Luca 2

Capítulo 28

A família Paguro recebeu Ercole muito bem, e o convidaram para jantar. Era estranho conseguir respirar debaixo da água, mas ele estava feliz.

- Isso é algo que eu nunca imaginei que faria... - Falou Ercole.

- Nós também não, mas acho que ter você na família é bom. Já experimentou sopa de algas? - A avó de Ercole perguntou.

- Não, mas gosto de sopa no geral.

- Era a comida favorita da sua mãe. A tia Rosa sempre fazia pra nós no Natal. - Daniela colocou os pratos na mesa.

- Tia Rosa no caso, seria a minha avó biológica?

- Sim, ela mesma. Minha mãe era irmã do seu avô Arturo, que era casado com a sua avó Rosa. Os dois tiveram a sua mãe Gabriele, mas acabaram mortos por um pescador. Sua mãe conseguiu se esconder deles, e foi adotada pelas senhoras Mancini.

- Eu não sabia que a minha mãe era adotada, muito menos pelas Mancini.

- Nem eu sabia, Ercole. - Falou Giovanna. - Descobri esses dias, em uma das minhas conversas com elas.

- Mas mudando de assunto, como estão as coisas com o seu pai? - Perguntou Lorenzo.

- Eu sou órfão de mãe e pai, não é uma maravilha?

- Eu também sou! Bem-vindo ao clube dos sem pais, Ercole!

- Mãe! Luto é uma fase difícil, aprenda a respeitar os sentimentos dele!

- Menos, Daniela! Todo mundo sabe que o pai dele é um desgraçado, é ótimo que tenha morrido!

- A nonna tá certa, zia Daniela! Eu decidi matar meu pai por isso: por ele ser um assassino preconceituoso.

- Matou seu pai?! - Falou Lorenzo assustado

- Amei esse menino. É meu neto mesmo, isso é coisa que eu faria!

- Mãe!

- Deixa ela, zia! Meu pai nunca ia mudar, então eu vinguei minha mamma. Olho por olho, dente por dente.

- Uma vida boa, por uma ruim... Tá, né? Mas vivo ou morto, eu não ia querer esse cara na minha família. Morto, não é mais problema nosso, Plutão que lute. - A senhora riu.

(Plutão é o nome romano de Hades.)

- Meninos, venham jantar! - Gritou Daniela.

- Acho que eles estão cheios, devem ter "comido" bastante no quarto... - Ercole sorriu maliciosamente.

- Acha que fizeram isso?

- Acho que não, nonna. Eles são bem novinhos, nem devem saber o que é isso.

- Não me dando netinhos por agora, tudo certo. - Disse Lorenzo.

- Luca! Alberto! A sopa vai esfriar! - Daniela disse impaciente.

- Já estamos indo, mãe! - Gritou Luca do quarto.

- Não sei não, hein? Tão demorando muito dentro daquele quarto...

- Mãe, por favor! O Alberto eu não sei, mas meu filho nunca faria isso!

- Fazer o que? - Alberto disse entrando na cozinha. - E-eu juro que não quebrei nada!

- Alberto! - Luca estava assustado e nervoso.

- Luca, não mente pra mim! O que vocês estavam aprontando lá dentro?!

- Nós... E-eu... Foi...

- A gente tava brincando de lutinha, e quebrou o seu vaso de corais. - Disse Alberto sem paciência.

- O quê?! Aquele vaso era novo, e custou muito caro!

- Desculpa, mãe! Eu juro que foi sem querer!

- Como quebraram o vaso debaixo do mar? - Giovanna falou curiosa.

- Tudo começou quando eu disse pro Luca que trabalhar como salva vidas exigia muita força, aí ele duvidou dos meus músculos! - Exibiu o bíceps que não tinha.

- Que músculos? - Lorenzo recebeu um beliscão da esposa. - Ai, Daniela!

- Continuando a história, como o Luca duvidou do meu histórico de atleta, resolvi mostrar pra ele na prática.

- Aí a gente começou a lutar entre si, e eu tentei dar um soco no Alberto, mas ele saiu da frente bem na hora, e eu acertei seu vaso.

- Tentamos colar, mas a água dissolvia tudo!

- Então, tentamos esconder os caquinhos do seu vaso debaixo da cama... Desculpa, mãe...

- Daniela respirou fundo. - Tudo bem, meninos... Eu sei que não fizeram por mal, mas da próxima vez, disputem força lá fora, pra não quebrarem mais nada.

- Ou talvez, não disputem força? - Falou o pai de Luca. - Isso pode gerar acidentes graves, vocês deveriam brincar de outra coisa menos violenta.

- Ah, por mim, brinquem do que quiserem, desde que não quebrem meus vasos de corais.

- Não se preocupa, sogrinha! Eu vou te comprar um vaso mil vezes melhor, e mais caro, com meu dinheiro!

- É muita gentileza sua, Alberto, mas não precisa! Gaste seu dinheiro com você, eu compro outro vaso, não se preocupe.

- Sem mais delongas, acho que podemos comer, não é? - Lorenzo disse se sentando à mesa.

- Buonappetito! - Alberto provou um pouco da sopa. - Perfetto como sempre, sogrinha!

- Obrigada, Alberto! - Riu.

Enquanto todos se serviam e comiam, Ercole percebeu que havia uma pequena escama vermelha em seu braço esquerdo.

- Olhem só... Tá nascendo uma escama em mim!

- É mesmo! - Luca disse. - Acho que você tá começando a se transformar...

- Quanto tempo será que demora? - Perguntou o italiano.

- Acho que algumas horas, já que você é meio humano. - Falou Lorenzo.

- Se importam se eu dormir aqui? Quero muito ver minha forma marinha.

- Não se preocupe, Ercole. Pode dormir aqui, não tem problema. Eu vou preparar o quarto de hóspedes pra você! - Daniela sorriu.

- Posso dormir aqui também?!

- Infelizmente, não temos outra cama, Alberto.

- Ele e o Luca dividem a cama. - Sugeriu a senhora.

- Mãe, não começa!

- Começar com o que? - Luca estava confuso.

- Nada não, borbulha. Sua mãe apenas não entende de romance.

- E a sua avó vê coisa onde não tem!

- Por favor não discutam, esse jantar é pra comemorar a nossa família! É um momento de alegria, pois o Ercole mudou! Deixem essas brigas de lado, e vamos comer. - Disse Lorenzo.

- Daniela suspirou. - Ok, amor. Então, que tenhamos um bom jantar, e uma família melhor ainda!

- Um brinde a nós. - Giovanna ergueu o copo.

- Um brinde! - Disseram todos.

Ercole estava ansioso para se ver completamente transformado, mas sabia que isso levaria tempo. Pela manhã, assim que se olhou no espelho, notou que tinha ganhado uma calda, porém mais curta que a de sua família. Suas pernas e braços também estavam cobertos de escamas, mas somente até a metade.

Ele ainda não possuía barbatanas, mas já era uma grande transformação. Com as mudanças, ele nadava com mais facilidade, e rapidez. Aquilo tudo era maravilhoso para ele, e lhe dava a sensação de estar com sua mãe, já que ela tinha vivido tudo aquilo.