"Vai mesmo partir meu coração?"

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A declaração que Ramon fez na frente do pai não sai da minha cabeça.

"Não! Por favor... Eu amo ela, pai. Por favor."

As palavras dele implorando ao pai pela minha vida ainda dançam no meu consciente. Ramon Lemos nunca foi o tipo de homem que disfarça suas intenções, e já havia deixado claro para mim que me quer. Mas naquele momento, não sei, tinha algo diferente nas atividades dele... Sacrifício? Talvez.

Contudo, eu preciso me escolher.

Ter entrado na vida de Ramon foi uma grandiosa metamorfose para mim, eu me encontrei aqui, só que mesmo me encontrando, descobrindo meu valor e meu poder, ainda não sei qual o meu caminho.

Depois que fugirmos do galpão, Ramon conseguiu contatar a sua equipe pelo celular que roubou do cadáver do pai dele. Logo a elite chegou, nos resgatou, e deu cabo dos capangas do Ruy. E pelo o que ouvi, Ramon assumirá os negócios do pai. Por um lado é direito dele, mas eu me preocupo que ele passe a ser igual o seu genitor, afinal seus negócios pessoais foi desenvolvido por ele do zero e de maneira pouco violenta. Assumir algo construído de maneira tão cruel pode corrompê-lo.

Cacete! Quanto mais eu penso nisso, mais minha cabeça fica a milhão. Por isso preciso de um tempo para mim.

Quando cheguei a mansão após o resgate, encontrei alguns conhecidos ainda arrumando a bagunça da noite passada. Marta veio conversar comigo um pouco e ficou curiosa para saber o que eu iria fazer agora que não temos mais o arqui-inimigo de Ramon na nossa cola. Eu fui sincera e disse que iria seguir minha vida sozinha.

Observo absorta a cristalina água do riacho correndo por entre as pedras com musgo, as vezes até vejo um peixinho colorido passando, me lembrei de quando o Matthew me falou sobre esse lugar no dia que tomamos café — a cúpula no fim do bosque da mansão —, e resolvi vir conhecer enquanto espero Ramon chegar. É o lugar mais calmo que já conheci. Gostaria de agradecê-lo por me falar daqui, mas descobri que ele também morreu na noite do ataque, uma parte de mim agora está de luto por ele.

Fico observando também os cachos de orquídeas pendurado nas pilastras da cúpula, beija-flores as rodeiam e pousam em uma e outra, eles não tem medo. O canto dos pássaros já rodeia esse lugar mesmo antes chegar ao riacho, e as pequenas tartarugas repousam tranquilas na beirada da água.

- Você não vai embora - é o Ramon. Ele chegou. Sua voz me desperta.

O observo, ainda está com as mesmas roupas do galpão, porém mais desgrenhadas, ele também está visivelmente cansado.

- Eu quero ir.

- Vai mesmo partir meu coração?

- Nem sequer tem um - ele sorri, amargo. Também noto uma fagulha de ira tomar seus olhos azuis, ele não concorda nem um pouco com minha fala.

- Ainda ousa dizer isso... - ele abaixa a cabeça. Está frustado. Também não sei porque falei isso, mas não pedirei desculpas.

- Tem notícias do meu tio?

- Ruy não sequestrou ele, te disse que o fez só para você ir sem lutar. O encontramos bebendo em um boteco perto da sua casa.

- Ele é tão inválido que nem Ruy quis ele como moeda de troca.

Ramon suspira impaciente.

- Essa sua forma ofensiva de lidar comigo... - retoma o assunto anterior - Vai mesmo ignorar meus sentimentos e tudo que disse para você? Por que me repele tanto?

Me movimento de maneira ansiosa, estou desconfortável, talvez seja porque sei que ele tem razão. Minha arrogância não me deixa aceitar meus erros.

- Eu... Ramon... nós dois somos quebrados e...

GARANTIAWhere stories live. Discover now