-Eu costumava passar um tempo aqui. –o vampiro demonstrou apreciação por aquela varanda.

Eu não iria dizer como eu também passara tempo ali, pois estava estimulada demais a descobrir seus objetivos com a visita a mim, já que ainda não podia ler a mente dele.

Enquanto Ethan ainda estava de costas, analisei seu perfil. Ele se tratava de um vampiro alto e musculoso, não tanto quanto a Emmett. Imaginava que seus cabelos lisos e castanhos, arrumados em um topete levemente curvado para o lado direito, facilmente fariam o contraste perfeito a seus olhos azuis acinzentados, juntamente a pele branca como mármore de vampiro. Isso eu imaginava ver se ele se virasse para mim.

-O que faz aqui? –questionei o fazendo virar-se e “Bingo!”, estava certa.

-Eu vim pedir desculpas pelo modo como falei com você, há uns dias.

-Então realmente não gosta de desestimular as pessoas? –fora uma pergunta irônica, o que o fez sorrir brevemente.

-Não. Só sou um pouquinho realista demais às vezes.

-Certo. –dei o assunto por encerrado.

Ethan não se moveu. Ele irritavelmente continuava me observando. Eu estava prestes a sair para passear na floresta, escalar montanhas, qualquer lugar que me tirasse dali.

-Você quer conversar sobre o passado? –minha feição enrubesceu quando ouvi proferir tal pergunta– Aquele que guarda nessa gaveta. –apontou para minha gaveta de lembranças sólidas.

Olhava nos olhos de Ethan tentando imaginar o motivo da sua pergunta e devia ter ficado assim por um minuto inteiro. Não teria como ele estar preocupado ou algo do tipo, pois eu mal o conhecia. Ethan era direto em suas palavras, pelo que eu havia percebido, mas querer conversar sobre um passado ruim devia ser algo além de sua personalidade. Então me veio a única alternativa plausível e logo óbvia: ele não tinha conhecimento do potencial do meu passado sobre mim.

-Não quero. –depois da minha resposta, desliguei o gramofone rapidamente e corri até parar no chão do início do terreno florestal, atrás da casa dos Cullen.

Eu realmente não pretendia ser amigável com Ethan. Além dos Cullen e, provavelmente, dos Quileutes, não tinha a intenção de arrumar mais preocupações.

Andei a passos humanos até não sentir mais nenhum rastro de civilização ou pessoas. Olhei para o alto de um pinheiro ao meu lado e logo subi até o topo deste. Achei um galho bom para poder sentar e sentei. O pinheiro em que estava se localizava no alto de um morro e, sendo assim, eu tinha a visão de várias outros morros até chegar às belíssimas montanhas cobertas parcialmente pela neve. No céu apareciam poucas nuvens lentamente carregadas pelo vento. Fechei meus olhos e inspirei profundamente, para sentir o cheiro da natureza ao meu redor.

-Às vezes conversar sobre o passado é bom. –surgiu uma voz ao meu lado, me assustando ao ponto de eu me desequilibrar e quase cair, se não fosse o dono da voz ter segurado meu braço no momento.

Olhei atordoada para o autor do meu susto.

-Da onde você surgiu?! –perguntei a Ethan, logo me equilibrando em meu galho novamente e tirando a mão dele do meu braço.

-Digamos que eu sou muito bom em ser discreto. –falou com um sorriso que simbolizava enaltecimento –E a propósito, de nada. –se referiu a não me deixar cair.

-Claramente, perdoe-me por não agradecer o fato de você quase me deixar rolar por galhos até eu me encontrar com chão sólido e sujo. –ironizei. Eu não o agradeceria por consertar seu erro a tempo.

-Perdoada... –sorriu para mim e eu revirei os olhos, por fim voltando minha visão a vista a minha frente. –Mas não iremos fugir do assunto...

-Eu não quero conversar sobre o meu passado com você. –indaguei seriamente, tentando fazer com que ele entendesse a gravidade do que se estava referindo.

-Por que não?

-Porque não. –estava começando a ficar estressada.

-Você ainda está presa a perda de Phillip. Sabe, sei que vou parecer franco, eu realmente sou, mas aconteceu em mil setecentos e seten...–aquele nome dito era como uma chave. Referir-se a pessoa do meu passado era como uma porta. Junte as duas e destranque a passagem para o que eu havia guardado por anos. –Você não pode engolir isso para sempre. É suicídio imortal.

-Não se aproxime de mim novamente ou eu arranco a sua cabeça. –foi o que consegui falar antes de pular do topo do pinheiro e seguir correndo para qualquer direção.

Não, não foi uma atitude adulta, muito menos uma atitude pensada. Mas eu simplesmente não conseguia controlar. O que ele dissera trouxe novamente as lembranças mais felizes da perda mais cruel. Com o tempo, até as felizes traziam dor. Ethan não entendia. Como poderia entender? Ele não sentiu o que eu senti. Sua franqueza era sem limites e, naquele momento, eu sabia o que aquela ilimitação havia me trazido de volta.

“Está tudo bem, vai passar.”

Só parei de correr quando senti o frio e percebi que estava quase no alto de uma das montanhas parcialmente cobertas de neve.

“Controle-se”, ordenava a mim mesma em pensamentos. “Não seja imprudente, não...”.

“-Amor, eu te amo.”

-Por favor... –sussurrei agarrando meus cabelos com as duas mãos.

“-Por favor Phillip, não me deixe!”

-Não... –mal senti quando encostei meus joelhos ao chão gelado, cobrindo-os com neve.

Meu peito sufocava. Eu queria gritar. Queria explodir. Eu já havia passado milhares de vezes por aquilo. Eu iria me controlar. Eu sabia que conseguiria, mas isso não aniquilava a dor. Não iria conter as agulhas perfurando meu coração, a cada lembrança. Deitei-me de lado, abraçando meus joelhos, esperando que aquela crise passasse.







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