𝟎𝟎- 𝐎 𝐢𝐧í𝐜𝐢𝐨

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Confusão...
É o que essa noite estava se definindo, já fazia uns dias que relatos estranhos apareciam nos jornais, policiais atirando em pessoas para matar, várias greves e protestos sendo feitas em todos os lugares.

Já fazia mais de duas semanas que eu e Sophia não íamos para escola, e eu me arrisco a dizer que aqueles dias em casa foram o inferno na terra, mas hoje estava pior.

Meu pai está no banco do motorista buzinando prós carros da frente andarem com sua expressão de sempre, minha mãe está no banco do carona observando os carros preocupada.

Enquanto Sophia dormia com a cabeça apoiada em minhas coxas como travesseiros, ela estava extremamente cansada e precisava descansar.

Todos nós precisávamos descansar.

Acordamos aos gritos de madrugada para arrumarmos as coisas para irmos embora e nem sequer explicaram o porque de tudo aquilo.

Eu estou com a cabeça apoiada no vidro, observando a cidade que já estava distante, me segurava ao máximo para não dormir pra saber o que estava acontecendo.

Meu pai irritado com a Avenida cheio de carro parados, sai do carro para arrumar briga, logo minha mãe se vira pra mim preocupada.

— Querida fique no carro, vou tentar acalmar seu pai.

Eu apenas murmuro um "Uhum" que ela acaba presumindo ser um "Sim" e saindo do carro.

Abro a janela do carro para ouvir a discussão, mas quando percebo, meu pai estava dialogando como um ser humano calmo e civilizado com um homem de farda.

— Aposto que só não está gritando com ele porque ele é homem —Penso em voz alta.

Procuro a minha mãe com o olhar, ela conversava com uma mulher de cabelos pretos, alta e de pele clara, ao seu lado havia um garoto que era a cópia dela.

Presumi que ele estava na mesma faixa etária de idade que eu e Sophia.

— Temos um pouco de comida —Minha mãe diz, atraindo o olhar do meu pai que sinalizou para irem conversar, ela foi em direção do porta malas para que ninguém pudesse escutar a discussão, sendo seguida pelo meu pai.

— Você é burra?! Não podemos anunciar que temos comida, eles vão querer mais e sem dizer que não os conhecemos — Falou meu pai num tom um tanto alterado, mas baixo para não chamar atenção das pessoas em volta.

— O garoto está com fome, e temos comida de sobra, podemos dar pelo menos uma lata para eles dividirem.

Minha mãe continuou insistindo em dar de comer para os desconhecidos do carro da frente.

— Eu já falei que não, não me faça ficar com raiva de você de novo, você sabe o que eu acabo fazendo por sua culpa.

Respondeu Ed claramente ameaçando a minha mãe, não ouvi resposta então presumi que ela concordou com a cabeça ou algo assim.

Meu pai na verdade só pensava nele e justificava as ações egoístas dele dizendo que tudo o que ele fazia era para proteger sua mulher e filhas.

Decido fazer uma boa ação, então para não acordar a Sofi que dormia profundamente eu tento me virar devagar e me esticar para pegar um salgadinho.

Consigo alcançar o salgadinho com sucesso mas falho em não acordar a Sophia, que logo se levanta coçando os olhos e me perguntando se já havíamos chegado.

— Ainda não, mas pode voltar a dormir se quiser —Ela para de coçar os olhos e logo analisa em volta.

— Cadê a mamãe e o pai? podemos sair? —Eu olho pela janela averiguando a situação, meu pai havia voltado a conversar com o mesmo homem e minha mãe voltado a conversar com aquela mulher enquanto o filho dela observava.

— Estão aqui na frente —Digo abrindo a porta do carro e descendo.

Ela desce logo atrás, enquanto eu deixo o salgadinho no banco e fecho a porta.

Sophia e eu nos aproximamos da nossa mãe e da mulher que estava conversando com ela.

— Oi meu amor já acordou? —Diz passando a mão nos cabelos de Sophia.

— Lori, essa são as minhas filhas, s/n e Sophia —Ela diz toda orgulhosa das filhas que tem.

Isso é uma das coisas que eu mais admiro em minha mãe, que por mas que a vida dela não seja uma das melhores, ela sim sempre faz as coisas pensando em mim e em minha irmã.

Eu apenas dou um sorriso tímido pra mulher na minha frente.

— Eu sou a Lori, esse é meu filho Carl — Ela se apresenta e indica o garoto que estava ao seu lado que olhava pra mim e Sophia —Aquele com o pai de vocês é o Shane.

— Posso ir brincar com elas? —Carl pede olhando pra minha mãe e pra mãe dele, que concordam rapidamente.

Sorrio ao ver Sophia se alegrar, O garoto diz que vai pegar algo e vai na direção do carro onde ele estava, provavelmente para pegar os brinquedos ou algo do tipo.

Enquanto ele fazia isso eu observava ao redor, as pessoas estavam confusas e algumas com medo, olho para alguns carros em específico.

Um pouco mais a frente eu via dois homens com uma caminhonete que tinha uma moto na traseira, eles pareciam estar discutindo, não demorei muito pra presumir que eram irmãos.

Mudo meu olhar agora para um trailer, tinha um senhor que estava ajudando duas moças loiras do carro ao lado sem maldade alguma.

Não demorou muito pro garoto volta com alguns papéis e um estojo.

— Vamos lá pro carro —Sugiro, logo sou seguida por Carl e Sophia que entram comigo no banco de trás.

Entrego o salgadinho para Carl que quase instantaneamente tem seus olhos brilhando, podendo saciar sua fome.

— Obrigado —Ele diz sorrindo pra mim, apenas retribuo o sorriso sem mostrar os dentes.

Ele entrega as folhas pra Sophia e abre o salgadinho para poder comer.

Com a porta do carro ainda aberta,eu fico observando a cidade novamente.

De um segundo pro outro uma grande explosão acontece na cidade, sendo seguida por outras.

Vários prédios caíram e foram destruídos e a luz laranja do fogo dominava a paisagem, eu conseguia escutar pessoas chorando, alguns murmurando algo com medo, enquanto outras corriam rapidamente prós seus carros

Só que uma coisa que eu não sabia era que os dias que estavam por vir só iriam piorar.
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𝕊𝕦𝕣𝕧𝕚𝕧𝕖 - 𝘚/𝘕 𝘗𝘌𝘓𝘌𝘛𝘐𝘌𝘙Onde histórias criam vida. Descubra agora