Nas garras da morte

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Eu era conhecida na escola e na vizinhança pelos meus lindos cachos negros que batiam na cintura, os quais diziam lembrar uma Rapunzel morena. Mas, para mim, eu era a menina órfã. Minha mãe faleceu quando eu nasci por complicações no parto e meu pai antes disso acontecer. Então fui criada pela minha avó, que todos chamavam de Cássia das verduras. Isso antes dela resolver cuidar de mim. 

Desde pequena, ela e o vovô Carlos me ensinaram tudo o que sabiam sobre plantações, irrigação, poda, colheita... e vida. Me ensinaram sobre o Criador e Doador de toda a vida existente no Universo afora.

Mas minha pessoa mais jovem recusava-se a acreditar nesse Deus que tantas pessoas costumavam e ainda costumam dizer... bom.
Ora, se Ele é tão bom, minha vida não deveria ter começado tão desastrosamente, não é? Quando perguntava à vovó porque Deus não havia salvado a mamãe, ela dizia que em tudo havia um propósito. Que, talvez, no futuro, fosse melhor assim.

 A pequena Gabriela de 5 anos corria para o quarto e chorava. Mas a Gabi de 15 anos...

— Porque ainda insiste em tentar me converter, vovó? — cruzava os braços

— Gabizinha... já lhe disse que a escolha será sua —  ela passava a mão em meus cachos — Mas eu consigo ver um grande e lindo plano de Deus em sua vida, meu amor.

— Que lindo plano deve ser! — revirei os olhos — Considerando que já perdi meus pais, minha casa na fazenda e agora uma oportunidade de estudar na melhor escola de ensino médio da Paraíba...  estou ansiosíssima para ver o que Deus fará a seguir! — abri o maior sorriso cínico que consegui

Nos últimos 10 anos meus avós não conseguiram mais bancar a fazenda que morávamos. Vô Carlos vendeu tudo e comprou uma casa numa área central da cidade. Isso até foi bom por uma parte, já que me dediquei aos estudos com maior firmeza, com o objetivo de arranjar uma vida melhor para a minha pequena família. E a oportunidade de ouro havia chegado na minha porta: estudar numa escola técnica! Eu já poderia sair do Ensino Médio apta a trabalhar em ótimas empresas, principalmente de tecnologia. Mas, por algum motivo, minha matrícula foi rejeitada.
Fiquei muito brava com tudo aquilo. A vovó Cássia tentava me acalmar com as mesmas "besteiras" sobre Deus e Sua palavra , mas eu não queria ouvir. 

— Vó, Deus não pode me ajudar! — costumava bater o pé e segurar as lágrimas — Ele não pode, e sabe porque? Porque Ele não existe! Porque é apenas uma crença popular, como aquela superstição de gato preto, trevo da sorte ou espelho quebrado. 

Minha vida por fim virou de ponta cabeça quando vovô, naquela mesma semana, faleceu. Acompanhando a dor do luto ao lado da vovó, às vezes eu queria perguntar pra ela onde Deus estava agora. Mas logo desisti, ao vê-la simplesmente me abraçar, sabendo que eu também sofria com a perda de mais uma das pessoas mais importantes da minha vida.
Estávamos sós.

Naqueles dias eu me sentia vazia. Ouvi o mundo gritar em meu redor que para ser feliz, eu precisava preencher a mim mesma, ser dona de mim. Então procurei me preencher com coisas vazias; festas, bebidas, jogos... o problema era quando elas acabavam.
Porque o que é temporário só preenche temporariamente.

Muitas vezes chegava bêbada em casa, passando mal e ainda fazendo vovó Cássia chorar desesperadamente quando uma vez fui parar no hospital quando numa das festas que frequentei, baderneiros provocaram uma briga e muitas pessoas que nada tinham a ver foram feridas, como eu.

Dias viraram meses, e meses viraram enfadonhos anos. E a cada ano que se passou, mais vazia eu ficava. Mais morta eu ficava.

Eu estava só. E a pessoa que eu mais odiava naquele momento não era a vovó. Não era Deus, uma vez que eu o considerava uma lenda. Era a mim mesma.

Eu havia me posto naquele problema, naquela confusão, naquele poço de morte. Eu mesma estava disposta a resolver esse problema, dando um fim naquela vida infeliz.

Não pensava em como vovó Cássia ficaria sem mim, na verdade, acreditava que havia sido um empecilho na vida dela. Só havia trazido desgosto aquela gentil senhora de olhar amoroso, que largou tudo o que construíram e conhecia apenas para me ver crescer feliz e saudável.
Entrei no quarto com uma caixa de remédios e me tranquei lá. Olhei meu rosto vermelho e inchado, como se o visse pela última vez no espelho; as lágrimas banhando minhas bochechas enquanto passava um filme dos meus últimos 17 anos. 

Ergui os olhos ao teto e sussurrei para ele, engasgando as palavras com as lágrimas:
— Você não pôde salvar aqueles que eu mais amaria, por que conseguiria me salvar?

Acho que esperei por segundos em silêncio, como se ... quisesse ser salva daquela perdição. Eu não acreditava que existisse um Deus salvador, não acreditava que Ele me amava antes, quando permitiu que minha vida começasse tão terrivelmente... então porque se importaria com o fim desta?
Eu estava só. Eu era a única culpada por tudo aquilo. Então eu mesma daria um fim naquilo. Quando já estava para engolir a cartela inteira, o inesperado aconteceu.

E aí pessoal, o que acharam dessa apresentação da vida de nossa Gabizinha? Eu só queria abraçá-la agora!
O que acham que aconteceu em seguida? Ah, só vai descobrir quem continuar a ler!
🌟Não esqueçam da minha estrelinha hein?

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