Capítulo 03: Mistérios demais

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Acordei um tanto atordoada. Estava deitada na minha cama macia, coberta por três cobertores grossos. Tia Beca estava sentada em um banquinho branco, logo ao lado do colchão. Ela me encarava com olhos cansados e atentos.

- Larinha! – quase gritou quando me viu observando-a. – Você finalmente acordou, meu bem! – encheu-me de beijos.

- O que aconteceu? – ainda me sentia desnorteada.

- Você se distraiu e acabou caindo na piscina. – ela segurou a minha mão com força.

Tudo o que me acontecera antes voltou em uma enxurrada de detalhes. Lembrar-me da sombra, fez com que estremecesse.

- Os meninos cuidaram de você e me ligaram. Quando eu cheguei, eu mesma te dei um banho quente. Depois o seu tio me ajudou a colocá-la na cama.

- Eu apaguei... – a afirmação mais pareceu uma pergunta, pois minha tia acabou respondendo logo em seguida.

- Sim, você apagou. – suspirou. – Acho que você estava mais cansada do que imaginávamos.

- Por quanto tempo? – me mexi desconfortável na cama.

- Acho que umas duas horas. – alguém bateu na porta. – Entre!

Meu tio surgiu devagar. Ele sorriu alegre e aliviado quando me viu acordada. Em três passadas largas ele alcançou minha cama e segurou a minha mão livre.

- Que bom! Você já acordou! – me acariciou o rosto. – Como está se sentindo.

- Um pouco zonza. – tentei sorrir para tranquiliza-los. – Mas, estou bem!

- Os meninos estão preocupados com você. – apontou para a porta. – Estão todos no corredor esperando por noticias suas.

- Então, lhes diga que estou bem.

- Eles podem entrar? – me lançou um olhar cuidadoso.

- Acho melhor não. Ainda estou meio fraca e vê-los pode me deixar ainda mais tonta, sabe... – voltei a me remexer debaixo das cobertas, totalmente desconfortável.

- Sei! – Rebeca riu alto, deixando a gargalhada chacoalhar-lhe o corpo. Essa reação exagerada me fez ficar extremamente corada. – Darei o recado a eles.

- Vamos deixá-la descansar um pouco mais, Larinha. – Marcelo deu dois tapinhas leves sobre minha cabeça e se afastou junto com minha tia.

- Obrigada por cuidarem de mim.

- É um prazer, querida. – Rebeca sorriu carinhosa.

- E também agradeça a eles por terem me ajudado. – acho que tinha voltado a gaguejar.

- Claro! – Marcelo parou e acenou antes de apagar a luz e deixar apenas uma fresta aberta da porta.

Eu queria meditar sobre o que me acontecera antes, no entanto, o cansaço me venceu e avassaladoramente me fez voltar a dormir como um bebê.

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Quando acordei novamente, já era noite e a casa estava silenciosa. Empurrei os cobertores para longe e respirei fundo, aliviada e livre do peso deles. Fui até o interruptor e acendi a luz do quarto. Sempre achara a noite linda, contudo, nunca gostara da escuridão. Vai entender...

Olhei para mim mesma e reparei que estava vestindo uma larga camisola, a julgar pelos detalhes delicados e rendas, deveria pertencer a minha tia. Suspirei e passei os olhos pelo quarto. O banquinho sobre o qual Beca estava, agora possuía um roupão de lã grosso e roxo. Peguei a peça e a vesti antes que o corpo começasse a se queixar do frio. A lã me aqueceu quase instantaneamente.

Tempos de ApocalipseWhere stories live. Discover now