Capítulo 29

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Apesar de não querer sair do mar até se transformar por completo, Ercole devia desculpas à Giulia, por todas as coisas horríveis que fez e disse à ruivinha.

- Ser um monstro marinho é tão bom... Eu nunca vou esquecer essa sensação! - Ercole falou, admirando as escamas vermelhas de seus braços.

- É, é bem legal! - Luca sorriu. - Eu nunca imaginei que você fosse um de nós.

- Nem eu, piccoletto. Mas olha só, as aparências enganam. Cresci achando que meu pai era a vítima, e me enganei.

- Sim, e você mudou. Parou de agir como o Filippo, e agora é bonzinho, né?

- Luca, existe maldade no mais bondoso ser humano. Nós somos assim, então eu não sou 100% bom, mas eu tento. Tento todos os dias, e acho que tô conseguindo.

- Você mudou muito, acho que sim.

- Só falta uma coisa: pedir desculpas pra Giulia, porque eu transformei a vida dela num inferno... Vem comigo até Portorosso?

- Sim, porque a gente se inscreveu na Copa, e temos que treinar, já que só faltam dois dias pra ela.

- Verdade... Esse ano eu não vou participar, tô velho pra isso! - Riu.

- Ercole, quantos anos você tem? Eu sempre tive curiosidade em saber.

- A única pessoa que sabe minha verdadeira idade, era meu pai. Eu mentia só pra poder competir, mas na verdade, tenho 26 anos.

- 26?! - Arregalou os olhos. - Eu pensava que você tinha 19... Mas, espera... Se a sua mãe tem a mesma idade da mãe do Alberto, e vocês tem 11 anos de diferença, significa que você nasceu quando...

- Quando meus pais eram adolescentes, isso mesmo. Eles tinham 14, pra ser mais exato.

- 14 ANOS?! Eu tenho 14! Imagina ser pai aos 14?! Parece um pesadelo...

- Não acho. Tem gente que realmente nasce pra criar uma criança, tem gente que não. Por mais que pareça ruim pra você, foi uma escolha deles. E do que adianta falar mal, se você não compra um mísero pacote de fraldas pra eles? Julgar é fácil, ajudar é difícil.

- Você tem razão, Ercole... Aprendeu muito com essa ideia de não julgar os outros pelo que são, né? Tô orgulhoso de você! - Sorriu.

- Grazie, piccoletto! - Fez carinho na cabeça de Luca. - Enfim, vamos?

- Vamos!

A manhã na casa dos Scorfano tinha amanhecido de um jeito diferente. Giulia não fazia outra coisa a não ser sonhar acordada. Seu pai achava que ela ainda estava com sono, mas na verdade, Bianca tinha invadido seus pensamentos outra vez.

- Ela me beijou, papà! Tem noção disso?! O meu primeiro beijo foi com a garota que eu gosto!

- Que exagero! A Bianca é só uma garota, como qualquer outra. - Alberto riu da animação de Giulia.

- Oi?! Ela não é só uma garota, ela é A garota! A MINHA garota, tá?! E outra, eu tava falando com o papà, não com você!

- Pois eu tô falando com você!

- Então, fala sozinho! Eu não tô nem aí pro que você tem a dizer!

- Se não tá nem aí, arranca as orelhas fora!

- É sério que vocês estão brigando só porque a Giulia tá namorando? - Disse o pescador.

- Sim, porque o Alberto tá com inveja!

- Inveja do quê? Da namorada meia boca que você arrumou?! Muito obrigado, mas pode ficar pra você! - Fez cara de nojo.

- Meia boca?! Você que vai ficar com meia boca, depois do socão que eu vou te dar!

- Giulietta! - Gritou Massimo. - O dia mal começou, e já estão brigando?!

- Desculpa, papà... - Disseram os irmãos.

- Tudo bem, eu perdoou vocês, desde que não continuem com essas brigas sem sentido.

- A gente vai se comportar, papà, pode deixar. - Falou Giulia.

- Acho melhor a gente procurar o Luca. Temos que treinar pra Copa Portorosso, e só temos 2 dias pra isso.

- Eu tinha esquecido, Alberto! Temos que treinar muito pra ganhar...

- Não se preocupa, Giulia! Nós vamos ganhar, igual ano passado! Vamos logo atrás do Luca pra começar o treino.

- Tchau, papà! Nós já voltamos!

- Tchau, crianças! Divirtam-se!

- Pode deixar! - Alberto sorriu.

Os 4 se encontraram enfrente a fonte da cidade, mas os irmãos não reconheceram Ercole de primeira, pois seu rosto já estava praticamente inteiro coberto por escamas.

- Ciao, ragazzi! - Ercole os cumprimentou.

- Oi! Eu me chamo Alberto, e você?

- Esse é o Ercole, gente! - Disse Luca.

- O Ercole?! - Giulia se assustou. - É sério?!

- Sim, essa é a minha forma marinha. A transformação ainda não tá completa, porque eu sou meio humano, então demora um tempo.

- Interessante... Você fica bem mais bonito coberto de escamas, elas disfarçam sua cara feia. - Alberto riu.

- É com esse tipo de gente que você namora, Luca?! Deixa só a tia Daniela saber disso!

- É brincadeira! - O menino de cabelos cacheados se desesperou. - Não vai contar pra ela, vai?! E se ela não me deixar mais namorar o Luca?! Eu vou morrer!

- Bom... Eu não conto nada, se o casalzinho me deixar sozinho com a Giulia.

- Sozinho comigo?!

- Não se preocupe, eu vou te pedir desculpas, só isso.

- Espero mesmo, Ercole, porque ela agora é minha irmã, tá?!

- Eu sei me virar sozinha, Alberto! Para de me tratar como criancinha!

- Ingrata! Eu só tentei mostrar que me importo!

- Já vão brigar de novo? Qual é, gente? Vocês tão brigando por tudo ultimamente. - Disse Luca.

- Isso é coisa de irmãos, você não entenderia. Enfim, podem nós deixar sozinhos agora? - Perguntou Giulia.

- Eu e o Alberto vamos te esperar lá no descidão, com a bicicleta. Até depois!

- Até! - Falou a ruivinha.

Luca e Alberto então, se dirigiram até o grande morro do vilarejo, deixando Ercole a sós com Giulia.

- Enfim, eu tinha problemas com o meu pai, porque ele tinha nojo de mim... Vendo minha aparência agora, eu entendo o porquê. Eu descontada todos os meus problemas em você, porque seus pais são incríveis, e eu sinto muita inveja disso... Eu sei que não é justificativa pra tudo o que eu fiz, mas eu peço perdão, e eu tô arrependido de verdade.

- Tudo bem, Ercole! Eu acho que tá na hora de seguir em frente, e esquecer tudo isso, né? Então, eu te perdoo.

- Obrigado, Giulia! Eu juro que mudei pra melhor, e juro que amadureci. Eu vou parar de me achar superior a todo mundo, e vou parar de te encher, e te chamar de "Potrulia".

- E eu vou parar de te chamar de "velho seboso"! - Sorriu.

- Então, amigos...? - Estendeu a mão.

- Giulia hesitou por alguns segundos, mas apertou a mão do moço. - Amigos! - Se abraçaram. - Tenho que ir. Preciso treinar pra Copa, até depois!

- Tchau!

Ercole finalmente se libertou do seu passado ruim. O perdão de Giulia o fez ter certeza disso, e o fez acreditar que não se parecia mais com o pai. Ercole foi criado para agir como Filippo, mas percebeu que aquele não era ele de verdade, e sim, uma cópia feita para se encaixar nos padrões do pai. Agora, ele finalmente tinha entendido e poderia ser quem era de verdade.

Luca 2Where stories live. Discover now