Capítulo 7 - Último sussurro

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7:12, terceiro dia do plenilúnio.

Uma pouca movimentação se fazia presente nas vagas do estacionamento daquele hospital, apenas alguns enfermeiros saíam para fumar juntos e conversar algo sentados na mureta. Os dois irmãos saíram de dentro do carro após subir a rampa de acesso e ao lado avistaram uma viatura estacionada, logo imaginou Rael que teria problemas em visitar sua amiga. Ele estava certo, de cara foi barrado pelos dois policiais que faziam a custódia à frente da porta assim que pediram permissão na recepção, mesmo mencionando ser amigo dela ele não conseguiu êxito, sua esperança só não foi tomada porque Alana estava acordada e avistou pelo vidro transparente o seu amigo argumentando. Um barulho na porta foi ouvido e a maçaneta girou. Sem dizer absolutamente nada, ela fez um gesto para que os dois entrassem e, sem perder tempo, Rael a abraçou com tanta força que a quase derrubou em cima da cama.

— Você está... Está bem? — Rael agora reparou uma espécie de toalha grossa enrolada em seu pescoço, mas logo percebeu se tratar de um curativo.

— S... sim, — Disse surrando e com muito esforço a jovem, que de imediato assustou o garoto.

— Você consegue falar?

— Um... pou... co...

— Suponho que ela não pode se esforçar, Rael. — Disse Luke.

— Vamos fazer assim, você só balança a cabeça para afirmar e para dizer não, ok? — E com um gesto de positividade ela começou.

— Esse é o meu irmão Luke, lembra?

— Prazer, Alana! — Com um sorriso bonito, ela os convidou a se sentar na poltrona e, de imediato, Luke aceitou.

— Não parei de pensar em você, só imaginando o pior. Você viu o Caio? A Lílian veio aqui? — Novamente com um aceno positivo, ela continuou.

— On... tem...

— Eu quero que você me perdoe, eu deveria ter feito mais para lhe proteger. — Mais um peso saía de sua mente ao falar aquelas palavras, encarando a forte luz branca do quarto.

— Não... Se desculpe. — Um grunhido seguido de tosse foi feito pela garota após sentir uma enorme dor em sua perfurada garganta.

— Por favor, não esforce. — Falou depressa ao se aproximar e observar o olhar de preocupação de seu irmão. — Com um suave abraço, ele continuou. — Não vou mentir para você, talvez alguém venha terminar o que aquele velho maldito começou, os polícias são mais que bem-vindos, então o seu trabalho é só ficar aqui, ok? — Não vou abusar mais, irei te deixar descansando, só preciso saber se seu pai acreditou em você. — E para sua surpresa, um sinal de negação foi feito.

— Não!? — Perguntou espantado. — Não precisa justificar, tá? Talvez eu também não acreditasse... Vou procurar o Caio e ver como ele está, se cuida, ok? Dentro de uns dias isso vai acabar...

— Não se sinta assim... A culpa... não é sua... — Com todo esforço que conseguiu juntar, ela tentou confortar seu amigo que transpirava tristeza em jeito e em seu olhar.

Se aproximando dela e afastando um pouco seus cabelos cacheados, ele depositou um beijo em sua testa e fez sinal para seu irmão se levantar. Os dois saíram pela porta, mas uma mão familiar o impediu disso. Ainda colocando sua reação em dia, ele recebeu também um breve beijo, porém em seus lábios.

— Se cuida! — sussurrou a garota antes de fechar a porta em seu rosto. Embora ela ainda estivesse correndo algum risco, essa atitude deixou-a tranquila por enquanto.

— É isso que eu chamo de sorte. — Sorriu Luke. — Donde vamos agora?

Mesmo que seus pensamentos estivessem ligados a preocupações internas e mais que nunca estivessem sobrecarregados de feitos nunca ditos ou exercido e estivessem em uma viagem dimensional em seus sentidos, o suficiente para se acusar em uma crise existencial, de qualquer forma e de toda maneira instintiva isso foi possível, a figura do jovem garoto de curtos cabelos cacheados entrando ao hospital, nenhuma dúvida era deixada aos dois irmãos ao observarem o amargo olhar amarelado, como olhos de gatos que estivessem saboreando o seu prato feito a sua espera, atravessando a porta de entrada em sentido contrário e deixando despercebido uma expressão de curiosidade ao mais alto dos irmãos.

— Vamos à casa do Caio.

— Vamos. — Disse Luke, desconfiado.

Rua 30 de fevereiro 8:00.

Você se lembra do dia em que corríamos pelas escadas do parque Nazário? Você me derrubou sem querer sobre o escorrego, eu perdi meus dois dentes de leite e chorei igual a cachorro recém-nascido. Eu pensava que meus dentes nunca mais iriam crescer e eu iria ficar banguela para sempre, fiquei com raiva de você por semanas, só voltei a sorrir para ti no dia em que vi meus dentes saindo da gengiva... — Não vai me dizer que está irritado? Foi só uma peça de teatro. — Você sabe que eu gosto da sua presença...


— HEIN!?

— Quê?

— Está pensando no beijo ainda? Acorde! É aqui a casa de amigo?

— É...

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