Capítulo 10

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O jantar na casa dos Marcovaldo despertou em todos, um sentimento de curiosidade, e também de medo. Apesar da maioria dos humanos não ver mais os monstros marinhos como um perigo, alguns ainda os odiavam.

Luca estava tão pensativo sobre tudo aquilo, que não dormiu direito a noite. O relacionamento de Alberto com o pai, deixava o menino triste. Bianca também tinha provocado gatilhos nele, e agora, ele também tinha que se preocupar com os humanos que odeiam monstros marinhos, e com a solidão de Massimo.

- Tá com a cabeça cheia, né? - Giovanna perguntou ao ver o neto acordado.

- Vovó! Eu já disse pra não me assustar assim!

- Perdão, borbulha. Mas, tá pensando no quê? Cansou da superfície, e agora quer ir até o espaço?

- Isso seria bom, mas não é isso... Hoje aconteceu muita coisa, vovó. - Ele se sentou na cama da avó. - Se lembra daquele garoto que parece um peixe gato?

- Ercole Visconti?

- É, ele mesmo... - Luca respirou fundo. - A mãe dele era um monstro marinho, e o pai dele, humano.

- Que ironia do destino, gostei. - Riu.

- Luca riu também. - É, uma grande ironia! Mas eu descobri uma coisa sobre a família dele, e isso tá me perturbando...

- Ah, é?

- Sim... A senhora me disse que nem todo mundo ia me aceitar, e eu nunca conheci alguém que me odiasse depois da Copa Portorosso, mas aí eu me lembrei do Ercole, e descobri que a mãe dele não é humana. O pai dele também odeia monstros marinhos, então a mãe do Alberto acha que ele matou a própria esposa! Tem noção disso?! Ele pode ter matado a própria esposa, só por ela ser um monstro marinho! Eu tô com medo, mas não posso fugir dos meus problemas pra sempre! Eu tô cansado de ser "una lumaca"...

- "Lumaca"... Reencontrou a Bianca, não foi?

- Sim, e ela tá pior que antes...

- Luca, a Bianca te provoca, porque você deixa! Eu sempre te digo pra enfrentá-la, responde ela à altura! Na vida, vai encontrar pessoas piores que ela, se não mostrar a essas pessoas que elas não podem te tratar da pior maneira, elas nunca vão parar!

- Eu sei, vovó... Mas eu sou muito inseguro e tímido pra responder à altura!

- Não é difícil, é só olhar ela nos olhos, e dizer: "Ah, cala a boca, nariz de garrafa!".

- Nariz de garrafa?

- Por causa daquela imitação de golfinho. Certeza que aquela menina é a reencarnação de um golfinho nariz de garrafa.

- O menino riu. - Eu vou sentir sua falta...

- Eu não vou pra lugar nenhum, borbulha.

- Eu tô falando no sentido de morrer, vou sentir saudades.

- Garoto, minha saúde é impecável!

- Mas a velhice chega pra todos.

- Sim, ela chega. Mas eu não vou partir agora, você ainda precisa de mim. - A senhora falou, acariciando os cabelos de Luca.

- Como assim?

- O trabalho de toda avó que têm filhos super protetores, é encorajar os netos. Então vá enfrente, Luca. Encontre coragem em você mesmo, e lute pelo que acredita. Eu estarei aqui sempre que você precisar.

- Obrigado, vovó! - Luca abraçou a avó.

- Por nada, borbulha.

- Posso te fazer uma pergunta?

- Claro.

- Por que me chama de "borbulha"?

- Ok, essa pergunta tem uma resposta difícil, mas vamos lá. Eu tinha um irmão mais velho, o nome dele era Arturo. Eu e meu irmão éramos grandes amigos, então combinamos de ter filhotes ao mesmo tempo, pra serem tipo "gêmeos".

- Sério?

- Na nossa cabeça, fazia sentido. Continuando, nós realmente tivemos filhas ao mesmo tempo, eu tive a sua mãe, e ele teve a prima da sua mãe, ou seja, sua "prima-tia", no modo formal de dizer. As duas cresceram grudadas, e nunca se separaram. Por incrível que pareça, sua mãe nem sempre foi essa surtada com a superfície, a Daniela era louca pra conhecer de perto o mundo dos humanos.

- E o que aconteceu pra ela ficar daquele jeito?

- Um dia, as duas combinaram de subir lá em cima pra ver a superfície. O meu irmão e a minha cunhada foram com elas, já que era a primeira vez das duas. O passeio estava as mil maravilhas, mas aí tudo deu errado. Um grupo de pescadores viu eles se transformando em monstros quando entraram na água, e aí todos eles tiveram que correr pra se esconder. A única que escapou com vida, foi a sua mãe.

- Nossa...

- A Daniela se culpa até hoje pelas mortes deles, e pelo desaparecimento da sua prima-tia, porque nunca encontraram o corpo dela, mas eu duvido que esteja com vida. A sua mãe virou esse ser super protetor, porque não queria que você tivesse o mesmo destino que eles.

- Então, é por isso que ela nunca falou sobre eles?

- Exatamente. Mas, respondendo à sua pergunta inicial, eu te chamo de borbulha, por causa da minha sobrinha. Ela sentia muita vontade de conhecer o mundo, mas era tímida e insegura, assim como você. Sua mãe que a convenceu de seguir seus sonhos, apesar de não ter dado certo. Quando ela ficava com medo, fazia borbulhas pra se acalmar e encorajar, da mesma maneira que você grita: "Cala a boca, Bernardo!".

- Luca riu. - Na verdade, é "Silenzio, Bruno!"!

- É a mesma coisa! - Falou rindo. - Quando eu olho pra você, vejo a minha falecida sobrinha. Te chamar de "borbulha", é uma forma de homenageá-la.

- Qual era o nome dela?

- Gabriele, Gabriele Salvatore.

- Ao ouvir o nome dela, Luca ficou sem reação. - P-perdão, vovó... Pode repetir?

- O nome da minha sobrinha, era Gabriele Salvatore.

- Não pode ser...

- E por que não?

- Gabriele Salvatore é o nome da melhor amiga dos pais do Alberto, e o nome da mãe do Ercole!

- É sério?!

- Sim! Isso faz de nós dois... parentes!

- Essa família vai de mal a pior.

- Dessa vez, eu concordo...

A conversa com avó foi boa, mas Luca estava com mais problemas ainda. Gabriele parecia uma ótima pessoa, mas Ercole, parecia o completo oposto da mãe. Como Luca diria a alguém que era parente de um Visconti? Aquilo parecia impossível.

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