Capítulo 52 - Salve uma vida

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"- (...) Você nasceu para fazer isso.

Suas palavras me assustam. Nunca aceitei a ideia de destino ou sorte. O mundo sempre parecera volúvel e injusto demais para tais conceitos altivos. Mas se o destino era real, me levou a me apaixonar por um garoto invisível. E eu faria qualquer coisa para salvá-lo." (Invisível - David Levithan).

O médico não permitiu que ninguém entrasse na sala para ver a Ju, ele disse que ela está muito fraca e debilitada para receber visitas. Por isso eu não tive outra opção a não ser ir embora com o Gui, a Fê e a mãe dela. A mãe do Rafa conseguiu convencê-lo a ir para a aula, afinal, apesar de ninguém admitir, sabemos que a Júlia vai permanecer nesse estado por um bom tempo até que encontre um doador compatível - se encontrar - e o Rafa não pode simplesmente deixar de ir para a escola. Por mais que doa reconhecer, nem eu, nem ele, nem ninguém pode mudar essa situação. Bom, pelo menos é isso o que todos estão pensando. Que a única coisa que resta a se fazer agora é esperar.

Mas esse é um dos meus piores defeitos. Ou talvez seja qualidade, não sei. Eu odeio esperar.

No mesmo momento em que eu tenho a ideia, Fernanda entra na sala. Ela está atrasada, e eu nem tive tempo de passar na casa dela para acordá-la porque o meu pai parecia estar com pressa para alguma coisa muito importante hoje. Ela lança um olhar chateado para mim antes de sentar na sua cadeira à minha frente.

Eu vou logo falando:

- Hey, foi mal, tá? O meu pai estava meio apressado hoje.

Ela suspira.

- Tudo bem. - responde e me cumprimenta com um toque de mãos.

Guilherme vira para nós. A professora Joana nos mandou ler um texto qualquer sobre a Ditadura Militar no livro de história, e está agora sentada lá na frente, lendo um livro que eu tenho quase certeza que faz parte da coleção do Antônio. Ela está tão vidrada que nem liga para a nossa conversa.

- A coisa tá complicada, né? - o Gui lança um olhar melancólico para Rafael, que está sentando no seu lugar, tamborilando os dedos na mesa com um olhar perdido.

Fernanda morde o interior da bochecha.

- Sim.

Guilherme afasta uma mecha rebelde do cabelo dela.

- Ei. - eu começo - Mas e se...

E então eu conto para eles a minha ideia.

A princípio, eles parecem estranhar, mas depois de alguns minutos digerindo tudo, abrem um largo sorriso esperançoso.

- Vou tentar não criar muitas expectativas. - eu digo - Porque a gente sabe que é difícil.

- Isso é verdade. - diz Guilherme - Mas pelo menos estamos tentando.

Fernanda ergue as sobrancelhas para mim.

- Olha, até mesmo eu, que costumo ser a cabeça desse trio, tenho que me curvar para você, Paulista. Essa ideia é brilhante!

Sorrio.

O Gui faz uma careta para ela.

- Quem disse que você é a cabeça do trio?

- Eu estou dizendo, ué. Você tem alguma objeção? Quer dizer, até hoje a única ideia que você teve foi a daquela brincadeira que nós fizemos com o Henrique. Nada demais.

- Ei! - ele protesta - E você? Seu maior feito foi pintar o cabelo da Vitória de verde.

- E isso não é demais? - ela pergunta, como se fosse óbvio.

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