PARTE 1

61 3 2
                                    

— Harry Potter! O que faz aqui?

O coração de Harry deu um salto. Ele não precisou olhar por cima do ombro para saber que Ronald Weasley e os gêmeos não estavam mais atrás dele, mas o fez mesmo assim. Clássico. Era sempre deixado psra trás, o vode expiatório perfeito.

Talvez fosse os enormes olhos inocentes, talvez fosse o semblante angelical, ou o sobrenome que, costumeiramente, livrava-o de encrencas. Mas ele sabia. Todos sabiam. Sabiam melhor do que qualquer coisa. Aquele nome não o salvaria ali.

Harry balançou a cabeça para os lados, tentando pensar em algo para responder. Em sua frente, os olhos esbugalhados de Lauren pareciam um tufão de navalhas disparando contra ele.

A garota empurrou ainda mais a porta, e uma fumaça de cor estranha, levemente esverdeada, soprou para fora.

— Espiando a ala feminina outra vez, Potter? — disparou em tom acusatório, imitando a voz de Malfoy. Lauren agora olhava para além de Harry, onde Fred, Jorge e Rony riam e se escondiam atrás da pilastra. Ela lançou-lhes uma careta ainda mais feia, as expressões marcadas e severas como as de um velho rabugento. 

Harry reprimiu a vontade de rir. 

— Criando receitas novas outra vez, Jauregui? — rebateu Harry, mirando o avental sujo de Lauren. Ela torceu o cenho.

— Quase consegui dessa vez. — foi tudo o que ela disse.

Tirou o avental coberto de farinha e uma gosma verde nada apetitosa lutava contra a gravidade, arrastando-se até quase encostar a maçaneta da porta como uma lesma. Lauren esticou a mão, revelando a varinha e balançou-a de um lado para o outro. A gosma desapareceu e o avental voou para dentro do quarto segundos antes da porta bater. 

Depois de guardar a varinha, Lauren bateu as mãos nas calças, livrando-se da farinha que insitia em continuar grudada ali. Harry achava graça em silêncio. Ela poderia simplesmente usar outro feitiço e se poupar do trabalho. Talvez até mesmo trocar de roupa com um segundo balançar de varinha. 

Harry ficou impressionado com a estampa do Elvis na camiseta preta, mas nada disse. Estavam atrasados, e ele não queria arriscar permanecer ali por mais muito tempo, principalmente se ficar ali significasse ter que testemunhar mais agluém trocando de roupa. Além de ser tarde da noite, também era feriado, e os uniformes clássicos eram totalmente dispensáveis àquela altura — e também não combinavam nenhum pouco com a situação.  Ainda assim, era estranho para Harry ver a amiga com roupas de trouxa.

— Como conseguiram invadir a torre da sonserina dessa vez? — ela perguntou.

—Hum... er... — Harry coçou a cabeça. Não precisava mentir para ela, mas aquela careta o deixava nervoso. Não era intecional, mas aqueles olhos tinham o poder de arrancar a verdade de qualquer pessoa. — Poção polissuco. Jorge se fez passar por Goyle durante algumas horas e, bom... o resto é um pouco mais complicado e não vem ao caso agora!

Quase todos os alunos da torre da sonserina entraram no primeiro trem daquela manhã, partindo diretamente para a King's Cross, onde retornariam logo em seguida as suas famílias para as comemorações de fins de ano. Até mesmo bruxos comemoravam o natal e o ano novo, e as tão esperadas férias estavam prestes a bater na porta também.

— Está tudo bem? —Lauren empertigou-se. Harry torceu o cenho.

— Bom, precisamos ir logo, eu acho...

— O que aconteceu? Ela está bem?

Jauregui...

Harry olhou para os lados, preocupado. Se mais alguém o visse naquele corredor, com toda a certeza seria expulso. Todos seus grandes atos heróicos dos últimos anos seriam varridos para o caldeirão do esquecimento. Ele precisava ser breve. O castelo não estava lotado como era de costuma, mas ainda assim... Ele sabia que Snape e Dumbledore ainda estavam por lá.

Lauren! — a menina gritou, cruzando os braços e bufando em seguida. — Já disse para não me chamar assim. Lauren. Meu nome é Lauren.

— Certo, certo! Lauren! Que seja. — Harry revirou os olhos. — Sim ela está bem, está tudo certo. Está na hora.

Aquelas três palavras mudaram tudo.

Lauren agarrou as mãos de Harry, puxando-o pelo corredor afora. Assim que cruzaram a pilastra central da torre, onde Fred, Jorge e Rony se escondiam, os três garotos dispararam logo atrás, alcançando-os sem grande dificuldade. Eles riam e sorriam enquanto desciam pelos degraus espiralados.

Harry prendeu a respiração quando atravessou a sala comunal da sonserina. Da última vez que estivera ali, ele precisou enganar Malfoy e a experiência, por mais divertida que tenha sido, não foi muito relaxante. Em toda e qualquer circunstância possível, evitar o menino Malfoy era sempre, sempre a melhor opção.

Por sorte, a sala estava vazia. A lareira, apagada. E nenhum sinal de outros alunos circulando pelo castelo àquela hora. Faltavam apenas dez minutos para às duas horas da manhã, e todos já estavam dormindo. Possivelmente. Bom, quase todos.

Quando, enfim, chegaram à passarela externa que dava acesso aos jardins, dois pontinhos coloridos surgiram em meio à escuridão. Um dos pontos era Hermione, que carregava um livro de capa dura e bem grosso rente ao corpo. Ela andava de um lado para o outro, balançando-o como se ninasse um bebê. O outro ponto em movimento era a aluna nova, transferida dos Estados Unidos, Camila Cabello, a quintanista mais popular de Hogwarts.

— O que está acontecendo? — ela perguntou. Seus pés agitados batiam contra a grama alta. Ela, diferente de todos os outros, ainda vestia um pijama rosa, feio e amarrotado. O cabelo estava bagunçado, mas preso. E, pela cara enrugada, parecia ter sido arrancada da cama contra sua vontade. — Hermione. — Camila lançou-lhe um olhar severo. — O que estão aprontando desas vez?

Hermione e os outros cinco se entreolharam, sorrindo. Camila continuou perdida, sem saber o que estava prestes a vir a seguir. Lauren deu um passo à frente, puxando o livro das mãos de Hermione. Fred e Jorge puxaram Rony para que se aproximasse, eles não queriam perder nada.

Lauren não conseguia parar de sorrir. Ela tinha planejado aquilo meses atrás, praticamente desde que os sentimentos dela por Camilla começaram a se tornar um pouco mais fortes do que um simples laço de amizade. Ela queria fazer um grande gesto. Algo que Camila nunca pudesse esquecer, mesmo que os anos passassem, aquilo permaneceria com ela.

Para sempre.

Harry não hesitou em ajudar, nem os outros. Não conseguiam recusar uma aventura, ainda mais daquela magnitude. Com quase todos os alunos longe da escola, aproveitando o feriado junto às famílias e ao redor da lareira, nenhum deles corria perigo de ser descoberto ou expulso de Hogwarts por estar fora da cama.

Harry assobiou, chamando atenção de Lauren, que agarrou o pulso de Camila e os instantes seguintes se tornaram borrões coloridos em um redemoinho catastrófico. Todos estavam de mãos dadas. Hermione abriu o livro. E eles foram sugados para dentro das páginas, desaparecendo sob as sombras do carpino.

Houve um grito.

E então o silêncio.

Noite Mágica | Embaixador SecretoWhere stories live. Discover now