Mantenha Distância

capítulo 42: um novo ciclo

Antes que ele possa falar, aproveito o novo sinal fechado e atravesso a rua, agora atenta aos carros.

Do outro lado, ainda o vejo parado no mesmo lugar, observando-me, e com relutância lhe dou as costas, seguindo para o ponto de ônibus.

Para minha sorte, o veículo já está se aproximando, então entro nele e sento-me próxima a janela. Vejo Brandon através dela, sendo deixado para trás e lamento pelo que se tornou nossa relação.

***

Brandon

Quarta-feira

Assisto à aula chata de biologia, enquanto batuco os dedos na mesa com impaciência. O professor percebe o meu gesto idiota, mas não ousa interferir.

— Relaxa, Scott. O que está havendo?

Ignoro o Williams com uma carranca no rosto. Pamela está me encarando de outra cadeira, ao lado do Martin. Penso na vadia que ela é, imaginando o que posso fazer para romper sua coroa de abelha rainha.

— Qual é! Ainda está com raiva de mim?

Encaro o Matthew.

— Claro que estou. Tudo seria melhor se você não tivesse gravado aquele maldito vídeo. Agora Jéssica duvida da minha mudança.

Se não fosse pelo vídeo, eu mesmo teria revelado o segredo para ela com calma e mostrado que me arrependi do plano idiota de enganá-la. Algo me diz que ela continuaria chateada se eu mesmo tivesse contado. Eu era mesmo um imbecil.

Ele balança a cabeça, e parece chateado. Foda-se.

— Eu errei feio, amigo. Mas como poderia resistir? Pamela é a porra de uma sedutora. — sussurra.

Reviro os olhos.

— E você é a porra de um fraco! Mesmo assim, não posso mais me lamentar. Já está feito.

— Sinto muito.

— Pode ser, mas isso não vai fazer Jéssica me perdoar, então, dane-se.

— Ok. Mas você pode pelo menos não me ignorar quando eu falar com você? Eu fico chateado porque éramos grandes amigos antes e agora...

Eu o encaro com desprezo.

— Você é gay? — ele ri com a pergunta. — Que porra de sentimentalismo é esse?

— Ok, perdão.

— Hm. Perdoado.

Matthew amplia o sorriso.

— Sério?

— Sim, mas não fale comigo.

Seu sorriso desaparece.

— Estou brincando. — volta a sorrir. — Mas você vai ter que me ajudar com Jéssica, entendeu?

Ele acena afirmativamente.

— Como posso ajudar?

— Depois eu te digo como.

Após a aula e durante o almoço, solto um suspiro pesado, tentando suportar a conversa idiota dos meus amigos. Eles não têm nada além de "mulher" e "bebida" na cabeça. Que merda!

De um minuto para o outro, o refeitório parece ficar em suspense e me pergunto o que está acontecendo.

— Olha só, Scott. — é Williams, então lanço o meu olhar para o ponto das conversas.

Ela acabou de entrar no refeitório.

Jéssica.

Disfarço o semblante chocado, enquanto ela praticamente desfila por ali.

Seu semblante não está abatido como pensei que estaria caso ela voltasse a pisar na escola. Não, ela parece radiante. Pelo menos externamente.

Um pequeno sorriso se desenha em seus lábios bonitos e ela logo se dirige para a mesa onde suas amigas se encontram, o que inclui Nathaly.

Ali perto Pamela observa a cena, aparentemente chocada, e eu aprecio o seu semblante de raiva. Ela provavelmente achou que Jéssica fosse chegar cabisbaixa à escola ou nem aparecer, mas se enganou.

A surpresa no refeitório parece cessar durante um tempo e me faço a seguinte pergunta:

Jéssica não se transferiu como disse que faria?

Antes que possa evitar, eu me ergo, ignorando o olhar dos caras na mesa e me aproximo da Jéssica.

O olhar da maioria dos presentes me acompanha e continuo caminhando até chegar à mesa onde ela está.

Desprezo os cochichos a nossa volta.

Jéssica ergue o olhar para mim, ainda sentada.

— Oi, Brandon. — força um sorriso, e eu estranho a sua atitude. Por que ela está agindo assim?

— Jéssica, você...

— Deixe-a em paz, Scott. Nem pense em falar merda. — Rachel avisa e eu lanço um olhar de aborrecimento em sua direção. Ela dá de ombros.

Eu me inclino um pouco para Jéssica, para que ninguém possa ouvir. Percebo que ela estremece levemente.

— Por que disse que ia sair da escola? Fez-me de idiota!

— Sim. — murmura simplesmente. Franzo o cenho. — Queria ver sua reação.

— O que está acontecendo, Jéssica? Você não era assim. Sabe, eu me senti o pior cara do mundo quando você disse que estava voltando para o México.

— Isso também foi uma mentira. — murmura descaradamente, e eu aperto os punhos. — Eu só queria testar suas emoções. Fui com a minha mãe à coordenação conversar com o diretor acerca do bullying que eu vinha sofrendo. Você não notou, mas ela permaneceu na sala enquanto eu ia buscar uma água. Você apareceu nesse momento. — confessa. — Vou permanecer na escola, e todo mundo aqui vai ter que me engolir. — diz a última parte mais alto, lançando um olhar desafiador para Pamela, que se encontra a poucos metros. Jéssica olha para mim outra vez. — Está chateado, Scott? Está odiando o fato de que voltei para essa escola?

— Nunca. É muito bom saber que você está de volta, Jéssica. Mas não gostei de ser feito de idiota.

— Certo. — faz um biquinho chateado, e eu quase a beijo na frente de todo mundo. Como sinto falta dela! — Acho que nossa conversa termina aqui. — me ignora claramente quando volta a conversar com suas amigas.

Respiro fundo e me controlo.

— Nossa conversa está longe de terminar, Jéssica. — aviso insatisfeito antes de voltar para o meu lugar.