the refletion

1K 89 9
                                    

HARRIET SPENCER

Assim que ele saiu e fechei a porta, achei que não ia conseguir respirar por um momento. O que foi que aconteceu hoje? Encostei o corpo contra a madeira e minha mente começou a recapitular os eventos desde a nossa briga.

De volta em Londres, em uma reunião administrativa, Alan tinha chamado minha atenção pela briga que tive com Lando na Bélgica e, infelizmente, Pepo concordava um pouco com ele que eu tinha pego muito pesado mas que, apesar disso, achava que Lando Norris merecia mesmo um choque de realidade pra entender como as coisas funcionam.

O talento e o esforço que ele tem não devem ser desperdiçados por indisciplina.

Eu sabia que estava sendo dura demais com ele já que fazia questão de não encontrá-lo em lugar nenhum, primeiro por que realmente estava farta de todo esse jogo de poder no qual ele competia sozinho. Segundo, por que eu sabia que assim que ele me olhasse com aqueles olhos de criança arteira que pede desculpas existia uma chance muito grande de eu perdoar ele mais rápido do que gostaria. Não é que eu não queria perdoá-lo, eu queria, mas também queria que ele sentisse o peso das próprias ações como gente grande.

Dias depois, quando encontrei Paul, pedi para que ele mudasse todos os meus treinos e pegasse tão pesado quanto achasse que deveria com Norris e, é claro, me avisasse de quaisquer atrasos que ele tivesse.

Por que eu não ia deixar barato e sabia que ele tinha ciência disso.

Confesso que me surpreendi muito quando Paul me contou que ele estava chegando mais cedo no treino todos os dias e que, de certa forma, parecia perdido sem a minha orientação presencial para guiá-lo. Ele não perguntava de mim, mas Paul disse várias vezes que sempre que tocava no meu nome, isso o trazia de volta à realidade.

Por dentro, eu queria acreditar na mudança dele e me odiava por, de certa forma, não querer que ele me machucasse de novo com todas as suas atitudes de moleque. Então, sustentei a barreira que estava criando entre nós dois.

Pepo veio à minha casa diversas vezes desde àquele incidente na Bélgica e, na semana passada, tivemos uma conversa franca sobre tudo o que aconteceu. Lembro desse dia com uma quantidade de detalhes quase impressionante.

A grande questão, Harriet, é que falta pra ele uma identificação — Pepo disse, enquanto girava a pequena colher na xícara de chá que tinha acabado de adicionar mais açúcar. — Ele precisa se identificar com você.

Quanta bobagem — retruco. — A única pessoa com quem ele precisava se identificar é você e, ainda assim, isso não foi bom o suficiente pra por ele na linha.

Ele deixa um suspiro escapar e a iminência de um sorriso aparece. Pepo leva a xícara de chá à boca e deixa uma face de satisfação o invadir depois de degustar o chá.

Vocês dois são teimosos e acham que tudo tem que ser do jeito de vocês — ele adiciona, em um tom neutro, mas que mais parece um tapa na cara. — Não adianta fazer essa cara pra mim, é verdade. Você gosta de mandar e detesta que as coisas não sejam do seu jeito. Ele odeia obedecer e sempre quer mudar o que você diz e adicionar suas próprias personalizações do que ele acredita que seja certo. Verdade seja dita, nenhum de vocês dois está trabalhando em equipe.

Reviro os olhos e levo minha caneca de café à boca, deixando o líquido quente descer aos goles. Eu não queria admitir que ele estava certo mas, pelo visto, não tinha muita saída. Se tinha alguém que poderia me convencer a perdoar Lando Norris mais rápido, essa pessoa era o Pepo e foi por isso que o próprio Alan deve ter mandado ele aqui.

treacherous | lando norrisWhere stories live. Discover now