naquele dia gelado de outubro
sentada sobre uma manta cobrindo a areia
o céu nublado,
deixando o sol escapar
por entre as frechas de seu lençol
a cobrir o azul.
as ondas quebravam nas pedras
banhavam os pés da montanha.clarice sentada de costas para o Leme, assistindo o nada,
sentindo tudo.
o livro em meu colo,
descansando sobre a saia telha,
fala de se sentir estrangeira
em sua própria terra
filha do vazio
parida pelo ventre de um mundo
que a renegao vento arenoso arranhava minha pele
jaqueta nas costas
óculos embaçados pela chuva fina
de visita ao riodezenove anos na cidade
em uma vida impiedosa
cuja exaustão me pega
onde o espírito
encontra os ossos
em uma terra esquecida pela fétalvez ela tenha existido
em algum ponto dos dezenove anos
mas não existe mais
o corpo sentado na areia
a alma por detrás da camada
densa de pele
foi deixada para trás
por uma esperança que arrumou as malas
e partiu de mimeu percebi naquela tarde de outubro
cerca de quatro da tarde
que precisaria voltar para casa
com sapatos cheios de areia
cabelo salgado
e o sentimento de perceber
em um estalo súbito,
sem anúncio prévio,
que a fé vaga pelo rio
ao meu redor
menos no espaço
onde o espírito
encontra os ossos
dentro de mim.
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quando eu era flor.
Poetryé sobre as flores que nascem entre os vazios do meu âmago. sobre a que me tornei. 2020 | @lenallier Por Lena Allier.