36. Cafeteria, a decisória

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Era Jimin que sempre sabia quando encontrava-se mal; como um eterno fiscal de seus sentimentos semiocultos. Era sempre ele a perceber quando escondia suas necessidades e a soar um alarme ensurdecedor que lhe fazia sucumbir perante a própria fraqueza. Queria ser desmascarado. Mais uma vez. E agora Jimin era, ao mesmo tempo, a pessoa que o feriu e a que deveria desencavar as feridas.

Jimin engoliu em seco, desacostumado com o tom de Jungkook. Meneou a cabeça. Não tinha para onde fugir.

— Por ter escondido minha demissão de você. A culpa e a ideia são todas minhas, então, por favor, não fica chateado com o Seokjin...

Jungkook respirou fundo e baixou o olhar, enterrando a cabeça nas mãos. Estava chateado, tanto com Jimin quanto com Seokjin. Muito chateado mesmo. Chateação, na verdade, era uma palavra muito branda para aquilo que corroía seu peito, mas não encontrava uma substituta digna.

— Por que você fez isso? — perguntou, por fim. Detestou ter perguntado. Preferia estar como antes, com raiva, e não tentando descobrir o que tinha feito para o tratarem daquela forma. Enterrou-se ainda mais em melancolia porque, sem falta, buscava formas de ser o culpado. Era por causa da culpa que buscou aquela conversa? Para adereçar tudo a si? Para atormentar-se?

Mas já estava lá, então que se afogasse na culpa.

— Porque pareceu a forma mais fácil... — Jimin suspirou. Quando tomara a decisão, esta parecia certeira, mas agora, vendo Jungkook, arrependia-se cada vez mais. Mesmo que gostasse do Jungkook que não escondia a própria dor e ressentimento, vê-lo mal partia seu coração.

— O que eu fiz? — Jungkook terminou de submeter-se ao piloto automático.

Sua fala fez Jimin arregalar os olhos de imediato e fitar o olhar baixo dele, a expressão de culpa. Seu peito, antes tomado por remorso, ardeu de revolta.

— Quer que eu fale mesmo, colecionador de culpas? — perguntou, retoricamente. Sua voz flertava com a rispidez, mas tentava controlá-la. — Você foi a pessoa que mais me tratou com gentileza na minha vida inteira, foi isso que você fez! Você me tratou como gente, mesmo quando eu agia que nem um animal. Você foi compreensivo e carinhoso. E aí, gostou do seu crime?

Jungkook engoliu em seco e continuou encarando Jimin estático, feito um animal silvestre prestes a ser atropelado. Não sabia mais explicar o que queria, nem o que sentia. Que Jimin reconhecesse sua dor ou sua culpa? Aliviado ou triste?

Jimin suspirou e esfregou o rosto com as mãos. Era difícil, muito difícil. Deveria ter ignorado a Yoonji. Conselho de merda. Mas já sabia que era um conselho de merda. Seguiu porque estava desesperado para ver Jungkook, então agora teria de lidar com as consequências.

— Jungkook... — Os olhos de Jimin suplicavam mais que a voz. — Eu preciso que você fique sério, preciso muito que você fuja da culpa. Para poder falar e explicar o meu lado, eu preciso que você enxergue o seu. Por favor.

A contragosto, Jungkook ajeitou-se na cadeira e deixou os ombros largos mostrarem sua grandeza, sempre tão encolhidos. Inspirou fundo e tentou vestir uma expressão neutra. Desejava ter convencido Jimin, porque não conseguira fazê-lo com o próprio coração. Estava uma bagunça.

— Vamos lá, Jungkook... — Jimin fez mais uma pausa, subitamente nervoso. — Vários motivos, pessoais e externos, me fizeram concluir que a melhor coisa que eu poderia fazer era me demitir. Não me pergunte esses motivos, eles não vêm ao caso. Mas fiquei com muito medo de falar sobre minha demissão com você...

— Por quê?

— Porque você tentaria me impedir e resolver todos os motivos que me fizeram sair, porque você é uma pessoa incrível. Mas isso seria desgastante e eu, no fim das contas, já não deveria pertencer à Up desde que tudo aquilo aconteceu. Eu só fiz uma coisa que já deveria ter sido feita.

Empresário • jikookWhere stories live. Discover now