Capítulo 1

918 59 4
                                    

Acordo para mais um dia de luta. Dia cheio, inclusive.

Sei que eu não posso e não tenho do que reclamar mas as vezes, até pra mim, as coisas ficam difíceis.

Sei que isso tudo não parece passa de um grande "white girl problem" mas eu realmente me sinto muito sobrecarregada.

Meu filme novo saiu faz uma semana, teve o tapete vermelho e agora as minhas fotos estão por todo lugar e, sendo filha do Robert Downey Jr, é claro que esperam que eu seja uma boa atriz mas...e se ninguém gostar do filme? E se acharem que outra atriz poderia ter feito um trabalho melhor? E se eles não me acharem boa o suficiente para ser filha do grande ator que meu pai é e eu não conseguir carregar o grande legado dele?

— Clara, já está de pé, querida? Não vai se atrasar no seu primeiro dia! —minha madrasta (que eu carinhosamente chamo de boadrasta, já que eu não consigo considerá-la minha mãe) chama provavelmente do pé das escadas, me tirando de meus devaneios de preocupação.

— Levantei! — grito. Reúno todas as minhas forças para sentar e botar os pés para fora da cama, fora do cobertor quentinho e confortável que cobria minas pernas. Mais um desafio: ir para a escola.

Eu cresci com muita gente sabendo quem eu sou, definitivamente mais do que geralmente acontece com pessoas normais, e essa atenção aumentou ainda mais agora, com centenas de jornais (em diversas línguas diferentes) anunciando meu nome, todas dizendo algo como: "Clara Downey, filha de Robert D. Junior, famoso Tony Stark, estrela seu primeiro filme na Marvel."

Me levanto e me preparo para o dia. Tomo banho, escovo os dentes, faço uma maquiagem leve e babyliss no cabelo. Com toda a atenção que eu recebo desde pequena, eu sempre senti uma pressão muito grande em cima de mim para sempre parecer bonita ou andar bem arrumada, não seria diferente agora que eu entrei no último ano do ensino médio em uma escola nova.

Londres. Sempre uma cidade graciosa, com uma arquitetura impressionantemente bonita, apesar de bem estressante algumas vezes. Aqui as pessoas são assim, todas vivem em seus mundinhos com suas preocupações e a fazeres, andando para lá e para cá num ritmo acelerado. Sempre assim.

Meu pai comprou uma casa aqui e disse que talvez a gente fique até que eu termine a escola, ele tem algumas coisas para resolver, pessoas para visitar, entrevistas para dar e eu tenho uma vida para tentar, de alguma forma, adaptar aqui.

Mas eu vou conseguir, eu tenho que conseguir.

Pego meu celular, são 8:10, o que significa que eu tenho 30 minutos para tomar meu café e chegar  na escola. Desço as escadas levando minha mochila comigo, estava tudo arrumado e pronto desde a noite anterior graças a minha ansiedade.

Meu pai estava na mesa da cozinha saboreando as torradas que Susan fez para nós.

— Bom dia pai. Bom dia, Susan!— digo animadamente.

— Bom dia minha filha. Como está? — ele pergunta enquanto eu me sento na cadeira ao seu lado. Respiro fundo. Susan responde meu bom dia.

— Nervosa. — respondo honestamente.

— Vai dar tudo certo, você está maravilhosa. — ele elogia o uniforme (o qual era um clássico das escolas inglesas privadas: uma saia quadriculada, meião, camisa social e um blazer com o brasão da escola) e meu trabalho com a maquiagem. Eu devo ter demorado uns 5 minutos só tentando dar um nó nessa gravata enquanto me perdia em pensamentos.

— O senhor vai me levar? — pergunto saboreando minha torrada.

— Sim, eu tenho o dia livre hoje. — ele responde.

Sinceramente, não sei se isso me acalma ou me preocupa. Era bom ter meu pai comigo sempre que eu precisava lidar com o estresse da fama, mas por outro lado, querendo ou não, ele chama muita atenção. Todo mundo conhece ele!

Acabo de comer pouco tempo depois e me levanto pegando minhas coisas, vendo se minha saia não está amassada e me preparando para a vida fora do condomínio, com paparazzi e muitas, muitas pessoas.

