1. A Primavera

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P.o.v Helena

       Eu estava tão cansada de tudo! Meu pai insistiu que eu fosse com ele para um país totalmente diferente de tudo que já visitei na vida.  Uma parte de mim até que entende ele... A nossa família é pequena só sou eu, meu irmão e meu pai. Minha mãe morreu quando eu nasci, durante o trabalho de parto. Não tenho nem ideia de como era a voz dela ou como ela sorria, a única coisa que sei é que meu pai nunca superou isso. Meu pai descontou a ausência de sua vida amorosa no trabalho se juntando em uma das empresas mais conhecidas da Coreia do Sul. Pela distância, pensei que ele não iria aceitar de primeira, mas ele acabou aceitando mesmo assim.
       Meu irmão ficou zangado ao saber que teríamos de sair do Brasil, ele ia entrar no último ano do ensino médio e já tinha muitos planos no Brasil. Além disso, tinha uma vida praticamente perfeita, sendo popular e tendo a namorada mais bonita da escola. Enquanto isso, eu era considerada esquisita pelos meus colegas e não tinha muitos amigos. Na verdade, eu não tinha amigos ponto! Sempre fui só e gosto disso, apesar do meu pai nunca respeitar meu espaço e sempre tentar me tirar da zona de conforto me empurrando pra sair com meu irmão e a namorada louca dele.

      Não sei se to preparada pra esse tipo de mudança, sempre dormi no mesmo quarto e morei no mesmo bairro com as mesmas pessoas. Falando assim parece até chato, eu sei, mas isso era minha realidade e eu me sentia bem com isso. Eu estava arrumando as malas, conformada com a situação, enquanto ouvia os gritos do meu irmão de outro cômodo.
Eduardo: VOCÊ NÃO FAZ IDEIA DO QUE EU VOU PERDER! EU TENHO UMA VIDA! EU QUERO FICAR.
      Como que esse maluco queria ficar só aqui?! Ele nunca trabalhou e não conseguiria se manter sozinho! Ele tem que lidar com isso... Talvez a Coreia seja um país bom... Falei essa mentira tantas vezes que até soava uma boa se mudar.
        Ouvi alguém tentar abrir a minha porta e depois bater nela, destranquei o quarto e vi meu pai com o rosto fechado.
Luis: eu já disse pra não trancar essa porta!
Helena: não confia em mim sozinha?
Luis: ó nem vem com essa! Já basta seu irmão insatisfeito.
      Eu fechei a porta e ele sentou na minha cama observando a mala.
Helena: o senhor tá bem?
     Ele suspirou e disse: estou... Ser jovem é difícil eu entendo ele.
Helena: pai... O senhor quer mesmo ir?...
        Meu pai é um homem bem gentil e fofo. Ele tem meus olhos e parece muito comigo quando se trata de ignorar tudo e todos. Ele tem 45 anos e é alto, ao contrário de mim, seu cabelo é preto e ondulado lembra o meu. Quer dizer, não lembra mais já que eu decidi pintar o meu de azul num surto ontem, mas lembrava um pouco.
Luis: então, tá tudo pronto?
Helena: quase... Quando vamos mesmo?
Luis: nesse fim de semana...
Helena: ah...
Luis: Helena, não precisa ficar preocupada. Não vai faltar nada pra você nem pro seu irmão.
Helena: pai, é uma mudança muito radical.
Luis: você sabe que é uma oportunidade única não é?... Vivemos no Brasil, filha. Arranjar um emprego é muito difícil... Principalmente esse com tantos benefícios.
Helena: mas eu não sei falar a língua deles!
Luis: você vai pra uma escola bilíngue. Tenho certeza que você vai aprender.
Helena: e se eu não me dar bem lá? Vai que eles são preconceituosos--
Luis: não seja um peru! Não invente de ficar morrendo na véspera! Você vai ver o quão lá é incrível. E eu e seu irmão não vamos sair do seu lado.
      Nisso eu podia confiar... Eles dois são meus alicerces. Eu como ser social sou horrível, mas perto deles até sinto que posso conversar com o resto das pessoas sem sentir medo.

~depois~

      Os dias passaram rápido demais e o medo só aumentava. Meu irmão já tinha aceitado o rumo que as coisas estavam tomando. Bem, ele passou por quase todas as fases do luto e desistiu de todas as amizades e da namorada chata dele. Ele sabia que não ia manter mais contato e perdeu todas as esperanças de tentar. A tarde era bem quente e confortável... Estávamos no uber olhando pras janelas enquanto nosso pai conversava com o motorista. O sol parecia implorar para que eu ficasse no Brasil e eu senti isso. Eu mal consegui confortar meu irmão esses dias, me sinto mal por isso... Sou incapaz de confortar alguém, sempre que tento fazer algo desse tipo acabo não ajudando da forma certa e pioro as coisas.
      Quando chegamos no aeroporto, eu respirei bem fundo, meu irmão foi pegar as malas com meu pai e eu fiquei olhando pras pessoas que entravam no aeroporto. Dizer adeus pro meu país e cidade querida é tão difícil...

Flores para HelenaWhere stories live. Discover now