"Não vou me abalar"

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O carro elegante que nos leva é estacionado em uma garagem subterrânea logo abaixo de um largo estabelecimento de dois andares, obviamente exclusivo somente para o pessoal autorizado. Ainda em silêncio, os seguranças que o aguardavam alí vem até nós e abrem as portas do carro, eu desço e seguro bem forte o sobretudo que ele me entregou assim que saímos do quarto. Não estou confortável com essa roupa e muito menos com esse calçado, mas por sorte eu sei fingir muito bem. Precisei fazer muito isso quando convivia com meu tio.

Sou encaminhada para um elevador particular com Ramon, onde também é elegante; detalhes em dourado, carpete vermelho, espelhos e até uma samambaia pendurada no canto, o que é irônico se lembrarmos que samambaias é sinal de energia positiva.

A porta se fecha e começamos a subir, desvio meus olhos para ele quando ouço sua risada anasalada.

- Qual a graça?

- Se tivessem me contado à uma semana que eu estaria aqui agora com você, eu teria tido minhas dúvidas...

Acho que é isso que ele quer, debochar da minha cara, esfregar em mim que sou dele, que pode fazer o que bem entender comigo. Mas não, não irei deixar, e ele precisa saber disso! Precisa saber que não tem poder para me derrubar!

- Se acha que irá me desestabilizar assim, está enganado! - digo ríspida.

- Como? - ele se vira para mim com o cenho franzido, parece confuso, talvez não tenha falado por mal, mas já que comecei...

- Não vou me abalar - disse eu, já abaladíssima.

Quem estou tentando enganar? Estou me cagando.

- Você está bem? - ele me observa atento, me olha como se eu estivesse enlouquecendo - Está vermelha e... - tenta levar a mão em minha testa para verificar minha temperatura.

Sim, estou surtando.

- É raiva. E não encosta! - me afasto com um passo para trás. É quando a porta do elevador se abre revelando a boate colorida e barulhenta.

Já sem paciência ele respira fundo e faz um sinal olhando para o enorme bar que pega a parede de canto a canto. O lugar é simplesmente enorme.

Só a pista de dança deve ter uns quatrocentos metros quadrados

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Só a pista de dança deve ter uns quatrocentos metros quadrados. Ele caminha para fora da cabine e vou atrás.

Vejo um rapaz jovem, loiro, de olhos azuis e bem maquiado saindo de trás da bancada e vindo correndo sorridente em nossa direção.

- Mestre Ramon! - ele cumprimenta - Que bom tê-lo conosco hoje. Quem é essa bela? - indaga sorrindo animado para mim, animação essa que não consigo retribuir.

- Fez a maquiagem dele também? - volto para meu chefe sem nem sequer dar ideia a genteleza do rapaz.

- A propósito, adorei a sua - o jovem se mantém cortez. Eu concordo com ele. Minha maquiagem ficou muito bem feita, forte, mas também tem cor, quebrando o efeito luto.

GARANTIAWhere stories live. Discover now