the rules

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LANDO NORRIS

Eram dez pras cinco da manhã quando cheguei na academia do hotel. Acho que desde que comecei na McLaren, hoje é a primeira vez que eu chego antes de Paul para um treino e decido começar o aquecimento sem ele. Minutos depois que já estou correndo na esteira, vejo ele cruzar a porta e imediatamente me encarar com uma expressão confusa no rosto.

—  Meu Deus — ele exclama —, ela realmente comeu o seu couro, ein?

Paul caminha na minha direção e deixa sua mala de academia no chão ao lado da esteira, enquanto observa a configuração e velocidade que programei.

Sou um novo homem, Paul — dou uma risada que automaticamente é contida, por que meu rosto ainda dói por causa dos pontos —, aquele acidente me salvou de mim mesmo...

É, estou vendo.

Continuo correndo e começo a sentir falta de Harriet, afinal, era pra ela estar aqui também, não só pra fazer o seu próprio treino mas também pra conferir se eu não tinha saído mais um dedinho da linha. É o que ela sempre fazia e hoje é o primeiro indicio de que as coisas vão sim mudar da forma com que ela me ameaçou da última vez que conversamos.

Com o passar do tempo, Paul me orienta em quais exercícios quer que eu faça, suas séries e repetições. Uma parte de mim está profundamente arrependida de tudo o que aconteceu e, não consigo tirar isso da minha cabeça, é como se o barulho do metal amassando e os gritos de raiva de Harriet me assombrassem um pouco por dia. Estou decepcionado comigo por isso, mas também estou decepcionado com ela, por abrir mão assim de mim. Porém não é como se eu não pudesse dar razão, ela estava certa afinal. Eu é quem deveria provar que mereço que ela faça mais por mim do que está escrito na clausula de um contrato.

Ela não vem, se é o que está se perguntando neste momento — Paul me informa e dou de ombros, mas ele me dá uma justificativa mesmo que eu não tenha pedido. — Harriet me disse que não vai mais treinar conosco pela manhã, só aos fins de tarde. Mas pediu pra eu ficar de olho em você...

Dou de ombros.

Ela não precisa estar aqui pra cuidar de você, garoto —  ele me dá um tapinha carinhoso no ombro. —  Mas saiba que você a deixou bem irritada pra ela mudar toda a agenda pra evitar ficar na sua presença.

Concordo com um aceno de cabeça. Não preciso que Paul me diga algo que eu já sei. Agora a grande questão é como recuperar o que tínhamos e me redimir com Harriet.

*

Depois do GP da Bélgica sempre temos um tempo a mais para descansar, como uma mini férias que na verdade de férias não tem nada. De qualquer forma, era a minha oportunidade de voltar a focar no que importa e recuperar minha boa relação com a minha relações públicas. Durante a primeira semana de volta em Londres sem termos que nos preocupar com viagens, ajustes no carro e preparação específica para corrida, usei todo o meu tempo livre para o simulador e para os meus treinos com Paul.

Harriet não apareceu em mais nenhum treino mesmo, na verdade, estava difícil encontrar com ela em qualquer lugar. O máximo de notícia que eu tinha dela era um e-mail diário com a minha agenda, se houvesse algum evento pra participar, e algumas instruções de comportamento, tudo o mais profissional possível.

Eu tinha uma esperança de vê-la hoje, já que Alan e o resto da equipe marcou uma reunião presencial na sede da McLaren para alinharmos expectativas para os próximos GPs. Quando estacionei o Porsche, quase no mesmo lugar que tinha estacionado da última vez, não demorei para achar o Mustang 67', parado a poucos carro dali. Ainda tinha um amassado na lataria, daquele dia que conheci Harriet e, a medida que eu caminhava, voltei a pensar em toda aquela história que Pepo me contou sobre George Evans.

treacherous | lando norrisWo Geschichten leben. Entdecke jetzt