Capítulo 03: Mistérios demais

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Parei na frente do espelho mais próximo e me ajeitei o melhor possível. Eu precisava de um banho urgente. O meu cabelo começava a ficar oleoso e revoltado novamente. Pelo visto, com toda aquela confusão, tia Beca ficara nervosa demais para se lembrar de lavar meus cabelos enquanto me dava um banho quente.

- E a piscina não conta como banho... – resmunguei para mim mesma antes de sair do quarto.

Caminhei silenciosamente pelo corredor, indo até a cozinha. A casa toda estava mergulhada em trevas e todos os quartos possuíam as portas fechadas. Com certeza, deveria passar da meia-noite. Olhei para o relógio sobre a bancada e constatei que estava certa, já eram três horas da manhã!

Estava faminta novamente e muito bem acordada. Pelo o que parecia, o sono havia dado lugar à fome.

Acendi as luzes e comecei a caçar por alimentos industrializados e prontos. Abri portas e gavetas até encontrar um pacote de bolachas e um saco de salgadinhos sabor bacon. Ótimo! As porcarias que eu mais amo comer!

Abri a geladeira em busca de algo para beber. Vi algumas latinhas de refrigerante e copinhos de chá mate. Peguei um de cada e depositei a refeição sobre o balcão.

- Comer sozinha não tem graça... – murmurei desgostosa. Mas, não podia acordar ninguém somente para satisfazer um desejo meu.

Observei a casa e vi a sala. Peguei tudo e acomodei nos braços da melhor forma possível. Iria ver um filme ou simplesmente assistir tevê enquanto comia.

Joguei a comida sobre o sofá e coloquei as bebidas no chão. Peguei o controle e me deitei entre as almofadas vermelhas, beges e pretas. Coloquei uma “cor de sangue” atrás da cabeça e liguei a tevê, tomando o cuidado de manter o som baixo.

Abri o pacote de salgadinhos e comecei a comilança. Os programas passavam diante de meus olhos sem que eu realmente os visse. Olhei ao redor e reparei no quanto a sala era grande e linda, com paredes em tons avermelhados e, ás vezes, alaranjados.

Aprovei a decoração de meus tios e voltei a olhar para a tela plana na minha frente. Deveria ser delicioso ver filmes naquela televisão enorme, pena que eu não me sentia no clima para isso.

Minha cabeça viajava para o ocorrido de algumas horas antes. O que realmente havia acontecido comigo? Minha memória parecia embaralhada, alguns pontos estavam embaçados e eu não conseguia me concentrar por muito tempo neles, chegava a sentir vertigem se o fizesse.

Tomei alguns goles de refrigerante e suspirei desgostosa. Era horrível aquela sensação de não conseguir se lembrar das coisas, mesmo sentindo que elas estivessem ali na sua cabeça, escondidas em um cantinho, prontas para saltar a qualquer momento, lhe torturando de curiosidade e frustração até decidirem aparecer.

Parei em um canal qualquer, parecia estar passando um filme de ação, contudo, eu continuava não prestando atenção. Fui comendo, bebendo, pensando e suspirando até sentir os meus olhos pesarem. Olhei para os saquinhos vazios e senti sede. O refrigerante e o chá também tinham acabado.

Espreguicei-me e levantei devagar. O filme parecia já ter mudado, agora passava uma comédia. Desliguei a tevê e voltei até a cozinha, carregando comigo os restos do meu lanchinho noturno.

Joguei tudo fora e procurei por um copo para me servir um pouco d’água. Abri algumas portas até encontrar o que eu queria. Assim que fechei porta de um dos armarinhos, quase gritei de susto. Parado logo ao meu lado, me observando com atenção, estava Rafael.

- O que você está fazendo aqui? – sussurrei irritada. Meu coração parecia ainda estar preso na garganta por causa do sobressalto.

- Ouvi alguns barulhos e vim ver o que era. – explicou, também sussurrando. – O que está fazendo acordada, Lara?

Tempos de ApocalipseWhere stories live. Discover now