"Sai, hétero."

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E cá estamos outra vez nos dias de luta, porque os dias de glória são curtos.

Circulo eficiente entre as mesas, distribuindo as bebidas e recolhendo copos vazios, levando rapidamente até o bar, largo uma bandeja já pegando outra cheia para distribuir ao ritmo da música eletrônica alta. Já peguei totalmente o jeito e chego a pensar em fazer como Philip e começar a trabalhar para Ramon também após a garantia acabar.

As gorjetas também estão boas, o movimento do clube vem aumentando bastante nos últimos dias e agora estou atendendo na pista de dança no primeiro piso, como eu fazia na boate.

Já na metade do expediente, resolvo fazer minha pausa e tomar um ar no terraço, antes passo pelos refrigeradores no fundo do bar e pego uma garrafa de água com gás, quando passo pelo balcão para sair, um homem alto, careca e musculoso para na minha frente, impedindo minha passagem.

- Venha comigo - ele diz com voz firme.

Chego a pensar que aconteceu algo sério que precisa de mim, mas ao analisar seu rosto, vejo não se tratar dos seguranças de Ramon. Nunca o vi antes.

- Sai, hétero - concluo que seja só um novo cliente achando que faço programa.

- Você não está entendendo. Não é um pedindo - ele agarra meu braço com força, tento me soltar com um solavanco, mas não consigo. Olho em volta a procura de socorro, mas ele me arrasta para meio da pista de dança, com tanta gente bêbada pulando e a pista bem no ápice da loucura com as luzes coloridas piscando, é impossível alguém me ver.

- Me solta, seu corno! - perco a paciência.

Preciso pensar rápido, ou ele vai abusar de mim. Busco em meu corpo algo que posso usar de arma; meus saltos! Rapidamente decido agir. Meu corpo que antes estava inclinado para trás - tentando de alguma forma impedir ele de me arrastar por aí -, é impulsionado para frente e eu rapidamente mordo seu braço com toda força de minha mandíbula. Como esperado, ele reage, parando abruptamente e rosnando de dor. Ao se virar para mim com uma careta, ele acaba soltando meu braço e vem para me dar um soco, consigo desviar me abaixando para tirar o scarpin salto agulha do pé. Dei graças a Deus por essas não ter tiras de amarrar. Mesmo o soco não me acertando, ele não desiste e se joga para cima de mim, é quando eu o ataco também com toda a adrenalina que tenho. Só que acabo não calculando bem onde atingí-lo e no meu único movimento o salto acaba completamente alojado em seu olho direito. O careca grita, e junto com ele eu também grito apavorada, não planejava cegá-lo, acho que perdi mais um cliente do Ramon. Tento tirar o salto puxando só que ele grita mais ainda e o salto agarrado não se move nem um milímetro para sair. Está preso na cara dele.

Finalmente a multidão ao nosso redor começa a se ligar no que está acontecendo aqui, e pouco a pouco o público começa a se afastar assustado com a violência. Eu não aguento ficar olhando isso e acabo vomitando sem querer. Só que vomito em cima do cara, terminando de piorar a situação dele.

- Pelo amor de Deus, me desculpa! - ponho minhas mão sobre a boca.

- Sua vadia porca! Eu vou te matar! - o cara tá puto.

- O que está acontecendo aqui?! - o gerente do clube aparece rapidamente acompanhado de outros homens.

- Desculpa a bagunça! Eu... - começo tentando explicar - só-só tentei me defender - eu gaguejava - mas a situação acabou saindo do controle. E-estava desesperada!

Ele nada diz, apenas começa avaliar a situação ao redor, mas ao desviar os olhos de mim e olhar para o rapaz no chão, vejo que o reconhece. Ergue uma das sobrancelhas e dá a ordem:

- Prendam ele! - rapidamente a seguranças ao redor se movem e arrasta o cara para fora da pista - Fez o certo, senhora Garcia - o observo confusa.

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