Capítulo 47 - Basta apenas querer enxergar

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"Algumas pessoas têm vida; outras têm música." (Will & Will – John Green e David Levithan)


Já são quase 09h30m e eu estou fazendo o que eu sei de melhor: fingindo estar prestando atenção na aula insuportavelmente quase interminável de biologia. Ontem mesmo, Fernanda criou um grupo no Whatsapp com todos os alunos da nossa turma, menos o Henrique. Nós combinamos tudo o que tinha que ser feito, muito embora a Fê tenha reclamado com o Gui que esse não é exatamente um "plano maquiavélico" para se vingar do Henrique, apenas algo que nós iremos fazer para nos divertirmos um pouco às custas dele, ao que ele respondeu com um beijo para que ela calasse a boca de uma vez. Eu acho que todos concordaram porque, bom, no momento estamos todos odiando o Henrique pelo que ele fez. Mas a Elisa em especial foi quem mais ficou entusiasmada, tanto é que ela e a Fernanda estão se entendo maravilhosamente bem, envolvidas numa conversa sobre pintar/raspar o cabelo das pessoas. Talvez ela queira o Henrique careca ou com o cabelo pintado de verde, embora ela saiba muito bem que ainda assim ele continuaria lindo e isso ainda a incomodaria.

Então (aleluia!) o sinal toca para o intervalo, e a Matilde sai da sala, mas nós continuamos aqui. No mesmo instante em que a porta se fecha atrás dela, todos levantam das suas cadeiras e as arrastam tentando fazer o mínimo de barulho possível, organizando-as numa espécie de círculo quadrado, se é que isso pode ser realmente possível.

– Gente, o que vocês estão fazendo? – Henrique pergunta, meio atordoado. Ele está sendo empurrado pelos meus colegas que passam com as suas carteiras, como se ele nem mesmo estivesse ali.

– Murilo, fica ali na porta pra nos avisar caso alguém esteja chegando. – Fernanda pede, e aí Murilo, com toda a sua forma oval, caminha até lá e se mantém ereto como aqueles seguranças de boates. Não que eu já tenha ido a uma, mas é algo que se vê bastante nos filmes.

Quando já está quase tudo pronto e todos já estão sentados, Guilherme caminha até a frente da sala, pega a cadeira da professora e a posiciona no meio do nosso círculo quadrangular.

– Henrique, querido. – Elisa diz, sendo meiga com um tom sádico na voz. – Poderia sentar aqui, por favor?

– Não! O que é isso? Pra quê isso tudo? – ele parece uma barata tonta – Me deixa sair, cara. – Henrique tenta empurrar Murilo, mas ele não é tão forte, então o nosso querido gorducho super-calado é uma espécie de barreira intransponível impedindo-o de sair para o intervalo e/ou se livrar de nós.

– Vem, Henrique. Vai ser legal. – eu falo, usando o mesmo tom que Elisa.

– Eu não vou pra lugar nenhum. – ele cruza os braços

– Certo. Imaginei. – diz Fernanda – Meninos, por favor? – ela acena com a cabeça para Lucas e Vinícius, e aí eles levantam e caminham até Henrique, o puxam pelos dois braços e fazem com que ele sente na cadeira a força.

– Qual é, galera? Isso é uma espécie de pegadinha?

– Digamos que sim. – eu respondo

Guilherme levanta a voz:

– Todos trouxeram os seus celulares e fones de ouvido? – todos tiram seus aparelhos e os respectivos fones das suas mochilas e os erguem.

– Ótimo. Agora coloquem suas músicas preferidas no volume máximo, e divirtam-se!

– Hãm? – Henrique franze o cenho

– Bruno, agora é com você. – o Gui troca um aperto de mão rápido com ele, então Bruno está de frente para o Henrique, que continua com a sua cara de: que merda é essa?

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