A Corte Primaveril

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Votem e comentem.

Fazia mais de 10min que Lotte persistia em beliscar o próprio braço, obrigando sua mente a acordar devido a dor; o braço estava avermelhado e levemente dolorido causando uma pontada de ardência. Seus olhos ainda estavam brilhando e a boca entreaberta suspirando. Não é possível, pensava ela. Seus sonhos custavam consistir em figuras, borrões, algumas frases desconexas, mas não uma linda floresta no auge da primavera com pinheiros altos, um céu azul e diversas espécies de plantas.

É a coisa mais linda que já vi.

As árvores tão grandes, capazes de tocar o céu; a grama verde, brilhosa e com gotículas de água; o Sol ardia intensamente causando calor em Lotte. Ela, maravilhada, não conseguia observar sem sentir-se completamente extasiada. A beleza estava por toda parte, em cada pétala de rosa, em cada animal visto. Os pássaros cantavam alegremente do topo das árvores, coelhos escondiam-se, havia trotes de cervos. O ar tão puro quanto o mais belo anjo, a energia viva e de paz estavam visíveis. Ao fundo, um castelo branco, com grandes janelas e torres altas com o brilho do Sol transmitido pelas vidraças, o contraste do edifício branco com o azul do céu.

Definitivamente, o melhor sonho da jovem.

Depois de certificar-se que não havia o que temer, Lotte tratou de se levantar rapidamente e colocar o livro debaixo do braço, seguindo rumo ao castelo. Passava por todas as árvores, observando cada parte da floresta. Estava numa das planícies altas, como uma pequena montanha, seguindo pela trilha quase invisível da mata. Flores de diversas cores brotavam e ela sentia como se tudo estivesse vivo naquele lugar. O castelo mais adiante estava cada vez mais visível, o que fazia a jovem notar as manchas amareladas do Sol e as manchas pretas e marrons de sujeita. Algumas janelas da parte inferior estavam completamente quebradas, o que lhe dava uma visão do interior. Cortinas rasgadas, móveis quebrados, uma casa abandonada.

Perto o bastante, Lotte bateu a porta. Uma, duas, três vezes. Absolutamente ninguém. Sem hesitar, ela adentrou o recinto.

O chão de mármore estava manchado de lama e flores esmagadas; cacos de vidro e um lustre caído no pé da escada. O cheiro de podridão, sangue e carne lhe invadiam as narinas, junto com o cheiro de pelo molhado. Continuando seu caminho pela entrada a direita, Lotte observou as marcas de garras longas cravadas na parede, como uma tatuagem e mensagem para os invasores. Cortinas rasgadas, móveis quebrados e desgastados. O cheiro de carne assada ainda prevalecia por aquele cômodo. Ela seguiu o cheiro até estar na cozinha, tendo uma visão do quintal atrás da propriedade.

Uma fogueira, um bicho semelhante com um boi morto no quintal e com a barriga exposta. Um homem mal vestido estava com um espeto na fogueira e Lotte imaginou como um homem conseguiria derrotar um boi imenso daqueles. Não havia notado a mesma ainda, concentrado apenas em assar um espeto de carne. É apenas um sonho, pensava consigo mesma. Para não fracassar, a jovem abriu a porta e atravessou para o quintal enorme. Um rosnado perto o suficiente fez com que a mesma estancasse no local, controlando a respiração e se mantendo de olhos atentos. Então, Lotte presenciou a coisa mais extraordinário de sua vida.

O homem anterior havia virado para ela, logo se transformando com um clarão em uma bela besta com chifres. Em questão de segundos, o homem maltrapilho havia virado uma fera. Uma mistura de lobo com leão, com garras enormes e chifres pontiagudos no topo da cabeça. Os olhos a observavam ferozmente e a boca exibia dentes tão grandes quanto dedos humanos.

- Ouu... - estava demasiado impressionada com aquilo. O susto já havia passado e apenas admiração era o que estava em seu olhar.

Entretanto, a fera desconfiada continuou a rugir e rosnar e exibir os enormes dentes. A pelagem antigamente dourada e sedosa, agora era semelhante aos pelos de um cachorro de rua. Escura, suja e coberta de nós. Os olhos a observavam e ele começou a farejar em sua direção, andando tão lentamente, como para assustar a jovem. Para que a mesma corresse de si logo. Quem é você?, era o pensamento do homem-fera.

Portadora da Luz: Entre Dois MundosWhere stories live. Discover now