Capítulo 2 - Periferia (revisado)

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Acordei com o barulho ensurdecedor do despertador na minha orelha e tive a certeza de que ele funcionava muito bem, porque acordei tão assustada que levei a mão no relógio para me defender daquilo. O acertei tão forte que fiquei surpresa por ele não ter se arrebentado todo no chão.

Suspirei e me levantei da cama devagar ao perceber o que tinha feito. Soltei o relógio no lugar e fui me vestir. Coloquei a roupa que eu tinha comprado ontem que não passava de uma blusa regata preta e uma calça legging da mesma cor. Escovei os dentes, dei uma passada de mão no meu cabelo e calcei o tênis. O mesmo que eu havia roubado.

Coloquei o resto do dinheiro que tinha sobrado ontem na cintura e saí do quarto pra poder comprar alguma coisa para comer e ir trabalhar.

Graças a licantropia, meus músculos numa só noite de sono já estavam totalmente descansados. Poucas horas de sono já eram suficientes pra eu me sentir renovada e pronta para outra. Entretanto, até para mim, foram mais horas dormindo do que eu estava acostumada, então eu realmente estava me sentindo ótima.

Desci as escadas de dois em dois degraus e vi a humana punk indo em direção a recepção com o cabelo todo emaranhado. Estava bocejando e o sono parecia ser seu pior inimigo agora.

— Bom dia! — Passei próximo da bancada. — Obrigada de novo por ontem!

— Bom dia... — Ouvi ela arfando e nem dei tempo de ela responder mais alguma coisa antes de sair do hotel.

Pude sentir a diferença de temperatura quando passei da porta. O tempo estava fresco, mas não estava frio. A rua permanecia com poucas pessoas. O bar do outro lado da rua estava fechado, mas arregalei os olhos quando vi um homem jogado na calçada logo na frente. Atravessei o asfalto e me aproximei do sujeito, logo sentindo o cheiro forte de álcool que me arrancou uma careta.

Er... Senhor? — Falei, mas ele nem se moveu. Me aproximei e balancei seu ombro. Ele não estava sujo ou mal arrumado, mas estava completamente apagado por causa do álcool.

— Não se importe com esse moribundo. Ele quase sempre está deitado aí pela manhã. — Uma mulher passou por mim e continuou andando. Não parecia se importar com a situação, então voltei a olhar para o homem e suspirei. "Sempre" é muita coisa... O que diabos aconteceu na vida desse coitado pra chegar nessa situação? Balancei ele mais uma vez, mas só tive um resmungo como resposta. Eu precisava ir comer alguma coisa antes de ir pro trabalho. Não podia ajudá-lo.

Ele se mexeu bem pouco e abriu levemente os olhos na minha direção como se ainda estivesse completamente tonto. Sequer consegui ver a cor deles antes que voltassem a se fechar.

— Uma loba... — Ele resmungou baixinho, o que me fez recuar imediatamente. — Me deixe em paz. — Com toda certeza.

— Bom, boa sorte para o senhor.

Continuei andando apressada e com o coração batendo acelerado. Ele era um lobo também? O quanto deveria ter bebido para ter conseguido chegar naquela situação? Graças a Deus ele não tinha forças para sequer falar, ou senão eu estaria frita. Afinal ele poderia muito bem ser da alcateia.

Passei num Fast-food. Comprei um hambúrguer grande e devorei enquanto ia em direção do trabalho. A sorte é que eles ficavam abertos 24h por dia por aqui. Então eu podia passar ali no horário que eu quisesse.

Chegando próximo do trabalho, vi Eddy entrando na lanchonete. Atravessei a rua e andei pela calçada até parar na entrada. Ele estava se aproximando do balcão e acabava de cumprimentar Charlie quando empurrei a porta para entrar também. Charlie estava passando um pano sobre o mármore escuro quando os dois olharam na minha direção.

A LUA, O CAOS E A LIBERDADE [+18]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora