Capítulo 10

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          Durante aquela noite, tudo com o que pude sonhar foram as memórias do que tinha acontecido. Não sei nem quantas vezes aquela cena se repetiu. Não sei nem quantas vezes fui obrigado a ver a Isa se machucando bem na minha frente. Não sei nem quantas vezes me senti um completo inútil por não conseguir fazer nada para ajudá-la...

          Um completo inútil, é... isso me define bem... Pensava eu. Mas, quando as coisas estavam para se repetir outra vez, meus olhos começaram a se abrir. O quarto ainda estava escuro. Um fio fino e alaranjado entrava pela cortina da janela, mas mal chegava a iluminar o chão. Com mais um pouco de esforço, abri os olhos e tentei desembaçar a minha visão... Agora, imaginem o susto que eu tomei ao ver dois orbes escarlate me encarando, próximos do meu rosto, bem ao lado da cama.

          — A-Ahhh! — gritei, levantando-me com pressa enquanto me afastava para a parede. — C-Ciel, o que você está fazendo aí?

          — Eu não preciso dormir. — A androide também se levantou, mas não deixou de me encarar. — Então fiquei de guarda a noite inteira. Mas, por algum motivo, ficar te observando me acalmava...

          — Ah... Tá, tudo bem. Que horas são?

          — Exatamente seis horas, quarenta e dois minutos e vinte e quatro segundos da manhã.

          Tão cedo... Mas não acho que vou conseguir dormir de novo...

          Com um longo suspiro, me pus de pé e fui até o guarda-roupa. Percebendo que nosso dia começaria pra valer, a Ciel abriu a janela. Embora não tenha feito o quarto ficar realmente claro, me ajudou a ver melhor as opções de roupa e pegar uma que não estivesse surrada. Assim que terminei de me arrumar, fui em direção à porta, seguido pela garota. Como sempre, ela se manteve atrás de mim enquanto caminhávamos.

          — Então... Para onde iremos? — perguntou a androide.

          — Hoje é sábado, então tenho aulas práticas durante a tarde. Quero ir ver a Isa antes delas começarem...

          — Ah, a senhorita Isa... Eu acessei os registros médicos dela pelo Lago. Parece que o ferimento foi tratado com sucesso, e ela está fora de perigo.

          Meu coração acelerou quando ela começou a falar da minha amiga, mas se acalmou com as boas notícias. Mesmo assim, tinha que vê-la. Era o mínimo que podia fazer...

          — Obrigado, Ciel. Se você não quiser ir comigo, pode me esperar na cafeteria, vou pra lá assim que conversar com a Isa.

          — Onde o mestre for- — Ia dizendo ela, até parar e fingir uma tosse totalmente artificial. — Onde você for, irei junto.

          Não pude conter o riso e confesso que essas atitudes meio "cabeça de vento" dela aliviavam um pouco o clima. Nós continuamos até chegar à enfermaria. O mesmo lugar em que eu tinha ido parar todas as vezes que me machuquei desde o início das aulas. Na verdade, o local estava mais para um pequeno hospital do que "só uma enfermaria". E mesmo tendo entrado lá diversas vezes — fosse pelas surras que levei da Chris nos treinos ou pelos machucados das atividades de clube —, uma ansiedade estranha tomava conta do meu peito.

          Parado na porta, precisei respirar algumas vezes pra tomar coragem. Mas, quando tomei, fui direto até o terceiro andar. É lá que aqueles com machucados graves ficam internados. Vale ressaltar que eu não estava focado enquanto fazia esse caminho... Na verdade, minha mente vagava tanto que os longos corredores do hospital não passavam de um borrão.

          Será que ela está bem mesmo? E se o ferimento causar alguma sequela? Não, pensar isso não vai ajudar em nada, eu tenho que chegar lá com um sorriso. Mas e se ela pensar que isso é um deboche? Droga, droga, droga! É tudo o que rondava meus pensamentos.

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⏰ Última atualização: Oct 09, 2021 ⏰

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