No entanto, por estar tão absolto nesses questionamentos, nem prestei atenção por onde andava... Um contato repentino com outra pessoa quando fui virar o corredor me fez acordar para a realidade e, por um reflexo rápido dos meus pés, não caí.

          — Ai, foi mal- — Tentei falar, antes de ser agarrado pela gola da camisa.

          Não houve resposta, nem aviso prévio, apenas o impacto direto no meu rosto que, dessa vez, me derrubou. Pude sentir meu olho arder, e nada fazia sentido, tudo era só um borrão ainda. Até que, pela voz, entendi o motivo de ter levado um soco bem no meio do corredor.

          — Seu filho da puta! É culpa sua! — esbravejou Igor, me agarrando pelo colarinho mais uma vez e me colocando de pé. Agora, cara a cara, conseguia vê-lo com clareza... Seus olhos marejavam enquanto as pupilas contraídas me encaravam. Dentes cerrados e titubeantes enquanto falava atenuavam ainda mais seus sentimentos. — Se você não estivesse aqui, a Isa nunca estaria daquele jeito! Eu te avisei pra ficar longe dela, não avisei?

          Com uma força que eu desconhecia — ou talvez porque meu corpo não queria resistir —, o príncipe jogou seu braço para trás e se preparou para dar outro soco. Era fácil sair dali, mas minhas pernas não respondiam. Não, era como se elas desejassem essa punição... Para piorar, não conseguia nem o encarar nos olhos. Afinal, ele estava certo. Foi tudo culpa minha.

          Preparado para receber o golpe, me virei, mas o impacto nunca veio. Quando abri os olhos para tentar entender, lá estava a Ciel, segurando-o pelo pulso. Só de ver, dava pra perceber que a garota não estava se segurando. Não que o cenho franzido pra ele já não entregasse isso.

          — Príncipe Igor, largue-o agora.

          — E-Ei, você está me machucando, sua androide idiota! — Não houve resposta por parte dela, nem mesmo uma mudança de expressão. Ainda assim, pelo jeito que sua mão se contraiu e a pele dele começou a avermelhar naquele ponto, pude entender qual foi a sua resposta. — A-Ahh, cacete!

          O babaca me soltou na mesma hora, Ciel fez o mesmo em resposta. Seu pulso estava bastante vermelho, então posso imaginar a força que a garota usou...

          — Você está bem, Gustavo?

          Ciel não tardou em se aproximar de mim e me ajudar a ficar de pé. Após algumas tossidas, olhei ao redor. Algumas das poucas portas do corredor se abriram e olhares curiosos de funcionários e alunos procuravam entender o que estava acontecendo.

          — Sim, sim... Não foi nada...

          Até que uma porta específica se abriu. Diferente dos outros, essa pessoa teve coragem e se aproximou. Só a sua presença já impunha respeito, até mesmo naquele príncipe babaca. Cabelo roxo curto, um cavanhaque cheio e músculos enormes, no mínimo. Por mais que seus filhos fossem relativamente baixos, o homem, ironicamente, era bastante alto... O rei em pessoa estava ali.

          Acabamos nos encarando por alguns segundos, mas uma enorme decepção me pintava em seus olhos.

          — Não foi esse o combinado. Esperava mais de você, Gustavo...

          Por vergonha e culpa, abaixei a cabeça. Num murmuro, dei a única resposta que cabia na minha situação.

          — Desculpa... — O homem ajeitou a abotoadura das mangas de seu terno e começou a caminhar de volta para o quarto, seguido pelo seu filho. Antes dele entrar, no entanto, o chamei mais uma vez. — Como ela tá?

          — Se recuperando.

          — Eu posso vê-la...?

          Por alguns segundos, ele ficou quieto, me deixando ansioso pela resposta. Mas, quando ela veio, me desestabilizou por completo.

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⏰ Última atualização: Oct 09, 2021 ⏰

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