Capítulo 1 - Parte 3 - Crianças + Elfos = Confusão

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A menina ficou perplexa com o interior da mala, pois já lera sobre este tipo de artefato mágico, mas nunca antes havia experimentado um.

- Que lugar lega! - disse Brigitte ao entrar em um enorme salão repleto de sofás, armários e estantes com diversos artefatos mágicos, como um relógio-biruta cujas estrelas giram ao contrário fazendo uns barulhinhos engraçados, frascos de vidro cujos conteúdos pingam para cima, dentre diversas outras coisas que ela jamais vira nem sequer ouviu falar.

Alguns armários tinham rodinhas, e mudavam de lugar entrei si, pedindo licença uns aos outros.

- Bem-vinda, minha senhora Coulomb. - disse um elfo doméstico para a garota, todo mal vestido, velho e cheio de rugas e verrugas - como foi o passeio na Dinamarca?

- Ótimo, obrigada. - respondeu ela, tentando disfarçar a aversão pelo tom de voz maligno da criatura.

- Sente-se aí, menina, e se comporte. Fofoca, venha cá. - disse a mulher oriental muito séria agora para ela e para o elfo, sem se apresentar a garota, e os dois se desviaram por um corredor, deixando a garota sozinha.

Brigitte supôs que a mulher era amiga da Bruxa Inglesa, e que lhe daria instruções, por causa daquela cordialidade entre as duas bruxas quando se viram, mas agora ficou meio que perdida, sem saber o que fazer.

Depois de muito tempo de silêncio e espera, ela começou a olhar mais atentamente para o recinto.

Inevitavelmente, ela ficou distraída e curiosa com tanta parafernália interessante ao redor, e a menina não resiste frente ao tédio de ficar sentada ali, e uma luzinha de dentro do único armário que não se movia lhe chamou a atenção, e ela foi ver do que se tratava.

Primeiro se esgueirou para o corredor por onde os dois saíram, e foi até o armário, que tinha portas de vidro, com inúmeros objetos e pergaminhos dentro. A pequena luz ficava atrás de um livro que não tinha título na capa. Ela retirou o livro com cuidado para ver o que havia atrás dele, que produzia aquela luz branca, mas não viu nada. Não havia mais nada entre o local em que estava o livro e o fundo do armário.

Curiosa, ela virou a contra-capa, e toda a luz do salão desapareceu. Ela via os feixes de luz das lâmpadas do recinto irem direto para dentro da contra-capa do livro.

- Obrigado, muito obrigado, minha jovem donzela! - disse o livro, mesmo sem ter boca, e usou a capa e a contra-capa como asas, saindo de suas mãos e voando por toda a residência, roubando as luzes de todos os recintos, um por um, deixando tudo um breu.

De repente, ela ouve uma gritaria vindo de vários aposentos. Não só do elfo e da mulher, mas de outras duas ou três pessoas, pelo que ela pode distinguir no meio da bagunça.

Os armários do salão começaram a dar de cabeça uns com os outros na escuridão, e se ouviu um enorme baque de um dos armários caindo no chão, derrubando tudo.

- Olha por onde anda! - gritou um armário pra uma estante.

- Quem foi que me empurrou? - disse o outro - estou todo quebrado. Quem vai me consertar agora?

Se ouviam gritos por toda a casa, tanto de gente, do elfo, quanto dos objetos falantes. Brigitte ficou imóvel, pois tinha medo de tropeçar na escuridão, e da bronca que poderia levar.

- Croac-croac!

Um monte de sapos que estavam presos numa caixa da estante começaram a pular à esmo, coaxando, e se espalhando por toda a casa.

De repente, uma luzinha veio se aproximando, entrando no salão. Era uma moça com uma varinha usando lumos maxima, acompanhada de uma garotinha e um garoto.

- Hm? O que deu em você, Brigitte? - disse a moça da varinha.

- Aposto que ela pegou. - disse o menino.

