Capítulo 10 - O meio

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Antes da cena chegar ao seu fim, antes de o suposto último incômodo e inimigo familiar poder chegar em seus instantes finais, a dor dos olhares caiu ao chão com Rael. Ele se misturou ao sangue que já percorria aquela pista e, nessa altura, ninguém estava mais preocupado em saber se era de algum policial ou de um vizinho. Naquele ponto de vista, no meu ângulo em que acompanhei bem essa visão, poderia dizer ser o adeus do meu amigo, todos nós sabíamos disso, sabíamos que ele não seria abençoado a não continuar e virar uma besta daquelas, não fomos contemplados pela glória de Deus até agora e creio que não seremos até o momento de nossa morte, pensando bem, esse seria o momento certo por uma intercessão. A sua queda ao chão não fez seus olhos observarem o que acontecera em seguida, tudo o que contemplou foi sua visão embaçada e um calor desgraçado, como se lavas de um vulcão corressem nas veias, substituindo o sangue. O desmaio estava cada vez mais próximo, porém ele conseguiu ouvir bem o uivo vindo de longe, mas não contemplou a rapidez de seu irmão em puxar e deixar cair algumas balas de prata ao chão, o carregar foi rápido, o mirar foi instantâneo e o disparar foi certeiro, não foi covardia, nem um pouco, o animal aceitou a morte quando agora percebeu a blindagem ter sido ultrapassada. O impacto foi tremendo, o empurrou diretamente às grades da falecida senhora Lena, que já havia perdido boa parte de seus membros. Com as demais vítimas, era um nojento trabalho procurar agora nas canaletas. A fera encolhida e medrosa tornava-se novamente a se transformar em pequenos relances no garoto encaracolado. Sua transformação parecia estar chegando ao fim da maneira que ele menos esperava, inteligente como pensava, mas talvez a sensatez se vá quando se ganha garras assassinas e outra forma. O mais velho dos presentes se encaminhou até o animal, um lamento foi jogado de sua narina, shotgun na face do licantropo, dedo no estopim e uma última frase dita pelo animalejo.

— Perdoe minha família, amigo. Perdoe meu pai, perdoe a mim. — A voz sólida se modificava entre alguém rouco e alguém que, bom, não estava totalmente em si… — E perdoe minha nobre mãe que terminará o meu trabalho. — Elevando sua cortesia sorridente, ele se despediu com uma cena que só de me lembrar faz o vômito subir um pouco a garganta. De fato, retirando apenas Luke, todos nós vomitamos próximos ao outro. A nojeira se tornou maior com aqueles olhos, cérebros, chuto eu, massa encefálica, partes brancas do cérebro que não sei o que seja e afins, o que sobrou do corpo apenas ficou preso nas grades. As balas eram realmente potentes, não sei o porquê de Luke não ter utilizado antes.

— Isso nunca tem fim? — Pelejou.

— Qual sentido disso? — Perguntou, espantada, Lílian. — Qual é a droga desse sentido? O que está acontecendo?

— Acalme-se, garota!

— Quem é você para me mandar ficar calma? Você poderia ter terminado isso rápido, mas deixou seu irmão morrer por puro capricho.

— Não diz isso, Lílian.

— Você sabe quem é, Rael! Ele poderia ter matado essa desgraça de uma vez.

— Já foi, é isso que importa.

— Não! Não é tudo o que importa, sempre que aparece uma coisa dessa, um de nós se vai, já se foi a Alana, agora será você e, por fim, será um de nós três, ou você não ouviu o que ele acabou de falar? SORRINDO! Debochando de nossa cara! Você vai me pedir para ficar calma agora? Tira a mão de mim, CAIO! Eu não quero ficar CALMA! 

— Ninguém mais vai morrer aqui, garota, fique quieta de uma vez. Essa altura, até o papa sabe o que se passou aqui.

— É nisso que confia? — Se intrometeu Caio.

— É! Sinceramente, é a melhor oportunidade de ajuda que poderíamos ter.

— A única coisa que imagino é que eles terminarão de nos matar!

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