-Acredito que isso seja um não. –ouvi Ethan, imediatamente percebendo que não o havia respondido ainda.

Senti que o vampiro segurou minha mão esquerda e falou alguma coisa sobre aquela ribanceira ainda ser um pouco escorregadia, mas eu não me importei muito, pois ainda estava perplexa com a paisagem.

Enquanto caminhávamos, vi que o campo tinha a altura até metade da minha canela. Quando estávamos próximos do lago, uma revoada de pássaros pequenos voou a nossa frente. Eu os segui com meus olhos até eles fazerem uma curva no céu, magníficos, e depois passarem por nós, o que me tirou o pouco fôlego que eu tinha, por alguns segundos.

-É... É muito lindo, Ethan... –admiti olhando para tudo a minha volta.

-É sim... Vem. Vamos sentar perto do lago.

No momento que olhei para Ethan, segui meu olhar de imediato até nossas mãos dadas. As desfiz e cruzei os braços, olhando ao meu redor, para me concentrar na paisagem e impedir meu constrangimento, o que foi difícil quando escutei uma rápida risada do vampiro, pelo meu gesto. No entanto, continuei com meu disfarce.

Ficamos sentados próximos ao lago, por volta de meia hora. Eu não tinha problemas com a falta de palavras como o de costume, mas esperava que Ethan dissesse algo. Então tomei conhecimento, pelo que me pareceu, que ele compartilhava da minha apreciação pelo silêncio, quando a admiração pela natureza, em sua perfeição, rugia em nossos ouvidos.

-Isso não é tudo. Só para você saber. –Ethan cortou o silêncio.

-Como? –eu tinha certa ideia do que ele iria falar, mas precisava da certeza.

-Tem mais um lugar que pretendo mostrar a você. –foi o que pensei.

-É muito longe daqui?

-Só a um fôlego de distância. –em um instante, o vampiro se jogou no lago, mergulhando. Segundos depois, apenas sua cabeça voltou a superfície do lago –Esse é o caminho. Vem.

Por um momento me perdi no realce dos olhos dele com a água igualmente azul.

-Devo declinar. Não tenho outras vestimentas. –falei assim que me recuperei de meu último devaneio.

-Você é sempre tão formal ou está sendo sarcástica comigo?

-Não seria a primeira vez.

Ele sorriu se aproximando da beira do lago, caminhando. Humanamente, a visão da camisa branca de Ethan, colada ao seu corpo, revelando seus músculos definidos do abdômen e braços, deixariam qualquer garota desestabilizada. Mas como híbrida e alguém que passara por fases não muito agradáveis em relação a qualquer atração corporal, gerando alguma emocional, eu havia fisicamente e mentalmente me preparado para qualquer situação em que meus hormônios humanos seriam realçados. No entanto desviei meus olhos. Com Ethan era diferente, pois eu estava começando a criar algo parecido com a amizade.

Ele estava certo. Ethan conseguia se mostrar ser uma pessoa legal, quando disposto.

-Eu posso te buscar. –ele continuava a se aproximar.

-Não se atreva. –olhei ameaçadoramente para ele.

-Tudo bem. –disse erguendo as mãos em rendição. –Mas eu vou ir. –logo voltou alguns passos e submergiu, me fazendo revirar os olhos.

Eu estava curiosa. “Uma caverna? Um túnel?”. Eu queria ir e perguntei a mim mesmo “Por que não?”. Olhei para minhas roupas. Decidi por fim apenas tirar meu suéter e meus tênis, ficando só com uma regata preta e minha calça jeans. Então, depois de deixar o suéter e os tênis perto do lago, imaginando que ninguém os roubaria, olhei para a água azul, corri, saltei o mais alto que pude e mergulhei.

O lago era mais fundo do que eu podia imaginar. Abri meus olhos para tentar enxergar Ethan, mas não o encontrava. O frio estava me fazendo mudar de ideia, quando senti alguém puxando minha mão. Assim que parei de me movimentar, Ethan apareceu em minha frente, a poucos centímetros de distância. Seus olhos realçavam ainda mais debaixo d’água. Ethan fez sinal com sua cabeça, para irmos. Eu só não sabia aonde. Mas ele continuou segurando a minha mão, caso eu me perdesse.

Entramos em um túnel devidamente largo para duas pessoas, no fundo do lago, rodeado por corais coloridos, algas e cheio de peixes das mais diversas cores que passavam por nós, sem receio, como se nunca alguém os tivesse amedrontado. Era outra visão magnífica.

Porém a lonjura do túnel quase me fez perder totalmente o pouco fôlego que ainda restava em meu corpo. Mas antes que isto acontecesse, chegamos ao fim e pude voltar à superfície, soltando a mão de Ethan.

No início apenas procurei algo em que pudesse pisar, sair da água. Assim que vi um local adequado, fui rapidamente até o mesmo e me sentei. Logo veio a tosse do pouco de água que havia entrado em meus pulmões.

-Tudo bem? –ouvi a voz de Ethan próxima a mim.

-Sim... É... É só o lado humano que ainda existe em mim. –tossi mais algumas vezes até não precisar mais.

-Então... Seu lado humano pode morrer. –foi uma análise.

-É... O lado lobo, apenas.

Tentei afastar as lembranças que meu último comentário estava me trazendo, quando consegui por definitivo, ao olhar ao meu redor e, por fim, para o teto.

-Dizem que essas larvas fluorescentes só têm na Nova Zelândia. Bom... Se eu quisesse, eu teria como provar que estão errados.

Estava extasiada, olhando para o top da caverna. Era um planetário natural. Era ver o espaço de perto. Eu me deitei lentamente, sem mudar minha visão daquele cenário encantador. Eu já havia ouvido falar nas Cavernas de Waitomo, mas nunca entrei nas mesmas, desesperançada pelo passado. Mas era incrível. Era lindo. Já pesquisara sobre bioluminescência, mas nunca imaginara a beleza real do fenômeno visto de perto.

“-O universo foi feito só para ser visto pelos seus olhos.”

O medo que sempre senti de visitar um lugar como aquele, se foi com a verdade sobre o que estava perdendo de ver. De sentir. Então percebi que uma lágrima escorrera de meu olho esquerdo, mas não a impedi. Porém, antes que ela chegasse ao chão, senti Ethan passar seu polegar sobre a mesma, me fazendo olhar para ele, que se encontrava sentado ao meu lado.

-Obrigado. –minha voz saiu quase sussurrada.

Ethan acenou levemente com a cabeça, em concordância, e depois se deitou ao meu lado. Então assim ficamos. Deitados e observando o espaço.












Gente, eu sempre quis conhecer essas cavernas desde o filme/desenho "Tá dando onda" . Alguém já viu? João Frango? Cadú Maverick? Big Z? Não? Okay☺️😂😂😂
*A frase "O universo foi feito para ser visto pelos seus olhos" veio das lembranças da Anne, como o modelo de escrita que usei sugere, mas a originalidade dela em si, veio de uma música chamada Saturn da Sleeping at Last. É uma música com uma tradução muito linda. Sim, ela é meio que um spoiler ksksks

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