Capítulo 4

21 2 2
                                    

Mais de trinta dias se passaram desde o assassinato de Aparecida. O crime estava sem solução, nenhum suspeito chegou a ser preso para averiguação, na verdade, sequer houve qualquer acusação contra alguém mesmo depois de dezenas de pessoas interrogadas. No entanto, o culpado estava livre e só esperando o momento certo para atacar outra vez.

O assassino sabia que não tardaria em encontrar outro casal ou ao menos uma mulher em um local isolado. Assim poderia mais uma vez seguir seus desígnios.

Até aquele momento ninguém levava muito a sério a possibilidade de aquele crime se repetir. As pessoas continuavam levando suas vidas, indo e vindo normalmente. Saindo de casa na hora que bem entendiam achar necessário. Mesmo que houvesse um alerta para que as pessoas tomassem cuidado, sempre haveria alguém que não acharia perigoso sair de casa para namorar em uma noite escura num local isolado.

Claudia era mãe solteira, mas estava se relacionando com João as escondidas. Isso se devia ao fato de o rapaz ser casado. Os encontros entre eles ocorriam sempre durante a noite, em locais isolados longe do olhar de curiosos. Seria muito mais cômodo irem até um dos motéis da cidade, mas ambos não tinham condições de bancar essa despesa. Por isso acabavam transando em qualquer lugar, no escuro, à beira de estradas quase desertas durante a noite.

Naquela noite, como de costume. Claudia deixou sua mãe que morava na mesma casa cuidando de seus dois filhos pequenos e saiu para o encontro amoroso.

— Não volte muito tarde — ainda pediu sua mãe antes de ela cruzar o portão rua afora para nunca mais ser vista com vida pela mãe.

João estava a esperando perto dali com sua moto. Ambos não queriam que ninguém soubesse do caso de amor. Eles ainda não pensavam em levar aquilo adiante, João não queria se separar da esposa, tudo se resumia apenas a sexo e assim deveria permanecer até quando achassem necessário.

Eles seguiram pelas ruas da cidade até entrarem em uma estradinha de terra batida. Ali não passava ninguém durante a noite. Então eles poderiam ficar nus e transar sem que ninguém pudesse os incomodar. Logo que chegaram, os dois começaram a se beijar e Claudia tirou a blusa, ficando apenas de sutiã. João também tirou a camisa rapidamente, logo estariam completamente nus, mas foi nesse instante que eles ouviram o farfalhar de folhas secas no mato e antes que pudessem dizer alguma coisa a luz de uma lanterna atingiu seus olhos, ofuscando-os.

— O que é isso? Vá embora daqui, deixa a gente em paz — gritou João, acreditando que era apenas algum engraçadinho querendo atrapalhar o encontro amoroso dos dois. Eles eram algumas das várias pessoas que não tinham conhecimento do modus operandis do criminoso que já havia atacado um casal.

— Seus nojentos! — disse o sujeito com sua voz horripilante.

Ambos ainda conseguiram ver a espingarda apontada na direção deles, mas não tiveram tempo de dizer mais nada, nem de pensar em fugir. Dois disparos e os corpos caíram sobre a terra fria. A moto também acabou caindo e eles ficaram estirados um sobre o outro, já sem vida. O assassino se aproximou e iluminou os corpos com a lanterna, apenas para ter certeza de que os tiros foram bem dados. Que não precisava gastar mais nenhuma bala com aqueles dois.

Feliz com o resultado de sua pontaria, o assassino apenas virou as costas e saiu caminhando, adentrando na mata e desaparecendo na escuridão como um fantasma. Nem ao menos tocou nos corpos, desta vez a polícia não teria muitas pistas na cena do crime. Claro, cedo ou tarde os corpos seriam encontrados, mas ele estaria bem longe dali. Escondido num lugar em que não havia a menor chance de encontrá-lo.

A mãe de Claudia ficava mais apreensiva a cada hora que passava. De hora em hora ia até o portão para ver se a filha estava chegando, mas quando o relógio já passava da meia-noite, ela teve certeza de que algo de ruim poderia de fato ter acontecido. Era o coração de mãe que não se deixava enganar. A filha nunca chegava em casa tão tarde, nem dormia fora sem avisar. Depois de passar a noite em claro e ver os primeiros raios de sol do novo dia, não havia mais esperanças de que Claudia pudesse aparecer naquele portão.

A luz da morte (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora