Capítulo18- Carnificina

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TW: mutilação, morte de animais, gore.

O local parecia uma grande carnificina.

Vanessa encarava o grande rio que descia pela costa da cidade com os olhos arregalados e os braços cruzados. Atrás dela estava o delegado da pequena cidade, cutucando o próprio chapéu enquanto coçava a cabeça.

O local parecia um grande cemitério de animais. Corpos de todos os tamanhos estavam ali jogados, de cervos até esquilos, todos mortos sem violência aparente. Haviam tantos que a passagem até Odda estava obstruída, e o cheiro pútrido embrulharia o estômago de qualquer pessoa que passasse ali. Os olhos dos bichos sem vida causou certo incômodo em Aaron, que educadamente disse que ficaria na viatura enquanto a detetive olhava o local.

— Aconteceu Durante o apagão. Quando amanheceu, o rio estava mais fraco que o normal, então viemos ver o que estava acontecendo.— O policial comentou com Vanessa.— Só pode ser um mal sinal.

— Estamos perdendo tempo aqui, os corpos dos animais deveriam ser encaminhados para a necropsia. — A detetive sugeriu, mas seu posicionamento não agradou nenhum um pouco o morador local que os acompanhava.

O senhor de aparência humilde com um terço em seu pescoço se virou para a brasileira.

— É por esse motivo que estamos recebendo uma punição divina, não devemos interferir nos assuntos da natureza. — Pregou, aumentando o tom de voz de maneira que o seu se sobressaísse ao da oficial.

Prevendo a discussão que resultaria em seguida, o policial Martin ergueu ambas as mãos como forma de pedir calma, mas já era tarde. Vanessa soltou uma risada nasalada em resposta ao comentário do norueguês, sem interesse algum em manter a discrição.

— Existem duas explicações razoáveis para essa situação: coincidência ou ação humana. Não costumo acreditar em coincidências. — Ela prosseguiu, coçando o nariz na tentativa de se livrar do cheiro de morte.

— A ignorância de quem não conhece as outras religiões além do que está acostumado acaba causando tragédias assim.— O homem respirou fundo, ajeitando o casaco pesado que usava.— Não duvide da força dessas terras, detetive.

Ambos andaram de volta a estrada, onde a viatura estava parada. Mesmo de longe era possível ver o lenhador dentro dela, e esse não parecia nada feliz encarando a mata, os pinheiros estavam tão altos que quase cobriam o caminho.

Martin se apressou a sair na frente, evitando ouvir a briga que poderia surgir entre Vanessa e o cidadão de Odda, que por sua idade avançada, claramente não desistiria da conversa.

— Eu estranhei quando soube que estava no chalé do Strøm, mas agora eu entendo sobre a falta de respeito que você tem. — O velho comentou, estreitando os olhos por conta da luz indireta atrás das nuvens.— A ignorância é uma benção. Joga a culpa dos problemas num bode expiatório.

— É mais eficaz do que fechar os olhos e aceitar os infortúnios como se fossem uma punição divina. — A detetive respondeu na altura, aquela comparação havia a irritado mais do que deveria. — Nós já estamos no inferno, sua crença não vai trazer salvação alguma.

Para abafar o barulho, Martin havia se afastado alguns passos do grupo para atender uma ligação. Pela expressão de Aaron a detetive presumiu quem estaria do outro lado da linha, apenas uma pessoa naquela cidade era capaz de o afetar tanto.

— Iremos queimar os corpos em um local afastado. — O delegado anunciou guardando o celular no bolso interno de seu casaco. — Não há sangue, nem sinal de violência, foram causas naturais.

Aquela conclusão havia sido tão absurda que Vanessa sequer escondeu a sua indignação. Estava claro para si que nem mesmo o oficial Martin acreditava nas próprias palavras; o único que pareceu satisfeito com a solução foi o velho norueguês.

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⏰ Última atualização: Apr 14, 2022 ⏰

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