Brigitte não sabia o que responder. Não os conhecia, e a Bruxa Inglesa só havia lhe citado os nomes de seus pais, de seu irmão mais novo, e alguns amigos bruxos e suas aparências, que moravam em Washington. O Lumos Maxima é uma magia que gera uma luz satisfatoriamente forte para casos como este, e se podia ver quase nitidamente os rostos dos três, mas nenhum correspondia as fotos que ela foi obrigada a decorar com seus respectivos nomes escritos no verso.

Ela fez silêncio.

- Diga. Você achou? - disse o garoto, que tinha sua mesma altura.

- Não. - essa era única resposta óbvia a se dar, num pensamento rápido que lhe passou por sorte para manter o disfarce. Brigitte não sabia do que eles estavam falando, mas também não podia admitir isso perguntando "achou o que?", pensou ela rapidamente. Então prontamente deu a única resposta satisfatória, pois além de não ser trouxa, ela também não era nenhuma trouxa de entregar as cartas assim de mão beijada, estragando o disfarce logo no primeiro dia de espiã.

Ouviram-se gritos em japonês, e sons de feitiços sendo lançados no fundo da casa, até que a luz voltou.

Começou-se a ouvir os passos da mulher vindo de longe, fumegando várias palavras em japonês que com certeza não poderiam deixar de ser palavrões, mas que os quatro jovens ali não entendiam patavinas.

- Fofoca ouviu isso. - disse o elfo sobre um dos armários balançando os pészinhos maldosamente - Fofoca vai ter que contar ao mestre que vocês estão aprontando.

- Não Fofoca, por favor. - disse a moça da varinha, enquanto a mulher não chegava.

- Então vocês lavarão as louças para Fofoca não fofocar? - extorquiu o elfo.

- Sim, lavamos. - disse a menininha mais nova.

- Cala a boca! - disse o garoto e a moça em uníssono.

- O que vai ser? - perguntou o elfo, se divertindo com os rostos atrapalhados dos quatro jovens - A língua de Fofoca está doida pra contar histórias lindas sobre crianças ladinas.

- Sim, lavamos! - gritaram os quatro, dessa vez, todos ao mesmo tempo.

- Feito, então. - respondeu maldosamente o elfo, estalando os dedos, e arrumando tudo no lugar com seu encanto, consertando a estante instantaneamente e fazendo os sapos sumirem de volta para dentro da caixa.

- Quem foi que tirou o Livro das Trevas do lugar? - berrou a japonesa, agora falando em inglês, furiosa, para os quatro.

Ninguém respondia.

- Fui eu, minha senhora, para limpá-lo melhor enquanto trabalhávamos. Achei que fazer um só trabalho seria monótono, e o livro já estava empoeirado demais. - Fofoca piscou o olho para as crianças, que sorriram disfarçadamente.

A japonesa ficou tão furiosa que começou a fumegar um monte de coisas para o elfo em indistinguível japonês.

- Fofoca não entende essa língua, Sra. Kazimura, minha senhora. A senhora, minha senhora, precisa falar com Fofoca em inglês.

- Então, seu elfo horroroso, você vai lavar a louça três vezes, até tudo ficar brilhando, ouviu?

Fofoca nunca ficou tão feliz, e abriu o sorriso mais largo de toda sua vida, olhando para os jovens infelizes.

- Sim, minha senhora, Fofoca lavará com alegria, não é crianças?

- Para o quarto, todos vocês. Já estou cansada dessa viajem idiota. - disse a mulher - não estudei em Ilvermorny para virar babá de três pirralhos e de um elfo tagarela.

Kazimura, Kazimura... repetia mentalmente para si mesma para não se esquecer de um dos nomes que não sabia. Mas Brigitte ainda precisa saber dos nomes de seus novos companheiros, e se são realmente amigos ou não da Brigitte do cônsul. Bem... aparentemente parecem ser.

- Droga. Vamos ter que passar a noite toda lavando louça. - reclamou aos sussurros o garoto, enquanto os quatro caminhavam pelo corredor.

Harry Potter Continuação - Brigitte Coulomb e o Báculo de Mercúrio - Livro 1/7Where stories live. Discover now