— O teatro, mesmo que abandonado há um bom tempo, tinha algumas marcas de uso. Nada muito recente, mas deve ter sido há pelo menos algumas semanas.

          — Marcas? Como assim?

          — Arranhões pequenos no piso. Provavelmente eram marcas daqueles robôs se arrastando pelo lugar. É por isso que eu acho que foi o som deles se arrastando que deu início ao rumor do tal fantasma.

          O professor ficou com um semblante sério, olhando fixamente para a porta enquanto esperava uma resposta pras diversas perguntas que devia ter. Sem falar uma palavra sequer, ele voltou o olhar para mim e acenou com a cabeça, mostrando que era a minha vez de falar o que eu descobri.

          — "Eu não consegui ver nada tão surpreendente quanto o João, mas aquela caverna certamente estava sendo usada com certa frequência. O estado das coisas, mesmo que não fosse o melhor possível, não era descaso do tempo, mas sim do uso corriqueiro."

          — Será que as duas coisas têm alguma relação?

          — Muito provavelmente — respondeu André. — Isso está começando a ficar mais complicado do que eu imaginei...

          O uso frequente da caverna como esconderijo, os robôs recém-alocados no teatro antigo, documentos que não podiam ser detectados pelo sistema de segurança da escola...

          — "Sinceramente, eu consigo pensar em dois cenários possíveis para isso."

          — Por favor, explique-os.

          — "No primeiro, e melhor deles, algum aluno ou professor queria fazer uma brincadeira de mal gosto usando aqueles robôs. No segundo, e mais provável, alguém de dentro da escola pretende algo grande."

          Uma leve levantada de sobrancelha do professor demonstrou sua curiosidade, mas o espanto no rosto de João deixava clara a sua grande surpresa.

          — Por que você acha o segundo mais provável, Helly?

          — "Trazer robôs como aqueles para dentro da escola sem uma autorização é terminantemente proibido. Só o risco de ser pego tentando fazer algo assim já é o bastante para que qualquer um seja expulso. Além do mais, um aluno não teria condições de conseguir aquelas coisas e os funcionários não se arriscariam tanto para uma mera brincadeira."

          — Mas pode ser alguém de fora também. Um ataque de magos estrangeiros, talvez?

          — Pouco provável. A Academia Tainá mantém uma relação amigável com todas as outras escolas e possui um sistema de defesa que impediria qualquer pessoa de fora de passar sem ser detectado.

          — "É como o professor disse. Além da IA que registra automaticamente qualquer equipamento eletrônico não conectado ao Lago e do sensor de IDs, tem a barreira mágica, que detecta qualquer um com a Mana não registrada como inimigo."

          — Em outras palavras...

          — "Alguém que já tinha a Mana e o ID registrados trouxe aqueles robôs. E então, de alguma forma, essa pessoa conseguiu esconder a presença deles durante todo esse tempo."

          Nós não estávamos exatamente perdidos, mas também não tínhamos mais informações do que isso. Era um saco não poder ver todas as peças do quebra-cabeça... Mas, como se uma lâmpada tivesse se acendido em sua cabeça, o João nos chamou.

          — Ei, o Gustavo disse algo sobre a Ciel não conseguir acessar uma parte do teatro. Algo como... Acho que era um programa que repelia o dela ou algo do tipo.

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