1x12 - Montes Calmos (Parte II)

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A avenida, que Barnabé revelou ser a principal da pequena cidade, era interrompida no meio por uma praça larga e arborizada, que Pedrinho já divisava à distância. Segundo o peão, era lá que ficava o posto dos correios. Antes de seguirem para a praça, contudo, precisaram fazer mais uma parada, desta vez em um aviário.

Quando já estavam de saída, Barnabé chamou por um garoto que avistara atravessando a rua: - Ô Valtinho!

- Fala, Barnabé! - o outro respondeu-lhe.

- O telefone do teu patrão tá funcionando?

- Acho que sim, por quê?

- Porque quero usar né, sua besta! - exclamou Barnabé. - Fala pra ele que vou passar lá daqui a pouco. Não esquece, moleque!

- Tá certo...

Barnabé agitou o cabresto, fazendo o cavalo acelerar o galope até a praça. Chegando lá, peão e menino desembarcaram, e o primeiro tratou de amarrar seu animal à sombra de uma árvore. O ronco alto de motor anunciou a passagem de um carro conversível que contornava a praça no sentido contrário. Um rapaz trajando óculos escuros e uma jaqueta preta de couro estava ao volante. De pé no banco do carona, uma linda jovem de vestido florido e lábios rubros de batom sorriu e acenou um tchau para Pedrinho, ao que o carro passou em alta velocidade, rumo à saída da cidade.

- Essa garotada... - resmungou Barnabé. - Toma Pedrinho, o dinheiro pra sua carta. Os correios ficam ali do outro lado da praça, naquele muro amarelo, tá vendo?

- Já vi. - respondeu Pedrinho, recebendo de Barnabé uma moeda prateada. - É que eu queria também comprar um..

- Tá certo, tá certo.. - interrompeu Barnabé, esfregando a testa. O peão tornara-se, subitamente, mais agitado. - O presente pra Narizinho. Aqui, toma mais um cruzeiro-novo. Deve dar. Só não demora, viu? Vou resolver uma coisa aqui perto e já passo no posto pra te buscar.

O peão despediu-se e atravessou a rua, deixando Pedrinho com a impressão de que partia para dar o tal telefonema. Surpreendia o menino que houvesse um aparelho telefônico na cidade, já que estes eram raros mesmo onde morava. Na certa, deveria pertencer a algum comerciante rico.

Pedrinho guardou as duas moedas no bolso. A praça ao seu redor tinha o formato oval e possuía, ao longo de toda sua extensão, canteiros de flores separados por estreitas passagens cimentadas. Adiante havia algumas árvores dispostas desordenadamente, e Pedrinho não pôde deixar de sentir certo orgulho de si mesmo quando (graças as valiosas lições de Narizinho) foi capaz de diferenciar corretamente pitangueiras, goiabeiras, e pés-de-acerola. No centro da praça, além das árvores, existia um largo, no qual fora erguido um monumento de pedra.

Caminhando por entre os canteiros, Pedrinho foi pouco a pouco tomado pela impressão de que havia algo de estranho no ar daquela cidade. Por mais que a primavera se fizesse ver pela abundância de flores coloridas, não havia sinal de seu perfume. O sol não dividia o céu com nenhuma nuvem, ainda assim sua luz parecia incidir pálida sobre o verde das árvores, roubando-as de sua viçosidade. Subitamente, Pedrinho sentia o mundo como se este fosse um suco em que tivessem posto muita água. Estava triste, sem uma razão clara para isso.

Quem sabe, fosse só o susto que passara mais cedo na estrada.

Quem sabe, fosse só a falta que sentia de Narizinho.

- Meninas! Meninas, voltem aqui! - os gritos vinham de uma mulher.

Como se despertasse de um sonho, Pedrinho viu-se diante de duas meninas, a correrem de mãos dadas em sua direção. Tudo o que as diferenciava era a cor do vestido: uma usava azul, a outra, vermelho. Pedrinho espantou-se, nunca tinha visto irmãs gêmeas antes. Atrás delas, ainda cruzando o largo central, uma mulher carregando várias sacolas de compras fazia o possível para acompanhar as pequenas, mas estas não davam qualquer sinal de que atenderiam a seus apelos.

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