1° Capítulo

4.2K 348 67
                                    

Narração: Pamela

Me sentei no outro lado da rua e acendendo um cigarro, exausta e frustrada comigo mesmo.
Pamela: Tomar no cu, que caralho! Merda, merda!!! -murmuro sozinha.

Essa paciente não poderiia ter morrido, eu não aceito de forma alguma paciente morrer na minha mão. Acho o cúmulo do absurdo! Tudo bem que a permissão vem de Deus, mas profissionalmente falando ela tinha que ter resistido, droga.
Como fui insuficiente.
Eu não aceito mais paciente nenhum esse ano falecer no meu plantão, senão eu vou abrir mão de tudo e que se foda sonho.
Isso é um Absurdo Pâmela!

Cuidar é vida!
É de mim, sempre gostei de zelar pelas pessoas ainda mais que perdi minha mãe nos meus braços por falta de socorro. Eu não sabia o básico, que era primeiros socorros, inconformidade!!!  Minha vida sempre foi de muita luta, sofrimento, vida árdua, de suar para ter o de comer, precisei me virar muito cedo já que eu quis ter independência aos 13 anos, já fiz de tudo, onde eu cheguei hoje ainda não é o lugar que eu mereço estar.

Chegou um paciente baleado com um tiro de 762 na perna, resultado da operação, aqui atrás na favela do Manguinhos.
— Doutora, está horrível!!! —Falou a acompanhante que invadia junto hospital a dentro.
Doutora. Quase lá, com mais alguns anos de faculdade e prontinho, existe uma grande diferença em ser titulada de: doutora e enfermeira. E é enorme, mas o egocentrismo é bem maior, dentro de um hospital e querem a todo momento enfesar que você NÃO é aquilo do que os leigos te chamam. Eu não ligo, pois sei quem realmente sou.

Fui ver o quadro do rapaz e era crítico, uma bala de 762 ela entra discretamente, mas por onde ela sai o estrago é estrodoso e dificilmente tem como reverter isso; menino novo apenas 19 anos e já passando por isso, é foda! As vezes tento não misturar o emocional com o profissional, só que eu tenho parentes nessa vida e é difícil não pensar neles num momento como esse. Não adianta falar, eles acham que só acontece na televisão. Enterrar é mole, difícil é ter a pessoa na sua maca ainda com vida, nas suas mãos e não conseguir fazer mais do que se pode. . .as vezes nem pode.
Conviver com a dor do luto é algo obrigatório, mas a frustração de não ter conseguido salvar aquela pessoa te juro que é piorrr; ainda mais uma pessoa como eu, que me cobro demasiadamente, é culpa para o resto da vida.

Cheguei em casa cansadona e ainda tinha que ir para a visita do meu irmão, enquanto eu só queria comer e dormir. Te falo, a vida da nega é pica!
Estava no banho quando ouço me chamarem, esmurravam meu portão, saí rapidinho do banheiro e vestindo qualquer coisa. Fui até o portão e tinha uns três garotos desorientados, aflitos.
Pâmela: Bom dia?!
— Bom dia doutora, é bagulho urgente, o chefe tá baleado lá no Jaca e a senhora precisa ajudar a gente. —Dizia com rapidez, nervoso— Teu irmão deu o papo que tu é médica.
Pâmela: Não sou médica não, o Robert é o quê? Ele é maluco?
— Mas tu trabalha num hospital que o chefe tá ligado, qual foi doutora? Fortalece nós!!! —Dizia quase que implorando.
Eu penso duas vezes antes de ir, penso o quão isso pode me comprometer e foder com a minha vida um dia. . .

Só peguei alguns materiais e me troquei e lá fui eu para o Jacarézinho num uber que os meninos trouxeram exclusivamente para me levar. Assim que cheguei tinha uma moto me esperando e me levou até o local se não me engano era no tal morro do azul. E eu com toda a paciência do mundo comecei a atender o homem com um tiro no braço, nesses casos assim eu tinha que virar profissionais que eu não pretendo ser, como cirurgião. Para ser sincera, detesto! Anatomia foi a parte que mais mexeu e mexe comigo, "ah tem que ser fria!" Fria o caralho, porra! Sou de carne tambem, comigo não tem essa, "ah então sai do ramo" Canso de ouvir isso e muito mais por aí. Mas, amar é passar por cima dos seus medos e tormentos para fazer dar certo tal situação. E é isso que me mantém aqui.

Fiz a retirada da bala que não queria sair nem pelo um caralho, porém fiz a retirada e o curativo e sem anestesia e o cara lá na maior frieza, se segurando e nem um grito sequer deu. Deus é mais!!!
— Brigadão! Tamo junto doutora!! Desculpa aí qualquer coisa, fortaleceu grandão!!!

Meu irmão nem lá em Gericinó me dar sossego, só me arruma problema.

E assim é a minha rotina diária, à minha luta e que mesmo com todas as adversidade eu amo e sou foda no que faço!
Como me chamam; prazer, futura
.
.
.
.
.
Doutora Pâmela.
27 anos

11/05/2023Bora lá tentar voltar para este app

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.


11/05/2023
Bora lá tentar voltar para este app.
Interajam comigo hein
🚀💚

LINHA DE FRENTE - DO MORRO 🩺💥🤍💉Onde as histórias ganham vida. Descobre agora