Para todos

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Ela chorava e derramava pequenas partes de si pelo chão de ladrilhos da rua, olhava seu reflexo na pequena poça de água, criada pela longa garoa da manhã, ela não via nada, nada que as pessoas falavam que viam nela, não via beleza nem brilho, era apenas uma imensidão vazia.
Ela olha para a esquina e enxerga sua mãe, cansada, chegando do serviço, ela limpa suas lágrimas e sorri para sua progenitora, não quer preocupa- lá.
Ao entrar em casa a garota ajuda sua mãe, arruma a mesa e esquenta o antes almoço e agora janta do dia, conversam sobre a vida e então a garota pergunta a sua mãe sobre a pessoa mais bela que já viu, sua mãe como sempre fala que é sua garotinha, dizendo "Você é bela como Oxum minha querida, tanto por dentro, tanto por fora".
Ao deitar em sua cama, a garota pensa sobre Oxum, uma deusa que sua mãe gostava muito, e tinha diversas imagens espalhadas pela casa, ela ouvia muito sobre ela quando ia a casa de Santo, onde ialorixá amiga de sua avó dirigia. 
Então a garota pede para que Oxum mostre sua beleza, a beleza que ela não consegue ver em seu reflexo... em seu sono, ela escuta uma voz lhe dizendo para ir ao rio que corre ao fundo de sua pequena casa.
Ao acordar a menina se lembra da profunda voz que escutou em seu sonho ou imaginação, ela lentamente se dirige a porta dos fundos de sua casa, tentando ao máximo não fazer barulho no chão de madeira, não queria acordar sua mãe.
Ao chegar no rio, nada de diferente acontece, então a menina o atravessa a procura de algo que ela ao menos sabe o que é, ao colocar seus pés na água fresca e cristalina, daquela que descobriu mais tarde ser a nascente de um rio, pequenos peixes passam pelos seus pés, a garota sorri radiante, de modo verdadeiro, ao ver aquele ser tão pequeno e manso passar por ela, neste momento uma moça totalmente de amarelo e ouro aparece do outro lado rio, ao ver quem parece ser Oxum a garota atravessa lentamente, observando os peixinhos passando, ao chegar do outro lado, avista apenas uma delicada e frágil flor amarela.
A garota volta a sua casa com a pequena flor que pegou no rio, a coloca em um vaso ao lado de uma figura de Oxum e de modo rápido, ela passa a frente de um espelho e se vê pela primeira vez, ela escuta seu interior e se sente por inteiro..... ela se reconhece.
Anos se passaram, e aquela pequena flor nunca murchou, e o sorriso da garota nunca se desmanchou, marcas de sua felicidade foram deixadas em seu rosto em forma de rugas, essas que traziam inveja aos outros, eles se perguntavam como alguém poderia ser feliz e sorrir enquanto tudo se acaba, e a antigamente garota respondia " Eu me reconheci e me enxerguei".
A agora senhora partiu de forma leve, sorrindo, pois ela sabia que diferente dos outros ela havia se visto em si mesma. 

(Para todos que buscam se enxergar) 

(Qualquer erro podem avisar, abrigada pela leitura)

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⏰ Last updated: Sep 14, 2021 ⏰

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Ela se enxergouWhere stories live. Discover now