- Felix...

Eles se encararam. O mais novo se remexeu de forma inquieta e segurou uma mão na outra mais uma vez.

- O senhor primeiro.

- Certo. - O homem respirou fundo. - Eu acho que a gente precisa falar sobre o que aconteceu aquele dia... sobre o que você disse.

- Me desculpa. - Felix sentia o corpo todo frio. As mãos tremiam e ele começava a não conseguir mais controlar a vontade de chorar. As mãos continuavam grudadas uma na outra, a cabeça baixa e o corpo curvado como se ele tentasse desaparecer. - Me desculpa, eu não queria deixar o senhor ou a mãe envergonhados. Eu não queria mesmo, essa nunca foi a minha intenção e eu tentei muito ser diferente. Eu tentei durante anos... eu ia à igreja todos os dias, eu pedi muito por uma cura, eu juro que pedi... eu tentei tanto... tanto... eu...

- Filho...

- Eu não consigo deixar de ser gay, pai. Eu não consigo. - Ele soluçou. Tudo o que estava engasgado estava sendo vomitado de uma vez só e o corpo magro chacoalhou quando o choro chegou. - Eu fiz tudo o que me pediram, eu rezei todos os dias, eu fiz o acompanhamento com o padre, eu tentei me afastar de tudo o que minha mãe dizia que era tentação, eu juro... eu me esforcei tanto... mas não dá. É o que eu sou... eu não queria que o senhor me odiasse. Eu sinto muito. Eu-

- Yongbok-

- Por favor, não me odeie. Eu sinto muito.

- Yongbok, olha pra mim. - Ele segurou o rosto do garoto e o levantou até que os olhos inchados pelo choro encontrassem os seus. - Eu não odeio você. Eu jamais poderia odiar você, filho. De onde você tirou isso?

- A mãe...

- Sua mãe é a sua mãe. Eu sou seu pai e eu vou te amar sempre, independente da pessoa que você escolher. O cara com quem você está te faz bem? - Ele assentiu devagar. - E eu vejo que faz. E está tudo bem. Eu jamais te odiaria por algo que eu sei que você não teve escolha.

- Eu sinto muito... - Pediu de novo e o homem negou.

- Para de se desculpar, você não fez nada de errado. - Ele sorriu pequeno. O rosto gentil fazendo Felix chorar ainda mais. - Eu sou velho, Felix. Minha geração é diferente da sua, tem muita coisa que eu não entendo e vou demorar muito pra entender... eu demorei tanto para vir por que também é difícil para mim, não porque eu não te aceite, mas por que não sei lidar direito com isso tendo certeza de que não vou te ofender, sabe? Eu sou caminhoneiro. - Explicou. - Eu vivo na estrada, e ela não evoluiu como o mundo onde você vive hoje. As pessoas fazem piadas sobre coisas idiotas o tempo todo e eu vivo ouvindo isso, é difícil por que tem muita coisa que eu fiz a vida toda e vou ter que mudar por que eu te amo e não quero te machucar. Eu jamais faria de propósito e eu preciso estudar, me atualizar... entender o seu mundo, sabe? Eu não quero que seja desconfortável para você estar perto de mim.

- Pai...

- Eu te amo, filho. Você é meu garoto, meu menino mais velho. Eu nunca poderia odiar você. Nunca. Não pense dessa forma. Eu queria poder te proteger de tudo, mas eu não posso, e é isso que me deixa nervoso e preocupado... tenho medo de como a sociedade vai te tratar e isso me mata. - Felix assentiu, mas não parava de chorar. Ele secou o rosto com as duas mãos e acariciou o cabelo que agora estava num tom mais claro de castanho. - Eu sempre vou amar você. Eu te aceito do jeito que você é.

- Pai... - Ele puxou o homem para um abraço forte. O rosto se afundando o peito dele enquanto soluçava, o sentimento de alívio e gratidão tomando cada pedacinho do corpo enquanto ele buscava palavras, mas não achava nenhuma. - Obrigado... muito obrigado... eu amo o senhor. Muito.

𝐁𝐑𝐈𝐍𝐆 𝐓𝐇𝐄 𝐇𝐄𝐀𝐕𝐄𝐍| 𝐇𝐲𝐮𝐧𝐥𝐢𝐱Where stories live. Discover now