Capítulo 79 - Porão.

Start from the beginning
                                    

Continuei cavando e cavando e cavando até que chegasse numa profundidade boa atrás daquelas pedras grandes. As árvores aqui tampam bem a visão. Puxei o primeiro corpo e empurrei ele lá pra dentro antes de fazer o mesmo com o outro. O processo de enterrar foi o mesmo. Mas ainda pisei sobre a terra para prensar e chutei a neve sobre ela quando terminei.

Até que o inverno acabe, a grama já vai ter nascido.

Peguei aquela pá para voltar pra casa e encarei minha mão suja de terra e sangue. Minutos atrás eu tinha ajudado um bebê a nascer, e minutos antes disso eu tirei a vida desses homens. Engoli a ânsia uma vez, mas na segunda não aguentei. Acabei esvaziando meu estômago no arbusto seco ao lado.

Tinha começado a nevar.

Respira. Olhei para o tronco da árvore e encostei minha testa nela antes de fechar os olhos. A neve vai apagar o resto dos rastros. Só volte pra casa. Vamos ajudar Lori a pensar num nome.

Voltei a andar, e enquanto eu andava, senti algo atingir minha perna. Grunhi com a picada e olhei para baixo no mesmo momento que senti a mesma dor fincar no meu pescoço. Arranquei aquilo e pisquei ao ver o dardo vermelho. Minhas mãos tremeram e a pá escapou da minha mão antes que meus joelhos pendessem na neve. O quê?

Isso não era prata... Esse dardo era tranquilizante.

Olhei em volta e vi tudo girar. Caí naquela neve gelada sem conseguir pensar em mais nada e vi duas ou três sombras me rodearem antes que eu não conseguisse manter mais os meus olhos abertos.


Joseph

Andei de um lado para o outro naquela sala enquanto Lori contava tudo para Sury. Olhei para as pegadas que Celine tinha deixado na neve e só consegui lembrar dela atacando aqueles dois bastardos enquanto eu estava travado na neve. No momento que pulei diante daquela arma e abocanhei o braço dele, não vi o que eu estava fazendo.

Quando eu tinha voltado para perto de Celine e Sury tentando dar outro susto nelas, ouvi aqueles homens. Senti o cheiro deles. Era o mesmo cheiro que Matheu tinha. Humano.

Ouvi a conversa deles, senti o cheiro estranho de Lori e vi que eram caçadores.

Caçadores...

Se eles estavam rodeando esse lugar, significa que Matheu não manteve a boca fechada. Não manteve. Ele mentiu pra mim. E agora colocou todos nós em perigo. Todos nós. Tudo aquilo que aconteceu antes vai acontecer de novo. Quase vi isso acontecer hoje diante dos meus olhos.

Se não fosse Celine...

Lembrei das suas mãos sujas de sangue, os olhos amarelos virados na minha direção.

Meus pais não foram capazes da mesma coisa. Eles não conseguiram se salvar daqueles monstros. E isso me desesperou.

— Joseph, você está bem? — Sury estava tremendo quando se aproximou de mim e me abraçou. Ela sabia qual era o meu problema com caçadores. — Céus, quando Celine voltar devo agradecê-la. — Abracei ela de volta e respirei fundo. Aqueles homens estão mortos. Já estamos seguros.

Não encana Joseph.

— Acho que decidi o nome que vou dar. — Olhamos para Lori e ela sorriu para aquele bebê ainda sujo. Os olhos daquela coisinha estavam arregalados e o berreiro já tinha parado também. Tinha os olhos verdes escuros de Collin. — Vai ser Jasper. — Ela riu fraco. Os cabelos dela ainda estavam melados de suor. — É o nome que Collin sugeriu uma vez. Antes de sabermos que era menina.

— Jasper... — Repeti o nome. — Não é tão ruim quanto eu imaginava. — Senti um beliscão no meu braço e abri a boca para Sury que sorria para Lori.

A LUA, O CAOS E A LIBERDADE [+18]Where stories live. Discover now