Charlotte

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Não era novidade alguma que Charlotte Evans encontrava-se novamente com o rosto enfiado dentro de um livro na biblioteca pública de sua cidade.

A jovem, desde muito cedo, frequentava o local diariamente, dedicando horas e horas a escolher um belo livro, com uma história cativante e muito, muito romance. Era uma romântica, afinal. Desde antes, seu gosto pela leitura havia sido seu refúgio, um porto seguro. Onde sua criatividade ficaria a solta e ela estaria ao lado de seus personagens, conhecendo-os, batalhando ao lado deles e estando livre e solta para ser ela mesma.

Uma sonhadora.

Não fazia muito tempo desde que alcançará a maior idade e muito menos tempo que começará a trabalhar junto da velha Doris, a bibliotecária. Ela a conhecia a dez anos e achou mais do que justo contratar Lotte para o serviço, juntando a crise financeira da menina junto com a avassaladora adoração por aqueles livros velhos e cobertos de pó. Desde o primeiro dia, a jovem já mostrará ser uma dedicada e competente funcionária, começando pela limpeza das prateleiras e organização dessas.

Lotte estava na penúltima prateleira da biblioteca, com um balde cheio d'água e um pano encardido pendurado no ombro. Era para estar limpando e começando com a categorização dos títulos, mas acabou perdendo-se nas frases bem elaboradas e na fantasia e na ficção. Era como ser atraída por um imã, como as abelhas atraiam-se pelas flores. Ela não podia evitar, era um pequeno vício saudável.

O Sol, antes brilhante, agora estava pondo-se, dando lugar para seu par, a Lua. A coloração alaranjada cedia seu lugar para o azul negro da noite. Os pontos brancos distantes da Terra agora brilhavam intensamente na noite e a Lua estava completamente redonda e pulsando. Aguardando, esperando.

Mais rápido que um leopardo, tão ágil quanto uma cobra.

Um tremor passou sob os pés de Lotte a desequilibrando. O balde havia virado e algumas prateleiras ameaçaram cair diante da jovem. O livro, antes muito interessante para Lotte, estava esparramado no chão, com páginas molhadas e uma história interrompida. Lotte sentiu o tremor assim como sentiu sua própria pulsação parar e voltar ao normal, os batimentos agitados e a respiração ofegante. As lâmpadas do teto piscavam demoradamente e balançavam conforme a rápida movimentação da terra sob seus pés.

Um leve terremoto.

Para assustá-la ainda mais, o som do sino soou em seus ouvidos. A porta da biblioteca carregava um pequeno objeto que acionava conforme as pessoas entravam e saíam. Mas Lotte sabia que ninguém viria. A biblioteca era apenas um património público, porém nada interessante para o povo de Charlotte. Doris e ela ficavam, praticamente, o tempo todo sozinhas dentro da mesma; catalogando, arrumando e separando. De vez em quando lendo e deliciando-se das incríveis vidas dentro das histórias. Mundos, países e povos completamente diferentes do mundo de Lotte. Histórias criadas pela imaginação e pela fantasia, para consolar corações solitários como o dela, para que tivessem um refúgio do mundo real.

Um portal para outro mundo.

Praguejou mentalmente ao observar o estrago no livro, junto do carpete ensopado e coberto de sabão. As luzes ainda piscavam; Lotte permanecia apoiada contra a prateleira, acalmando seus nervos e sua pulsação, exigindo para que seu corpo voltasse ao normal, para controlá-lo. O estranho soar do sino voltou aos seus ouvidos e a jovem acreditava fielmente que a porta havia aberto devido ao tremor do solo. Era isso, com certeza.

Não demorou para que ela voltasse ao seu controle, forçando suas pernas para a mesa central, a qual ficava ao lado da porta de entrada. Ela não estava preparada para o desabar da chuva ou para os raios estalando no céu. E com certeza, não estava preparada para a mulher de preto completamente molhada na porta. Os pingos faziam um caminho direto para o carpete velho e desbotado da velha biblioteca e os cabelos loiros estavam saindo através do capuz.

Portadora da Luz: Entre Dois MundosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora