Registro #3

24 1 0
                                    


#29/12/2021 - 09:48

Uma semana se passou desde as minhas últimas anotações. Por que esses sonhos continuam me machucando tão cruelmente? Por que tenho que ver Orion morrer repetidamente tantas vezes? Queria dizer que estou num ponto onde estou começando a me acostumar com a dor, mas não é isso que acontece. Ela ainda é muito real e se mantém no meu dia a dia, como se aquilo realmente tivesse acontecido comigo.

Já não há mais felicidade em achá-lo vivo no sonho do dia seguinte, não consigo aproveitar a felicidade sabendo do que acontecerá em seguida. Decidi apenas esquecer isso e ignorá-lo durante os sonhos, se é que isso é possível. Resolvi que era hora de agir no mundo real em busca de respostas. Irei voltar para a casa dos meus pais para buscar o diário que citei nas primeiras anotações.

#29/12/2021 - 12:10

Por volta das 10:00 eu fui para a casa. A chave que eu ainda guardo encaixou na fechadura, por sorte não mudaram ela. Não vi sinal dos meus pais em casa, então segui para onde lembro que minha mãe escondeu o diário na época e não estava lá. Procurei por outros armários, sem sucesso. Revirei então um pouco o guarda-roupa, e ao mexer entre algumas toalhas arrumadas, para minha surpresa, o diário estava lá, no meio delas, intacto. Me pergunto se minha mãe esqueceu dele lá ou resolveu guardar para si. De qualquer forma, eu arrumei novamente as toalhas para que ela não percebesse o que eu fiz.

Tentei matar um pouco das saudades do ambiente, mas não consegui. Meu quarto estava trancado e eu não possuía a chave para ele. Decidi apenas admirar a vista da janela da parte de trás da casa, onde havia uma árvore, que eu brinquei muito quando era menor. Ao sair da casa, segurei a ansiedade e esperei chegar em minha casa para começar a ler o diário.

Vou tirar um tempo para lê-lo agora.

#09/06/2010 - 13:04

Comprei este diário para anotar meus sonhos. Não sei o que acontece comigo exatamente ou se há alguma explicação para isso, mas sinto que preciso anotar de tudo para me lembrar.

#07/07/2010 - 06:54

Estou muito sonolenta. Por que estou fazendo isso? Eu podia só voltar a dormir, é férias. Mas não posso ignorar isso. Acordei com alguns arranhões nas pernas e braços e um pouco de sangue escorrendo.

Tudo que me lembro é de estar em uma cidade abandonada, parecida com Chernobil, que assisti em um documentário na escola outro dia. Não havia ninguém em meio aos prédios cinzas e destruídos. Após alguns passos saí do centro da cidade e comecei a andar por um parque de diversões, completamente abandonado como em filmes de terror. Alguns brinquedos faziam barulho de rangidos, se mexendo sozinhos. Andei mais um pouco sem rumo até começar a passar por um bosque, com arbustos extremamente lindos e rosas, completamente diferente da visão que tinha da cidade há pouco. Após alguns passos, o bosque se dividia em dois caminhos. E antes que eu pudesse decidir por qual caminho iria, aquela coisa apareceu vindo do meio das árvores. Entrei em pânico, comecei a dar passos para trás e tropecei. Quando olhei para trás, o bosque havia ido, os arbustos e rosas pareciam ter sido varridos para longe pelo vento.

Ao olhar novamente a criatura, ela estava mais próxima. Me arrastei para trás, achando que ela iria me atacar, mas não aconteceu, ela apenas apontou para um dos caminhos do bosque. Foi quando prestei atenção neles finalmente. Um dos caminhos era limpo e eu conseguia ver uma luz ao final dele, enquanto o outro estava cheio de espinhos, e eu não conseguia ver o quão longo era.

Eu não sei o porquê, mas ela me convenceu de certa forma a passar por este caminho, mesmo sem dizer nada. Eu lembrei de um conselho do meu pai que dizia que era necessário passar pela dor para experimentar a verdadeira felicidade. E eu tentei. Tentei colocar a primeira perna através dos espinhos e passar com um dos braços, mas senti uma dor indescritível quando os espinhos atravessaram minha pele. Era muito intensa e real. Era muito difícil passar sem se machucar, e eu desisti. Pulei para trás, olhei a criatura e corri através do caminho limpo. Acordei assustada logo após passar pelo caminho e encarar a luz. Me pergunto qual o objetivo da criatura.

Diário de DórisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora