Capítulo 54 / Guilherme

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Você nunca saberá o que é verdadeiramente um silêncio mortal se nunca andou de carro com os meus pais.

Nenhum de nós fala nada a viagem inteira, o que nos permite passar o tempo todo ouvindo apenas o barulho chato do motor do carro. É sempre assim. Eu só quero chegar em casa logo e ficar no meu quarto. Nunca me sinto bem quando ficamos sozinhos por muito tempo.

No geral, das pouquíssimas vezes em que saímos juntos, esse silêncio só é quebrado pelo toque do celular de um dos dois, quando os clientes deles ligam várias vezes para marcar encontros ou reuniões. Milagrosamente, isso ainda não aconteceu. Os celulares ainda não tocaram, e quem quebra o silêncio é a minha mãe, quando já estamos entrando em casa.

- Então quer dizer que você e a Fernanda estão namorando?

Meu rosto fica quente. Eu sento no sofá e começo a desamarrar o cadarço do meu tênis, desejando que ela não perceba a minha raiva. Ela só notou isso agora?

- Isso já faz um tempo. - respondo friamente

Ela coloca a sua bolsa no sofá ao meu lado.

- Oh. Eu adoro a Fê, ela é uma ótima garota. Lembro de quando vocês eram menores, e aí eu levava você, Gui, para as aulas de karatê que ela frequentava. Lembra? - minha mãe ri - Você era tão ruim.

- Você não me levava. A empregada sim. - corrijo

- Sim, sim. Aliás, saiba que até hoje eu não entendo porque você pediu para que nós a dispensássemos. Ela cuidava de você desde sempre.

Meu pai vai até a geladeira e pega uma maçã.

- Isso é verdade. - ele morde um pedaço da fruta

- Pois é. - eu pego os meus calçados e, só de meia, atravesso a sala em direção ao meu quarto - Eu cresci. Não preciso mais de ninguém me vigiando. Nem mesmo vocês.

- Ei, mocinho. - minha mãe vem até mim e tira os tênis da minha mão - É impressão minha ou você está fugindo de uma conversa? Porque, não sei se você sabe, mas também é bom conversar com os pais ás vezes.

- Qual é, mãe? - eu pego os tênis novamente - Porque vocês dois estão fazendo isso agora? Até parece que se importam comigo!

Os olhos dela me analisam de cima a baixo, depois seu rosto assume uma expressão triste, como se só agora ela tivesse notado o quanto eu cresci. Eu estou até mais alto que ela.

Essa é a importância que eu tenho para eles?

Meu pai está esfregando a testa. A mão da minha mãe encontra o meu rosto.

- Ah, Guilherme. - diz ela calmamente - Não é nada disso.

- Então vamos apenas deixar as coisas voltarem a ser como eram antes, não é? Vocês no trabalho. Eu trancado no meu quarto. Simples assim.

Minha mãe suspira.

- Cabeça dura esse garoto...

- A quem você acha que ele puxou? - sugere meu pai

Ela ergue as sobrancelhas para ele.

- A você, claro!

Nesse meio tempo eu tento abrir a porta do meu quarto para fugir desse falso- momento-família, mas a minha mãe me impede me segurando pelos ombros.

- Querido, nós só queremos nos aproximar mais de você. Seria mais fácil se você fosse mais acessível. Ficar o dia todo nesse vídeo game não ajuda em nada, sabia?

Eu reviro os olhos.

- Ah, claro. Como se vocês ligassem.

- Guilherme. - meu pai me repreende

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