Cap 80 - Aperte o gatilho.

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Celine

Minha cabeça poderia muito bem ter sido jogada de um lado para o outro antes de encaixarem ela de novo no meu pescoço. De tão tonta que eu estava quando abri os olhos. Tudo girou por um momento e eu pisquei várias vezes para focalizar as luzes e imagens na minha frente. Meu corpo ainda estava pesado.

Quis tirar o cabelo da cara, mas quando fui mexer meu braço, percebi que ele não se moveu. Em vez disso, o barulho de correntes soou, me acordando de vez para o que tinha acontecido.

Eu tinha sido capturada. Caçadores... Lori...

Farejei o ar, mas o cheiro que senti, foi de fato, desesperador. Aquele cheiro azedo de alcachofra que eu nunca entendi, estava ali. Pressionei meus olhos na imagem se formando na minha frente e quase tive vontade de arrancar minhas mãos do aperto daquelas correntes.

Christopher.

— Finalmente... — Ele permaneceu sentado na cadeira. Seu sobretudo cinza chumbo indo até abaixo dos joelhos. Aquele toque superior que me irritava até a alma. O cabelo loiro escuro, a barba rala e os olhos caídos e sem graça que dava vontade de vomitar. Tentei me mover, mas meus ombros e pernas também estavam presos em correntes na cadeira. Meus pés muito mal posicionados estavam dormentes. Isso me fez questionar quanto tempo eu estava desacordada. — Senti sua falta. — Ouvir aquilo me fez rir. Rir de verdade.

— Chris, me poupe das mentiras. — Olhei em volta. Eu estava no seu cantinho da tortura. Não ficava na sua casa, óbvio. Ele nunca trazia sangue para dentro da sua casa. Esse lugar ficava no meio da floresta. E eu respirei fundo ao saber que estava de volta na minha antiga alcatéia, depois de tanta coisa que passei pra sair desse lugar.

— Não estou mentindo, querida. Era melhor tê-la aqui do que tê-la na mão de alguém que nos colocasse em perigo.

— E quem seria? Connor? — Levantei a sobrancelha e ele me encarou. Por tempo demais. Não, não parecia ser Connor. — O que você quer? — Se levantou e eu fiquei atenta. Forçando meus instintos ao máximo quando se aproximou de mim.

— Colocar um fim nisso. — Ele falou e senti sua mão roçar minha bochecha por milésimos de segundos antes que eu avançasse no seu dedo. Ele rosnou e me deu um tapa tão forte que me arrancou sangue.

— Toque em mim de novo... — Cospi aquele gosto metálico e senti meus olhos queimarem. — E vai perder esse maldito dedo.

— Parece que Connor te fez ainda mais selvagem... — Ele falou num tom baixo e zombeteiro. — Uma pena. Era melhor lidar com você quando você ainda estava aqui, acuada e sozinha. Eu devia ter te colocado numa jaula no momento que não consegui te controlar naquele dia.

— E vai fazer o quê? Me colocar numa jaula agora? — Sorri e o lábio cortado ardeu.

— Não. Já é tarde demais pra isso. Não vou prolongar muito. Não tenho tanto tempo pra lidar com você mais. — Franzi as sobrancelhas um tanto que confusa.

— E o que vai fazer?

— Matar você. — Apertei as mãos e minha boca secou. — Assim como devia ter feito. — Não, ele não seria capaz de me matar... Ele só é obcecado demais pra me deixar solta por aí. É um blefe. — Não deveria ter aceitado os problemas da sua mãe. Nem sei onde eu estava com a cabeça. Talvez fosse porque minha mulher estava deveras alucinada por um filho que não conseguia ter. E de repente você aparece. Um recém nascido nos braços de uma mulher já condenada, e nossa inimiga. — Eu estava sem reação. Ouvindo cada palavra atentamente porque não conseguia dizer nada. — Ela me pediu, implorou para que cuidássemos de você e que você não tivesse o mesmo fim que o dela. Meu coração de tolo por um momento aceitou. E maldita a hora que eu dei minha palavra. — Ele suspirou ao rodear minha cadeira. — Isso ainda vai me perseguir o resto da vida.

A LUA, O CAOS E A LIBERDADE [+18]Where stories live. Discover now