A Herdeira e a Fera

Capítulo 28

Helena

Meu coração parecia sair pela boca a qualquer momento.

A frase de que a vida muda a qualquer instante, nunca foi tão evidente para mim como naquele momento.

— Já liguei para o pessoal da comunidade, está todo mundo indo em direção à casa de Nikolas. Quanto mais pessoas para ajudar, melhor, além da policia que já chamamos.

Eu não tinha voz para dizer nada. Nem mesmo havia agradecido a Julia e sua família que passavam próximo à minha casa quando saí correndo e eles que me ajudaram, dando carona até a casa de Nikolas. Eu nem mesmo havia avisado Flávia. Mas seria melhor assim, ela ficaria muito preocupada, e talvez colocasse a si e José em perigo.

Nem mesmo havia dado tempo de avisar Nikolas de que estava a caminho da sua casa.

Assim que chegamos próximo à propriedade, já dava para ver os estragos. Passamos pelo portão de ferro que havia sido derrubado, provavelmente por Everton passar por ele com o carro. Pelo caminho dentro da propriedade, dava para ver alguns arbustos e roseiras arrancados.

Paramos o carro próximo à porta de entrada, onde estava meu carro estacionado também, todo quebrado.

Saltei do carro e estava pronta para correr para a casa, mas meu braço foi agarrado pelo Roberto, marido de Julia e quem havia nos levado até ali.

— Não faça nenhuma besteira que possa piorar a situação. Ele está armado e pode fazer alguma loucura.

Olhei para dentro do carro onde Julia estava com a filha, que olhava para mim assustada. Eu não poderia colocar aquela família em risco. Mas ao mesmo tempo não deixaria Nikolas sozinho com um louco armado.

— Vocês ficam aqui e esperam a polícia chegar. Não entrem. Mas eu preciso ver se Nikolas está bem.

Desvencilhei-me das mãos de Roberto e caminhei decidida em direção à casa, quando ele novamente me chamou, fazendo-me olhar para trás.

— Eu vou com você. Julia vai ficar aqui fora com Rebeca.

— Não. Você não precisa fazer isso.

Ele tinha uma família a zelar. Não era certo se arriscar desta forma.

— Você está tremendo igual a uma vara verde. Não tem condições de enfrentar um homem. Se for sozinha, vai acabar piorando as coisas para Nikolas, pois ele vai querer te proteger. — Olhei para minha mão aberta, conferindo se estava mesmo tremendo. E eu não tinha nem mesmo percebido isso. A adrenalina e medo que percorriam pelo meu corpo, preenchiam qualquer sensação que eu sentia. — E eu não vou fazer isso apenas por você. Nikolas está lá dentro, e ele é meu amigo. Uma pessoa a quem eu considero muito.

Apenas fiz um aceno de cabeça, concordando com ele, já havíamos perdido muito tempo parados ali conversando. Antes de entrar pela porta que estava encostada, olhei mais uma vez para trás, encarando Julia no banco de trás do carro abraçada à filha. Ela me acenou com a cabeça, dando-me forças para continuar, e lá fui eu, encarando o perigo de frente.

Everton estava apontando uma arma para Nikolas, que tinha as mangas da blusa arregaçadas, com uma das mãos estendida à frente, as pernas em posição de ataque.

— Niko — a voz quase não saiu pela minha garganta, e eu tinha uma leve impressão de que ninguém havia me ouvido, mas Nikolas se virou lentamente na minha direção, olhando-me nos olhos, enquanto sua expressão se endurecia mais ainda.

— Agora sim, posso fazer o trabalho completo e acabar com os dois putos que estragaram minha vida.

Não prestei atenção ao que Everton dizia, apenas saí correndo em direção a Nikolas que me pegou pela cintura e me apertou contra si.