômito e a água que cai sobre ela do chuveiro, por alguns segundos ela me olha e desvia o olhar.

Eu: O que aconteceu com você, menina?

Desligo o chuveiro e levanto ela que apenas me abraça, apesar do cheiro e aparência horrível que ela está, envolvo meus braços envolta de sua cintura. Uma vontade imensa de proteger e cuidar dela invade meu corpo.

Briana: Não conta pra ninguém.

Eu: Não vou.

Alguns minutos depois ela se afasta e vai até um espelho, onde começa a se encarar.

Briana: Sabia que já cheirei o que não devia. –diz me deixando surpreso e sem resposta.– Não era viciada, nem nada do tipo, mas enquanto estava debaixo da água só sentia vontade de fazer isso.

Penso em contar sobre mim, minha história e minhas experiências, mas esse não é o momento, o foco é ela.

Briana: Não precisa se preocupar pois não sou maluca de fazer isso por conta própria. Mas preciso de uma banho de verdade.

Por conta própria?

Eu: Vou tirar o vômito daqui, espera um pouco. –ela apenas assente com a cabeça e fica se encarando no espelho como se tivesse raiva de si mesma.

Liguei o chuveiro e tento tirar o máximo possível do vômito com o auxílio de um balde pequeno, enchia ele é jogava no chão do box. Fiz isso por alguns minutos e finalmente estava limpo.

Eu: Pronto. Vou deixar uma roupa separa na sua cama, se quiser posso ficar te esperando.

Briana: Não precisa. Mas se puder, me dê a carona de volta para casa.

Eu: Pode deixar.

Sair do banheiro e fecho a porta. Vou até a mochila dela, pego a primeira roupa que vejo, um vestido azul claro solto, pego a primeira calcinha que vejo também e coloco as duas peças na cama dela. Fecho a mochila e saio do quarto, vou direto para o meu pegar uma roupa, tenho que tirar esse cheiro de doente misturado com ressaca do dia seguinte.

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