— Ah, seu almoço. — Susan me lembra, me entregando a lancheira. Antes que me perguntem, sim, isso é bem normal aqui na Inglaterra, até universitários usam lancheira para levar seus próprios almoços, é simplesmente prático.

— Obrigada. — agradeço e a abraço antes de sair.

— Aproveite o seu dia e não se sobrecarregue com seus pensamentos, está tudo bem, você é maravilhosa. Só relaxe e faça amigos, ok? — ela me diz.

Aceno com a cabeça.

— Vamos. — Meu pai chama pegando a chave do carro e a jogando pra cima algumas vezes enquanto caminha em direção a porta.

Saímos de casa e, algum tempo depois, do condomínio. Checo meu celular pela primeira vez no dia para ver o que está acontecendo.

Entro no Instagram e vejo diversas marcações e postagens sobre o filme. Haviam muitos comentários na minha última foto também. Alguns não tão bons, mas eu prefiro tentar não pensar neles o máximo que eu conseguir.

Acabo deixando de lado meu celular para não começar o dia com pensamentos negativos sobre tudo o que eu venho fazendo e conquistando. Afinal, o que as pessoas que falam essas coisas realmente sabem sobre mim?

— Já sabe as aulas que tem hoje? —meu pai pergunta tentando puxar assunto.

— Mais ou menos. Eu sei onde é meu armário, sei algumas aulas mas não vi o mapa da escola ainda então eu não sei onde são as salas.

— Bom, já é um começo. Não fique com medo de tentar se enturmar, sabe, nem todas as pessoas vão querer ser suas amigas só por interesse, algumas vão realmente gostar de quem você é. — ele aconselha.

— Algumas poucas. — digo.

— Não é impossível.

Não tento argumentar, afinal, contra fatos não há argumentos e ele estava certo.

Depois de mais ou menos 10 minutos e alguns fotógrafos no caminho, chegamos na escola. De alguma forma havia vazado um boato de que eu estudaria ali. Merda. Agora estava cheio de paparazzi com suas câmeras bem na frente da entrada, só esperando por mim. 

"É só eu passar rápido, eles não podem entrar na escola", penso.

Meu pai estaciona em uma das vagas mais perto da entrada, por um momento fico confusa. Ele vai descer do carro?

— O senhor vai descer? — expresso minha confusão.

— Eu preciso dar uma palavrinha com a diretora. — ele fala tirando o cinto de segurança. — Pronta? — ele pergunta.

— Sim, claro. — digo pegando minhas coisas. Haviam alguns alunos ali fora que, eu me fazem realmente ficar envergonhada por chamar tanta atenção.

Respiro fundo e desço do carro pondo um leve sorriso no meu rosto. Meu pai com seus óculos escuros caminha do meu lado e logo várias câmeras estão tirando fotos nossas.

Sinto os olhares de todos e abaixo a cabeça involuntariamente. Meu pai me cutuca nas costas, esse era o nosso sinal para que eu tentasse não se sentir intimidada por outras pessoas, ou seja, não abaixar a cabeça como eu acabei de fazer.

Assim, vejo vários adolescentes da minha idade gravando e batendo fotos nossas, o que me faz corar um pouco com a vergonha.

Todos os fotógrafos falavam diversas coisas ao mesmo tempo como "você pretende continuar no MCU?", " você está orgulhoso dela, senhor Downey?" ou "parabéns pelo novo filme!"...

Conseguimos entrar no prédio da escola e, instantaneamente me sinto mas aliviada, mas não completamente. Ainda tinha olhares em mim, mas pelo menos não tinham câmeras profissionais, um pouco melhor.

Meu pai parecia não ligar enquanto caminhávamos pelos corredores.

— Tudo bem, vai procurar seu armário e sua sala que eu vou falar com a diretora. Vai dar tudo certo e eu vou querer saber de tudo quando chegar em casa, tudo bem? — ele diz me dando um beijo na testa. Apenas aceno com a cabeça.

— Te amo, pai. 

— Também te amo, agora vai lá. 

Caminhamos em direções opostas. Logo pego um panfleto com o mapa da escola e tento me guiar pelos corredores.

Destiny - Paddy HollandOnde as histórias ganham vida. Descobre agora